Título: UE quer desenvolver projetos de inovação com o Brasil
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Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, B2, p. A2

A União Européia quer usar parte de seu orçamento de 53 bilhões de euros destinado a projetos de inovação, pequisa e desenvolvimento, nos próximos sete anos, para cooperar com o Brasil em ações de ciência e tecnologia como o uso médico e alimentício de propriedades da biodiversidade brasileira, o desenvolvimento de etanol à base de celulose e aditivos criados por nanotecnologia. Chega amanhã ao Brasil uma missão chefiada pelo diretor-geral de Pesquisa Científico-Tecnológica da Comissão Européia, José Manuel Silva Rodrigues, para discutir com o governo brasileiro projetos de cooperação conjunta nesse campo.

A chegada de Silva Rodrigues é apresentada pela Comissão Européia (o órgão executivo da UE) como uma demonstração do compromisso com a "parceria estratégica" firmada em maio com o Brasil, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal. Entre as ações sugeridas pelos europeus está o aumento do intercâmbio de professores e pesquisadores entre as instituições do Brasil e dos países da Comunidade. "O intercâmbio de pesquisadores é hoje muito limitado e pode avançar rápido, em grande quantidade", analisa o conselheiro de Ciência e Tecnologia da Delegação da UE no Brasil, Angel Landabaso.

Landabaso diz que os europeus vêem com atenção o aumento de qualidade nas universidades brasileiras que, lembra, têm cinco instituições entre as dez mais importantes universidades dos Brics (o grupo de economias emergentes de maior potencial, composto por Brasil, China, Índia e Rússia).

A missão chefiada por Silva Rodrigues discutirá com ministros, no Brasil, a concretização do acordo de cooperação científica e tecnológica ratificado em novembro entre o país e a UE. Esse acordo poderá resultar em concessão de passaportes de pesquisador para cientistas brasileiros transitarem e trabalharem na Europa, e na validação respectiva de diplomas de instituições dos dois parceiros, exemplifica Landabaso.

O Brasil, com o acordo, poderá acompanhar e até influenciar a formulação de editais para projetos do orçamento comunitário de 53 bilhões de euros em ciência e tecnologia nos próximos sete anos, diz Landabaso. O acordo lista 13 áreas de cooperação, entre elas saúde e medicina, biossegurança, tecnologias limpas, espaço e aeronáutica. "Não se trata de colaboração para o desenvolvimento, é discussão de projetos de interesse mútuo", esclarece Landabaso, ao enfatizar a importância das discussões entre os dois governos, a partir de amanhã.

Os europeus ofereceram aos brasileiros a possibilidade de participar como "observador" no projeto Iter, no qual os europeus e outros seis países (entre eles a Índia) colaboram para construir um reator movido a fusão nuclear, tecnologia ainda inédita, de menor ameaça ao meio ambiente que a tradicional fissão nuclear.

O Brasil, explica Landabaso, pode ter um papel fundamental no futuro "espaço europeu de pesquisas" concebido para coordenar os esforços de inovação e ciência na Europa. A busca de alternativas "limpas" de energia e produção industrial pode se aproveitar de pesquisas realizadas em conjunto com o Brasil, como a nanotecnologia no tratamento de materiais com aditivos dedicados à proteção ambiental. (SL)