Título: BC vê emprego e renda como ameaças
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Finanças, p. C2

O crescimento do emprego e da renda são apontados pelo Banco Central, pela primeira vez, como um dos principais riscos ao cumprimento das metas de inflação. Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada ontem, a autoridade monetária expressa preocupação por esses dois fatores terem provocada uma expansão da demanda agregada maior do que o previsto, o que poderia provocar um desequilíbrio com a oferta agregada, pressionando a inflação. Usando seu habitual jargão, afirma que "há possibilidade de que os fatores de autopropagação (leia-se emprego e renda), que estão adquirindo importância crescente na sustentação do processo de crescimento, impulsionem a demanda agregada mais do que o previsto" pelos membros do Copom. Desde setembro, o BC vinha repetindo que o crescimento da economia estaria, daqui por diante, cada vez mais apoiado na recuperação do emprego e da renda. No período anterior, o principal estímulo era o aumento do crédito na economia, que foi impulsionado pelo relaxamento da política monetária implementado entre 2003 e início de 2004. Nessa primeira etapa, a economia foi puxada principalmente pela venda de bens duráveis, que são sensíveis ao crédito. Em setembro, o Copom assinalou que o emprego e a renda começavam a alavancar a economia, favorecendo a venda de bens semiduráveis não-duráveis. Até agora, a crença do BC era de que, nesse novo contexto, o crescimento registrasse uma natural desaceleração. Na ata divulgada ontem, o BC expressa a preocupação de que a recuperação do emprego e renda puxem a economia mais do que o esperado inicialmente. E faz todo um discurso sobre as dificuldades de prever, com precisão, os efeitos dos aumentos da renda sobre a atividade econômica - "em especial pelo fato de no período recente não ter havido no país experiência de crescimento sustentado" da economia. O BC também registra sua preocupação com a resistência dos índices de inflação. A ata diz que esse fenômeno pode ter duas explicações: 1) a inflação se tornou mais resistente à política monetária no contexto atual, em que salários e renda ganham importância na demanda agregada; 2) os efeitos da alta de juros ainda não se fizeram sentir totalmente na atividade econômica, e seria necessário esperar mais. De qualquer forma, esses dois fatores - o crescimento da emprego e renda e a maior resistência da inflação - ainda são vistos pelo BC como riscos potenciais. Ou seja, ainda não foram incorporados aos modelos centrais de projeção do BC para os índices de inflação, que incorporam as hipóteses mais prováveis. A boa notícia é que, abstraindo esses fatores de risco potencial, as projeções de inflação melhoraram. Na ata, o BC não explicita os números projetados - mas informa que, mesmo antes do aumento dos juros de 17,75% para 18,25% ao ano, a inflação projetada para 2005 havia recuado em relação aos 5,3% estimados em dezembro. Contudo, afirma o documento, mantinha-se mais elevada do que a meta de 5,1% para o ano. Segundo o Copom, a apreciação da taxa de câmbio (de R$ 2,75 para R$ 2,70), a alta dos juros futuros e a queda nas expectativas inflacionárias para 2005 (5,78% para 5,7%) mais do que compensaram a elevação da inflação de dezembro.