Título: Banco ABC amplia crédito externo ao país
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Finanças, p. C12

Angela Martins, diretora do ABC: IPO amplia capacidade de crédito externo O aumento no capital do Banco ABC Brasil, de R$ 405 milhões para R$ 1,058 bilhão, resultado da emissão pública inicial de ações (IPO) em julho, vai impulsionar o crescimento da instituição financeira não apenas no mercado interno brasileiro, mas também na oferta de financiamento externo ao país. A razão: diferentemente dos outros bancos de capital estrangeiro com atuação no Brasil, todo o crédito em dólar feito pelo ABC é contabilizado no balanço consolidado da filial brasileira.

"Temos uma agência nas Ilhas Cayman que empresta em dólar para as empresas brasileiras", explica Angela Martins, diretora da área internacional do Banco ABC Brasil, controlado pela Arab Banking Corporation, que detém 86% do capital votante e 55% do capital total da filial brasileira após o IPO. A Arab Banking Corporation pertencente ao governo do Kuait (28%), de Abu Dhabi (28%) e da Líbia (26%) e tem o resto do seu capital pulverizado na bolsa de valores de Bahrein.

"Com mais capital no Brasil, teremos maior capacidade de dar garantia firme nas operações de financiamento ao comércio exterior", diz Angela Martins. O forte do banco no mercado externo são os empréstimos estruturados à exportação de commodities de empresas médias brasileiras, que podem ser bilaterais ou sindicalizados (ter a participação de mais de um banco).

"Estruturamos e colocamos à venda no mercado internacional operações nada óbvias, que precisam de uma instituição com profundo conhecimento do risco de crédito das empresas brasileiras", diz a diretora do ABC. Como o ABC nasceu, em 1989, como um banco nacional - era inicialmente controlado pelas Organizações Globo -, tem grande proximidade das empresas médias nacionais, diz Angela Martins. "Identificamos os nomes de novas empresas com bom risco de crédito para apresentar aos bancos que são nossos parceiros no mercado internacional", conta.

Neste ano, o banco chegou até mesmo a estruturar o primeiro empréstimo sindicalizado para uma pessoa física: um pré-pagamento à exportação de algodão para o produtor rural Nelson José Vigollo, da Sementes Bom Jesus. "Levamos diversos investidores para visitá-lo em Rondonópolis, Mato Grosso", conta a executiva. O empréstimo tem prazo de vencimento em dois anos, mas pode ser pré-pago e tomado novamente (revolving). Participara da operação os bancos RZB (da Áustria), Credit Suisse, Banco Del Grupo Security (do Chile) e RMB (da África do Sul).

"Os bancos internacionais não teriam como chegar a diversas empresas produtoras de commodities que apresentamos a eles e que, depois, se tornam clientes dessas instituições", conta. Neste ano, o ABC Brasil realizou operações sindicalizadas para produtoras de açúcar e álcool como a Usaciga, Itaiquara, Santa Isabel, Santa Cândida e Zanin, com prazos que chegam a cinco anos de vencimento. Está no mercado com operação de US$ 30 milhões para outra empresa do setor de açúcar e álcool, a Aralco, com prazo de quatro anos e meio de vencimento.

O banco está na liderança de financiamento não concluído, do qual vão participar o Itaú BBA e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), à MMX, no total que pode chegar a US$ 450 milhões, diz ela. A MMX exporta para a Gulf Industrial Investment Company (GIIC), que comprou participação de 50% em pelotizadora em Bahrein e está construindo outra unidade de pelotização na mesma região, com financiamento da Arab Banking Corporation. "Temos como missão estimular os negócios do Brasil com o mundo árabe", explica.

Segundo Angela Martins, a meta inicial do banco era realizar cerca de US$ 450 milhões em operações em moedas estrangeiras neste ano ao Brasil, incluídos empréstimos bilaterais e sindicalizados. Mas, o total já ultrapassou os US$ 600 milhões. Os juros são de Libor, taxa interbancária de Londres, mais 2% a 4% ao ano.

"Essas primeiras operações dão trabalho, são mais caras, envolvem penhor de mercadorias ou de receitas a receber com exportação, custos de advogados no exterior, mas colocam a companhia em um novo patamar", afirma a executiva. Muitas vezes, segundo ela, bancos chegam atrasados para participar dos empréstimos estruturados pelo ABC, mas acabam realizando outros empréstimos aos clientes que foram apresentados a eles pela instituição financeira.

Nas operações estruturadas pelo ABC, há um mitigante de risco de crédito que permite ampliar os prazos da operação. "Na fase pré-embarque, há uma garantia real, como o penhor do algodão, açúcar ou álcool", diz. Depois, pode ser usada como garantia a própria conta cobrança que recebe os recursos pagos pelos importadores. "As empresas cedem o direito dos recebíveis aos credores", explica.

As novas regras de alavancagem dos bancos contidas no acordo conhecido como Basiléia 2, já em vigor na Europa, exigem menos alocação de capital nas operações de financiamento estruturados de commodities, diz a executiva. Por isso, muitos bancos europeus têm ampliado seu interesse em atuar com os produtores brasileiros, conta, abrindo mais espaço para o ABC Brasil. O "boom" nos preços dos commodities também ajuda a atrair interesse das instituições financeiras, conta ela.

Dinheiro para repassar aos clientes brasileiros não falta, diz a executiva. Além dos bancos tradicionais investidores no financiamento à exportação do Brasil, o ABC tem linhas externas disponíveis de mais de seis bancos árabes, que estão longe do aperto de crédito no mercado americano e europeu. Tem US$ 600 milhões desses bancos mais crédito de US$ 150 milhões da matriz, que pode ser usado com custo semelhante ao menor custo disponível no mercado internacional.