Título: Resinas vão ter reajuste de até 11%
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Empresas, p. B1

A disparada do preço mundial do barril de petróleo neste mês de setembro está prestes a desembarcar no Brasil. Em meio ao aquecimento da economia global e também brasileira, os fabricantes de resinas plásticas, usadas em brinquedos, utensílios domésticos e automóveis, admitem que um reajuste de preço é iminente.

"Há uma negociação que poderá resultar em aumentos que vão variar entre 5% e 11%. E, dependendo da resina, esse reajuste é maior ou menor", afirma José Ricardo Roriz Coelho, presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp) e um dos principais executivos da Suzano Petroquímica, cujo controle acionário está sendo transferido para a estatal Petrobras.

Boa parte deste aumento encontra força nas recentes valorizações do preço do petróleo. Isso, porque os fabricantes de resinas plásticas no país e no mundo são obrigados a conviver com uma estreita relação entre a sua principal matéria-prima, a nafta petroquímica, e a commodity. Até porque a primeira é derivada da segunda. "Em 2006, a tonelada da nafta teve um múltiplo de 8,2 vezes em relação ao preço do petróleo. Já em 2007, essa relação subiu para 10 vezes, ou seja, o multiplicador ficou maior e mais caro com a alta do barril", diz Roriz Coelho.

Dados da consultoria Maxiquim, especializada no setor petroquímico, mostram que a tonelada da nafta foi negociada a US$ 667 em setembro no Brasil. E a previsão é que se aproxime do valor recorde em dólares em outubro, que foi de US$ 707 em junho deste ano. Isso, porque o preço da nafta no país embute o valor do petróleo do mês anterior.

De fato, não resta a menor dúvida que a nafta de outubro será alta. Só para se ter uma idéia, desde o início de setembro deste ano até hoje, o barril de petróleo na Bolsa Mercantil de Nova York registrou um acréscimo de 6,95%, ao passo que na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres acumulou alta de 5,48%. Ontem, inclusive, em Nova York, o barril para novembro foi negociado a US$ 80,30, alta de 77 centavos de dólar. E em Londres, a commodity também para novembro foi vendida a US$ 77,43, queda de 19 centavos de dólar..

Agora, não é apenas o presidente do Siresp que antevê aumentos. Otávio Carvalho, diretor da Maxiquim, também já vê reajustes, puxados principalmente pela resina polietileno, que deverá ter seu preço elevado em 11%.

Para piorar ainda mais para os compradores de resina, não há grande sobra do produto na região. Nem mesmo o dólar, que anda desvalorizado no Brasil, ajuda neste momento, já que imaginava-se que as importações de resinas plásticas poderiam ser favorecidas com a baixa da moeda americana, o que equilibraria o jogo de negociação.

"O mercado na América do Sul ficou ainda mais aquecido com alguns entraves recentes, como a falta de gás natural na Argentina que impactou a produção de polietileno da americana Dow na região. E isso também motivou algumas empresas brasileiras a venderem suas toneladas na Argentina, o que apertou ainda mais a relação entre oferta e demanda no país", avalia Carvalho.

Agora, além da pressão sobre a oferta na América do Sul, o diretor da consultoria afirma que mais dois fatores vão dar o tom na mesa de negociação. A saber: pressão de custos, leia-se petróleo, e a sazonalidade de demanda que acontece todo o fim de ano.

O fato é que o impacto na cadeia petroquímica e mesmo os desdobramentos no preço do petróleo dependem da revisão de crescimento do PIB mundial. "Há muita volatilidade e caso haja alguma projeção menor de crescimento da economia mundial em 2008, isso deverá diminuir o preço do petróleo também", afirma Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora. A executiva projeta preço médio para o Brent de US$ 75 por barril.