Título: Ações de bancos sobem com a previsão de ganho maior com títulos públicos
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Finanças, p. C2

As ações de bancos foram, em sua maioria, na direção contrária do mercado de ações, ontem, impulsionados pelo sentimento dos investidores de que o setor financeiro é o maior beneficiado no cenário de juros elevados traçado na ata da última reunião do Copom. Enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou com baixa de 2,04%, as ações preferenciais do Itaú caíram menos, 1,56% para R$ 377,99; e as ordinárias do Banco do Brasil perderam 1,75% para R$ 30,83. Mas, as preferenciais do Bradesco e as units do Unibanco até subiram, 1,05% e 1,29%, respectivamente, para R$ 62,15 e R$ 15,70. O analista de bancos do ING, Pedro Guimarães, elevou o preço alvo dos bancos brasileiros após a leitura da ata. Guimarães explicou que o ING elevou a expectativa de taxa Selic de 17,4% para 18,5% neste ano; e de 15% para 16% em 2006. Diante disso, o analista está prevendo receitas maiores para os bancos por conta do ganho das carteiras de títulos. "Apesar de terem ampliado a carteira de crédito no ano passado, os bancos brasileiros são os que mais aplicam em títulos públicos na América Latina", disse. O ganho não é igual para todos, observou. Por isso, o preço alvo do Itaú, "que tem menos foco no consumo", disse o analista, subiu mais, 10%. A alta dos juros vai afetar o crédito para o consumo. Banco do Brasil e Bradesco tiveram o preço elevado em 2,5% e 6,1% porque são beneficiados pelo funding mais barato. Já o Unibanco teve o preço alvo ampliado em 1,5% porque enfatiza o financiamento ao consumo. Guimarães afirmou que os preços só não subiram mais porque os bancos terão que aumentar a aplicação em crédito imobiliário, reduzindo os recursos direcionados para títulos (ver página C8). Embora tenha concordado que a recuperação do crédito para a pessoa física possa ser afetada pelo aumento da taxa de juro, o presidente da Associação das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Erico Sodré Quirino Ferreira, acredita que o impacto será pequeno. "Não ouvi uma palavra sobre alta dos juros nos últimos 15 dias, em que percorri 2,5 mil quilômetros pelo interior do Paraná e Santa Catarina", afirmou Sodré, por telefone, de Crisciúma, em viagem para visitar as lojas de sua financeira, a Omni. Especializada no financiamento de veículos usados, a Omni acaba de concluir captação de R$ 130 milhões, com o lançamento do seu segundo fundo de recebíveis. O primeiro captou R$ 80 milhões no ano passado. Sodré manteve a previsão de ampliar a carteira de crédito entre 20% e 30% neste ano, mesmo com a elevação dos juros. O Banco JP Morgan também prevê bons resultados para os bancos brasileiros em estudo ontem divulgado avaliando o setor financeiro da América Latina. "A combinação de uma robusta expansão do volume de crédito e de maiores taxas de juros é muito positiva para o crescimento", acrescentou. O JP Morgan antecipou mais reduções de custos dos bancos brasileiros, o que deve fortalecer os resultados.