Título: A capital do EMPREGO
Autor: Braga, Gustavo Henrique ; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 16/01/2011, Economia, p. 15

Porto Velho (RO) ¿ Depois de viver ciclos de crescimento com as explorações de ouro e de borracha durante os séculos 19 e 20, Porto Velho experimenta nova explosão econômica, com a construção das usinas Jirau e Santo Antônio, que formam o complexo hidrelétrico do Rio Madeira. No entanto, ao contrário de outros momentos que trouxeram um desenvolvimento não sustentável para o local, deixando marcas permanentes na região, o boom provocado pelas duas megaobras tem gerado investimentos e um forte fluxo de pessoas em busca de oportunidades na capital rondonense.

Como resultado, milhares de vagas foram criadas, fazendo com que o município ficasse em primeiro lugar no ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) dos que mais contrataram em 2009. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), até novembro do ano passado, uma vaga havia sido criada para cada 5 habitante da cidade. No total, foram 79,8 mil novas carteiras assinadas.

Como consequência, o número de habitantes saltou de 320 mil para 426 mil nos últimos três anos. De acordo com o Departamento de Trânsito, a frota rondonense de veículos cresceu 17% em 12 meses, três vezes mais que a média nacional. ¿Nós nos mudamos com intenção de abrir uma loja, mas hoje já temos quatro¿, conta Ivan Rocha, gerente de uma revendedora de veículos.

Para atender à demanda por materiais para a construção das duas hidrelétricas, que começam a gerar energia no próximo ano e passam a funcionar a pleno vapor em 2015, fábricas de concreto e metalurgia mudaram-se para municípios próximos. As ofertas são tantas que pedreiros, carpinteiros, engenheiros e outros profissionais ligados à construção civil estão em falta. Tanto que as construtoras tiveram de abrir escolas técnicas gratuitas para preencher as vagas.

A psicóloga Lucyanna Miranda nasceu em Brasília, mas, ao se formar, conseguiu emprego em Porto Velho. ¿Foi uma oportunidade única na minha carreira, algo que eu não teria conquistado em Brasília. Nunca havia imaginado trabalhar na construção civil¿, afirma Lucyanna. Ela trabalha na área de recursos humanos da construtora que faz as cidades que irão abrigar as famílias removidas em função das obras.

O comércio também avançou, principalmente com a chegada de grandes redes de supermercados e de serviços de telefonia móvel. Segundo o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Cresci) de Rondônia, Flaézio Lima, o segmento cresceu 40% nos últimos dois anos. ¿Já somos um grande polo urbano na Região Norte e acreditamos que, mesmo com o fim das obras das hidrelétricas, esse crescimento será sustentável¿, afirma o vice-prefeito de Porto Velho, Emerson Castro.

DINAMISMO PERNAMBUCANO

» MIRELLA FALCÃO

Detentor do principal polo turístico da região, o balneário Porto de Galinhas, o município de Ipojuca vem sendo bem-sucedido também em atrair o maior volume de investimentos no setor produtivo do estado de Pernambuco. É lá que se localizam empreendimentos como a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul e a Petroquímica Suape, que já somam quase 20 mil empregados e um aporte de R$ 30 bilhões. Por isso, não é de se surpreender que Ipojuca tenha sido a cidade que mais cresceu em participação no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, passando de 4,2% em 1999 para 8,9% em 2008. Em 2010, até 20 de dezembro, o município arrecadou R$ 1,3 bilhão em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Ipojuca já registra um PIB de R$ 6,3 bilhões, o terceiro maior de Pernambuco. A concentração, no município, da distribuição dos combustíveis, a chegada de algumas indústrias, como a Unilever, e, principalmente, o crescimento do turismo, que atrai por ano cerca de 500 mil visitantes em 32km de litoral, são alguns dos fatores que contribuíram para o crescimento até 2008.

¿A partir de agora, o maior peso será mesmo Suape¿, comenta Gustavo Maia, analista da Datamétrica Consultoria. ¿Sem dúvida, o PIB a ser calculado nos anos seguintes trará números bem maiores¿, prevê Wilson Grimaldi, economista da Agência Condepe/Fidem, principal órgão de estatística estadual. O polo industrial que se formou em torno do Porto de Suape, que reúne mais de 100 fábricas, é hoje o maior vetor de desenvolvimento de Pernambuco. Somente 20% do complexo está em Ipojuca. Apesar disso, é no lado ipojucano que estão os empreendimentos de maior porte e geração de emprego.

A rápida expansão, no entanto, tem gerado problemas estruturais. Nos últimos 10 anos, a população cresceu em cerca de 20 mil habitantes. ¿Há uma forte migração de pessoas de baixa renda de outros municípios tentando emprego, provocando a ocupação irregular dos morros da cidade. Fica difícil para o município oferecer serviços de educação e saúde na qualidade e na quantidade que essas pessoas precisam¿, diz Antônia Santa Maria, gestora de Estudos Metropolitanos da Condepe/Fidem. Os empregos que estão sendo gerados exigem alta qualificação técnica. Por insuficiência de mão de obra preparada, muitos dos trabalhadores vêm de outros municípios e até de fora do estado, sobrecarregando o tráfego e os meios de hospedagem, que antes eram destinados apenas aos turistas. Como boa parte da mão de obra não é do município, o comércio local não tem acompanhado esse desenvolvimento. ¿O dinheiro de Suape não circula por aqui¿, reclama Fabiana Nascimento, 30 anos, dona da Loja São João, no centro de Ipojuca. ¿A nossa expectativa é que, com o tempo, as pessoas que trabalham em Ipojuca passem a residir na cidade. Algumas construtoras já estão despertando para a necessidade de construir novas unidades habitacionais para esse público¿, diz Ricardo Iguatemi, secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Econômico.

O mais alto

Com uma população de apenas 75 mil habitantes, em um território de 527,3 Km2, o município tem um PIB per capita de R$ 84,4 mil ao ano, o mais alto do estado. ¿Isso porque o indicador é calculado com dois anos de defasagem e, até 2008, a refinaria ainda não estava em construção, o estaleiro não havia feito seu primeiro navio e a petroquímica não estava em operação¿, pondera Wilson Grimaldi, economista da Agência Condepe/Fidem, principal órgão de estatística estadual.

Artigo

por Diana Motta

Políticas integradas

Desde a década de 1970, as cidades médias ¿ com população entre 100 mil e 500 mil habitantes ¿ desempenham papel relevante na dinâmica demográfica, econômica e espacial do país. Os dados do Censo 2010 mostram que elas foram as que apresentaram uma maior taxa de crescimento populacional (1,50%o ano) em relação às pequenas (1,06%) e às grandes (1,07%) no período 2000 a 2010.

O dinamismo das cidades médias advém, principalmente, do setor industrial, seguido pelo de serviços. O crescimento delas também pode contribuir para a distribuição de renda e o combate à pobreza, na medida em que ocorre a desconcentração das atividades econômicas e de população no território, fortalecendo o processo de integração nacional.

Cidades médias se caracterizam pela atividade industrial e pela especialização. São centros urbanos com importância regional e local. Em geral concentram a base logística das frentes de expansão industrial, agropecuária e mineral. Por isso, políticas urbanas efetivas para as cidades médias devem ser estabelecidas pelas esferas nacional, regional e local, mediante ações integradas e articuladas com o apoio do setor privado e da sociedade, para se evitar graves problemas urbanos futuros e melhorar as condições de vida.

Para o desenvolvimento sustentável dessas cidades, as políticas públicas devem buscar atender aos seguintes objetivos: gerir o crescimento urbano a longo prazo, com a implantação de planos territoriais que considerem demandas urbanas e planos setoriais de transporte e saneamento; instituir instrumentos de integração com os municípios limítrofes e da sua área de influência; melhorar as condições urbanas e de vida da população pobre; promover ações integradas de infraestrutura urbana, incluindo saneamento, habitação, transporte urbano, meio ambiente, saúde, educação, cultura e segurança pública; fortalecer as instituições municipais e aperfeiçoar os instrumentos de gestão; promover o desenvolvimento econômico ¿ atrair investimentos e aumentar a produtividade da cidade gerando emprego e trabalho.

Buscar fontes alternativas de financiamento, instituir programas voltados às finanças públicas municipais e promover programas de desenvolvimento institucional são medidas necessárias para superar deficiências legais, técnicas e burocráticas. O alcance desses objetivos pode contribuir para uma nova governança urbana, visando evitar processos de favelização, degradação ambiental, ocupações irregulares, precariedade da infraestrutura e outros desafios urbanos do Brasil.

Pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais do Ipea. Foi secretária de Desenvolvimento Urbano do DF e secretária de Habitação de Natal (RN).