Título: Para exportador, commodities em alta compensam a queda do dólar
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, Finanças, p. C2

NELSON PEREZ/VALOR O economista Fernando Ribeiro, da Funcex: "Recuperamos o cenário otimista para o comércio exterior" Os exportadores brasileiros comemoraram o corte de 0,5 ponto, para 4,75% ao ano, nas taxas básicas de juros dos Estados Unidos. A medida favorece a manutenção ou até leve aumento do preço das commodities exportadas pelo país, porque conserva a demanda mundial aquecida.

"Manter as cotações das commodities, que estão altas, já é um ótimo negócio", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior. Ele ressalta que as exportações brasileiras são dependentes das commodities, que representam 65% do total. Esse percentual é expressivo, porque produtos como suco de laranja e açúcar, apesar de classificados como manufaturados, são vendidos como commodities.

As cotações das commodities agrícolas devem se manter no atual patamar, mas as metálicas podem subir ainda mais. De acordo com Júlio Callegari, economista do JP Morgam, as negociações globais sobre o preço do minério de ferro entre mineradoras e siderúrgicas indicam mais uma alta de 20%.

"Recuperamos o cenário otimista para o comércio exterior", diz Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Apesar da valorização do real, os analistas projetam uma leve queda do saldo comercial do país dos US$ 46 bilhões de 2006 para algo entre US$ 39 bilhões e US$ 44 bilhões esse ano.

O câmbio foi a má notícia de ontem para os exportadores de manufaturados. Após a decisão do Fed, o dólar fechou a R$ 1,877. Para Ribeiro, a força da moeda brasileira reduz a competitividade dos produtos industrializados, mas é apenas "mais do mesmo". "O efeito positivo é maior que o negativo para as exportações", afirma Castro.

Na avaliação de Ribeiro, o corte arrojado dos juros americanos corrobora com a expectativa de uma desaceleração suave para a economia americana nos próximos meses. O banco JP Morgam projeta crescimento anualizado do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 3% no terceiro trimestre e 1,5% no quarto, após registrar 4% no segundo trimestre. "A economia americana atinge o fundo do poço nesse final de ano", diz Callegari, que projeta recuperação em 2008.

Se os EUA apenas desacelerarem e se mantiverem longe da recessão, a tendência é que o efeito nas demais regiões do mundo seja reduzido. Callegari lembra que a China está crescendo bastante e experimenta uma forte inflação no preço dos alimentos, o que pode estimular as importações de produtos agrícolas, favorecendo o Brasil. "A decisão do Fed deixa distante o cenário de que o mundo entraria em recessão bem na hora que o Brasil começou a crescer", diz Ribeiro, da Funcex. O PIB brasileiro cresceu 4,9% no segundo trimestre em relação a igual período de 2006.