Título: Meirelles insiste na "inflação na meta"
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desembarcou ontem em Davos, na Suíça, martelando a mensagem de que estabilidade é precondição para o crescimento econômico e que uma reversão do aperto monetário, para baixar os juros, vai depender do comportamento da inflação nos próximos meses. Enquanto no Brasil o mercado interpretava a ata do Copom como indicação de mais alta de juros, Meirelles não fez esforços para dizer o contrário: "A sinalização importante dada pelo Banco Central é que queremos criar um crescimento sustentável, para que o Brasil cresça este ano e nos próximos, e para isso precisamos de estabilidade, de inflação na meta´´. Meirelles não quis comentar recente advertência atribuída ao presidente Lula a empresários sobre remarcações de preços. Tambem evitou designar de onde está vindo a pressão inflacionária. Enquanto as criticas não cessam de aumentar sobre um nível de juros acusado de frear o crescimento, e defrontado a exemplos como o da Turquia, que cresceu 9% com inflação de 8% ano passado, Meirelles retrucou com o exemplo da China, que cresceu 9,5% com inflação de 4%. "Os países crescem em função de uma série de condições, como de crescimento potencial mais elevado, taxa de poupança etc. Não podemos tentar escolher exemplos que levem a conclusões equivocadas", argumentou. Insistiu que na história recente não ha exemplo de crescimento com inflação alta. "Esse debate entre estabilidade e crescimento é falso. Inflação não leva a crescimento." Ele mostrou-se tambem tranqüilo sobre consequências políticas do aperto. "Um banco central não pode fazer uma sinalização e achar que todo mundo vai celebrar, porque pode preocupar algumas pessoas´´, comentou. ´´Temos que nos focar nos resultados e até agora eles mostram que o BC tem adotado politica monetária adequada para o Brasil." Indagado se a receita atual vai atingir o objetivo de crescimento para os próximos anos, usando um remédio que muitos consideram muito fortes, inclusive por causa da questão dos preços administrados, Meirelles foi sucinto. Reconheceu que que os preços administrados crescem mais, mas os preços livres tambem sobem. E lembrou que a definição da meta da inflação já leva em consideração todos esses fatores. Para Meirelles, os juros altos não estão afetando o crescimento, tanto que a formação bruta de capital no pais esta crescendo de ´´maneira importante e por isso temos expectativa de crescimento de 4% este ano´´. Sobre recentes rumores de que deixaria o BC até setembro, para preparar seu retorno à política, disse, bem-humorado, que seus planos "no momento" sao de cumprir a meta de inflação.