Título: Com diagnóstico "antigo", FMI sugere corte ao Brasil
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, Finanças, p. C2

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou documento ontem em que afirma que há espaço para o Banco Central fazer novos cortes na taxa básica de juros. Essa avaliação, feita em um momento em que o BC acena justamente com o contrário - a interrupção no ciclo de redução da taxa Selic -, soou como censura à política monetária implementada no Brasil.

Na verdade, porém, o documento registra debates feitos pelo FMI em julho, com dados disponíveis em maio, portando antes do recente aceleração da inflação e do agravamento da crise internacional das hipotecas de segunda linha. Em julho, o próprio BC acreditava que havia espaço para cortes de juros, tanto que reduziu a taxa básica em 0,5 ponto percentual em reunião ocorrida naquele mês.

O documento cita como importante conquista a inflação de 3,2% acumulada nos 12 meses encerrados em maio. Em agosto, porém, o índice havia subido para 3,95%. A projeção de inflação do FMI para o Brasil é de 3,5%, segundo o documento. De la para cá, aceleração da inflação levou os analistas econômicos a projetarem uma alta de preços de 4,01%. O FMI espera um crescimento de 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB).

O texto divulgado ontem diz que os diretores do FMI, "embora reconheçam a necessidade de vigilância constante, acreditam que há espaço para novos cortes nas taxas de juros". O documento segue: "Nesse contexto, a expectativa de vários diretores é a de que pressões sobre recursos se mantenham contidas".

O documento divulgado ontem pelo FMI é o resultado das chamadas consultas do artigo VI, feita em tidos os membros. Uma equipe de técnicos visitou o país para recolher informações econômicas e financeiras e discutir a situação do país com autoridades locais. Depois, fez um relatório, que foi discutido em 30 de julho pelos 24 diretores do FMI, que representam os países-membros. O Brasil é representado pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., vinculado ao pensamento heterodoxo.

Por ser um documento discutido por um colegiado, os comentários às vezes são conflitantes. Um dos pontos que produziram opiniões divergentes é a política fiscal. "Num contexto de vigor da demanda privada e de dinamismo da arrecadação tributária, diversos diretores sugeriram que o governo poupasse a parcela de receitas que ultrapassasse as projeções orçamentárias", afirma o texto, descrevendo a posição dos diretores mais ortodoxos. Para eles, "a elevação da poupança do setor público aliviaria as pressões relacionadas à valorização da moeda, incorporaria um valioso elemento anticíclico à política fiscal e fortaleceria a sustentabilidade da dívida pública - o que ampliaria a margem para mais cortes de juros".

Alguns outros diretores, diz o documento, fizeram referência ao "excelente histórico em termos de desempenho fiscal e de redução dos coeficientes de endividamento" e "mostraram-se favoráveis à posição do governo de que as receitas adicionais poderiam ser usadas para reduzir a carga tributária e/ou aumentar os gastos em setores primários de infra-estrutura". O documento diz ainda que "vários diretores" defenderam a contenção dos gastos de gastos correntes.

Os diretores do FMI se mostraram menos divididos para "incentivar" as autoridades brasileiras a reduzir os depósitos compulsórios e para diminuir a taxa de remuneração da caderneta de poupança. "Com o rápido surgimento de novas oportunidades de financiamento para o setor empresarial, os diretores consideraram viável a possibilidade de cortar gradualmente a concessão de empréstimos dirigidos pelos bancos comerciais", afirma o texto do FMI.

Alguns dos diretores do FMI afirmaram que uma profunda reforma do sistema previdenciário é crucial para melhorar a posição fiscal do Brasil no médio e longo prazo. Um grupo defendeu maior liberalização comercial. "Os diretores instaram o país a ampliar as reformas trabalhistas e continuar a melhorar o ambiente de negócios, como forma de impulsionar a produtividade e o investimento", diz o FMI.