Título: Prisão de Cacciola agita Mônaco
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, Finanças, p. C12

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola continuará preso na "Casa de Detenção" do principado de Mônaco, num rochedo perto do mar. Ali, ele ocupa, sozinho, uma cela com televisão a cabo, direito a dois banhos diários, duas horas de passeio por dia e acompanhamento psicológico, como qualquer outro prisioneiro. Cacciola deixou a prisão ontem à tarde para uma audiência no Palácio da Justiça, onde chegou e de onde partiu em viatura da polícia local, algemado, segundo a rede BBC, numa movimentação rara no principado de dois quilômetros quadrados.

Segundo a procuradora-geral do principado, Anne-Bonet-Fuster, a audiência foi apenas para o juiz informar Cacciola, na presença de um advogado, sobre as razões de sua detenção. "Ele não fez pedido de liberdade, mas pode fazer isso até o último momento desse procedimento (para extradição)'', explicou a procuradora, por telefone. Observadores em Mônaco consideram difícil o juiz liberar o ex-banqueiro, diante do mandato internacional de busca contra ele. A preocupação é de que, se for libertado, o ex-banqueiro fuja para a Itália, de onde não pode ser extraditado.

O ministério não soube informar o prazo da prisão. O mais provável é que a Justiça de Mônaco aguarde o envio do pedido de extradição do Brasil - que deve ocorrer até sexta-feira. O governo brasileiro está traduzindo para o francês o processo contra Cacciola.

Carlos Ely Eluf, advogado de Cacciola, negou que a Justiça de Mônaco já tenha determinado a prisão de seu cliente. "Por precaução, ele está sob custódia da Justiça. Ele não está oficialmente preso." "Podemos entrar hoje, amanhã, a qualquer momento com o pedido de liberdade. O mais provável é que a Justiça só se manifeste após o pedido formal de extradição do Brasil", disse o advogado.

Cacciola foi condenado em 2005 a 13 anos de prisão pela Justiça do Rio por crimes de peculato (utilização do cargo para apropriação de dinheiro) e gestão fraudulenta do banco Marka.

Jornalistas locais dizem que desde a morte do banqueiro Edmond Safra, em 1999, o Palácio de Justiça não via tanta movimentação da imprensa. Por pouco, Cacciola não cruzou no pátio da prisão com o enfermeiro Ted Maher, que reconheceu ter colocado fogo "por acidente" que acabou causando a morte de Safra. Condenado a dez anos de prisão, Maher foi libertado em julho, se beneficiando de redução da pena como permite a legislação do Principado de Mônaco.

A pedido do Ministério Publico Federal, a 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro decretou no final da tarde de ontem a prisão preventiva de Cacciola. O pedido foi feito pelos procuradores da República Fábio Magrinelli Coimbra e José Maria Panoeiro. Na mesma decisão a juíza Regia Helena Figueira de Mello atendeu o pedido e determinou a extradição de Cacciola. A medida permite que, se Cacciola for extraditado, seja preso ao ingressar no país.

(Com a Agência Folha, de São Paulo, e Sucursal do Rio)