Título: Emissões domésticas podem ser afetadas
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Finanças, p. C2

A recuperação das emissões no mercado doméstico pode ser prejudicada caso os juros subam acima dos 20%. A previsão é de Luiz Fernando Azevedo Resende, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). No ano passado, as captações das empresas no mercado doméstico (ações e renda fixa) bateram em R$ 21,5 bilhões, o dobro de 2003, segundo balanço divulgado ontem pela Anbid. Já as emissões no mercado externos caíram 38%, para US$ 14,6 bilhões. Para este ano, a previsão da Anbid é de que as emissões fiquem, no mínimo, no mesmo nível de 2004. Resende ressalta, porém, que uma alta excessiva dos juros pode comprometer as captações. Para ele, os aumentos da Selic até agora foram necessários. "O Banco Central não pode perder o controle da inflação."

Com a economia crescendo em torno de 4% este ano, Resende acredita que o mercado de capitais deve seguir como uma das principais fontes de financiamento para as empresas. "As indústrias estão operando perto da capacidade instalada. Elas terão que investir para produzir mais e o mercado de capitais será a saída para buscar recursos." O mercado doméstico, na opinião de Resende, continuará sendo o preferido pelas empresas em 2005. "O grande fator que levava as companhias a captar no exterior eram os prazos", afirma. "Agora, elas estão conseguindo captar aqui com prazos mais longos e taxas mais baixas", diz. Um dos destaques em 2004 foram os lançamentos de ações. As emissões primárias totalizaram R$ 4,5 bilhões, montante bem superior aos R$ 230 milhões de 2003. Já as distribuições secundárias passaram de R$ 2,5 bilhões, em 2003, para R$ 4,8 bilhões no ano passado. As operações totais com ações (secundárias e primárias) subiram 241%. O Pactual foi o mais ativo nos lançamentos de ações, segundo o ranking da Anbid. O banco distribuiu R$ 2,6 bilhões em ações no mercado (43,9% do total de recursos movimentado) em 2004; em seguida aparece o UBS (com 9,6%) e o Unibanco (com 8,9%). Pelo critério de número de operações coordenadas, o Pactual também foi o primeiro no ranking: participou de 11 operações, de um total de 15 realizadas; o Unibanco participou de cinco e o CSFB de três. Para 2005, a previsão da Anbid é que o mercado acionário continue aquecido. As empresas já começam a se movimentar. O Unibanco está fazendo a primeira operação do ano, de R$ 740 milhões. A América Latina Logística (ALL) começa em março sua segunda venda de ações em menos de um ano. Na renda fixa, o Itaú BBA lidera o ranking dos lançamentos (que inclui vários papéis, como debêntures e commercial papers) em 2004, com distribuição de R$ 3 bilhões (25,5% do total), seguido pelo Bradesco (20,1%) e Banco do Brasil (8,5%). Em número de operações, o Bradesco e o Itaú BBA dividem a liderança, com a coordenação de 19 lançamentos cada. No mercado local, o setor de tecnologia da informação (TI) e telecomunicações foi o que mais captou, ficando com 19,74% do total de recursos captados. Em seguida, vem energia elétrica (15,44%) e o setor químico e petroquímico (13,63%). No mercado externo, o balanço da Anbid mostra uma queda no volume captado, mas registra um alongamento dos prazos dos papéis. O ranking dos bancos que mais coordenaram lançamentos públicos e privados de papéis de renda fixa é liderado pelo Citigroup, que colocou US$ 3,3 bilhões, seguido pelo Deutsche, com US$ 2,4 bilhões. Para a Anbid, a queda de 38% nas captações externas pode ser explicada por alguns fatores, entre eles, a alta dos juros nos Estados Unidos, o aumento dos preços do petróleo, além da guerra e a instabilidade política no Iraque.