Título: PSDB isola Azeredo, à espera de procurador
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Especial, p. A14

Oficialmente, o PSDB aguarda a decisão do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o mensalão mineiro, mas na prática trata de isolar o senador Eduardo Azeredo e vê na denúncia um potencial grande de crise que pode dividir o partido. "Inadequada" é a expressão mais suave usada por líderes tucanos para classificar declarações de Azeredo, segundo as quais sua campanha à reeleição em Minas Gerais, em 1998, também ajudou a custear despesas eleitorais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ganha corpo também a idéia de que Azeredo deve se licenciar do Senado, muito embora a inclinação do PSDB seja deixar que o Judiciário se encarregue do caso.

Ontem, Azeredo foi aconselhado pela cúpula do PSDB a não dar mais entrevistas e aguardar em silêncio a manifestação do procurador Antonio Fernando de Souza, que decidirá se transforma ou não o inquérito da Polícia Federal sobre o mensalão mineiro em denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a PF, a campanha de Azeredo à reeleição teria movimentado, pelo menos, mais de três vezes os R$ 8,5 milhões declarados à Justiça Eleitoral, podendo ter chegado próximo dos R$ 100 milhões.

A cúpula tucana credita a entrevista que Azeredo concedeu anteontem à "Folha de S. Paulo" a um momento de fragilidade emocional, mas o fato é que o senador só reconheceu a existência do caixa 2 na campanha - da qual alega que não teve conhecimento, à época - depois de ler entrevistas dos governadores tucanos José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais. Serra disse que era preciso aguardar o pronunciamento do procurador-geral, enquanto Aécio, até agora o seu maior defensor no partido, elogiou o senador, mas ressaltou: "Cada um tem que responder em relação às denúncias". Em seguida viajou para Washington (EUA).

O governador mineiro que até bem pouco tempo telefonava com insistência para a cúpula tucana, pedindo que o partido assumisse a defesa de Azeredo, também parou com as ligações. O nome de Aécio aparece numa lista que a Polícia Federal considerou legítima como tendo recebido R$ 110 mil, do esquema do candidato a governador, para sua campanha a deputado federal. O inquérito também menciona o ex-vice-governador de Aécio, Clésio Andrade.

Antes de falar sobre o mensalão, Azeredo também teve uma reunião com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), e com o provável futuro presidente, senador Sérgio Guerra (PE), na qual pediu uma defesa mais enfática do partido, mas ouviu em resposta que ele próprio deveria cuidar de sua defesa, tomando o cuidado de desvincular o mensalão do PT (caracterizado como compra de votos) do mensalão mineiro (caixa 2), expor a participação do ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e envolver o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na questão.

Para os tucanos, Azeredo deveria dizer que é tão responsável pelo caixa 2 de sua campanha quanto Lula foi em relação ao mensalão do PT. Ele deveria reconhecer que houve o caixa 2, contar a participação de Walfrido e Clésio, mas ressaltar que não tinha conhecimento nem estava no comando do esquema, à época da campanha. Mas o senador fugiu do roteiro ao mencionar que sua campanha ajudou na campanha à reeleição de FHC, o que deixou irritados até mesmo seus aliados, como o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "O mais histérico adversário do ex-presidente não vai achar que ele tem ligação com aquilo. Eu aceito tudo o que é verdade, só não gosto de história de carochinha", disse.

Segundo os tucanos, é comum candidatos aos governos estaduais abrirem comitês associados à candidatura presidencial. Principalmente quando este candidato é favorito, como era FHC na campanha de 1998, quando concorreu à reeleição. Um exemplo citado são os cartazes que Paulo Maluf distribuiu em São Paulo como fotos dele com o ex-presidente. FHC não foi a Minas na campanha de 1998, pois Azeredo concorreu contra o ex-presidente Itamar Franco, para o qual perdeu a eleição. Quando o caixa 2 tucano reapareceu na CPI dos Correios, em 2004, FHC defendeu que Azeredo se licenciasse da presidência do partido, cargo que ocupava na ocasião, mas foi ignorado pelo PSDB. Só um mês antes da eleição de Tasso Jereissati, com o agravamento da crise, o então prefeito José Serra reassumiu o posto - Azeredo era seu vice.

No Palácio do Planalto, o ministro Walfrido conversou com com o presidente Lula sobre a denúncia de que ajudou a campanha de Azeredo a captar recursos, em 1998. A análise da coordenação política do governo é que a situação do ministro da coordenação saiu fortalecida após declarações do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e da própria entrevista de Azeredo à "Folha de S. Paulo". Antonio Fernando disse que não levará em conta as opiniões expressas no relatório da Polícia Federal, limitando-se aos autos do processo para decidir se apresenta denúncia ao Supremo e quem será denunciado. "Ele (o relatório) tem de descrever os fatos. Se tem opinião, deixa de ser relatório", afirmou o procurador, no que foi entendido como parte da disputa que a PF e o Ministério Público Federal travam em relação à competência dos inquéritos.

Entre os assessores mais próximos de Lula o argumento mais constante é que as provas, até o momento, contra Walfrido, são frágeis, o que não justificaria um afastamento. Nem mesmo a entrevista do senador Eduardo Azeredo, na qual afirmou que Walfrido participou de toda a campanha em 1998, de maneira ativa, muda a percepção dos governistas. "Ele fala, fala, e não diz nada, não prova nada. Para nós, a entrevista é muito mais um recado para o PSDB e para Fernando Henrique Cardoso do que uma ameaça a Walfrido", analisou um interlocutor próximo do presidente Lula. Oficialmente, o porta-voz Marcelo Baumbach disse que a situação política de Walfrido em nada se alterou: O ministro tem a confiança do presidente, da mesma forma que tinha antes desse episódio. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)