Título: Economistas temem real valorizado
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, Finanças, p. C2

A redução dos juros americanos é uma boa notícia para a economia brasileira, por diminuir os riscos de uma recessão nos EUA e também no resto do mundo, mas pode voltar a acentuar a valorização do real, dizem economistas como Yoshiaki Nakano, Luiz Carlos Bresser Pereira e Antonio Delfim Netto. A questão é que o diferencial entre os juros brasileiros e os americanos voltou a aumentar.

Para Bresser, ex-ministro da Fazenda, a decisão do Fed mostrou o compromisso da autoridade monetária americana com o emprego. "O Fed não quer deixar que a economia americana e a economia global vão por água abaixo", disse Bresser. Segundo ele, o BC americano tem compromisso com o controle da inflação, mas quer evitar a todo custo que o país passe por uma recessão. Para o Brasil, a notícia é positiva, afirmou, por diminuir a possibilidade de recessão global. Bresser entendem que a decisão do Fed deixa mais longe o risco de uma crise financeira mais ampla no mercado internacional.

Nakano, o diretor da Escola de Economia de São Paulo, também avalia que o corte do Fed é positivo para o Brasil. "A notícia é boa e fica até difícil para o BC brasileiro não baixar os juros", disse. Na ata da reunião mais recente do Comitê de Política Monetária, o BC sinalizou que a trajetória de corte da taxa Selic, iniciada em setembro de 2005, está perto do fim.

O efeito colateral do corte do Fed é a possibilidade de que o câmbio volte a se valorizar. Para o ex-ministro Delfim Netto, o fluxo de capital para o Brasil provavelmente vai aumentar, já que o diferencial entre os juros brasileiros e os americanos voltou a subir. "O Brasil é o último peru disponível no mundo", disse ele, referindo-se à atratividade do nível dos juros no país, muito mais altos do que na maior parte do mundo. Bresser e Nakano manifestaram a mesma preocupação de Delfim. Os três participaram do Fórum de Economia realizado pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

Delfim e Nakano notaram ainda um lado mais problemático da decisão do Fed: o de reacender o chamado risco moral, a possibilidade de que os investidores assumam riscos maiores do que o recomendável, devido à perspectiva de que o BC salve o mercado em momentos de dificuldade. "Isso certamente melhora a situação, aumenta a liquidez e tranqüiliza os mercados, mas consagra tudo aquilo que eles combatiam", disse Delfim.