Título: Microsoft acirra disputa com busca na web
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Empresas, p. B3

Não é de agora que a Microsoft, a maior companhia de software do mundo, luta para destronar o Google e capturar a liderança do mercado de publicidade on-line. Foi esse negócio, afinal, que fez do Google - um projeto criado em 1998, por dois estudantes universitários, - em uma gigante com vendas anuais de US$ 10,6 bilhões e valor de mercado superior a US$ 177 bilhões. Faz meses que a Microsoft estuda uma maneira de atacar o Google em seu principal pilar de sustentação - os serviços de busca na web - e o resultado de todo esse esforço poderá ser conhecido hoje, quando a empresa coloca no ar seu novo mecanismo de pesquisa on-line.

Para começar o número total de páginas pesquisadas quadruplicou. "Dos 50 bilhões de páginas da versão anterior, saltamos para 20 bilhões de páginas", diz Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor geral da divisão de serviços on-line da Microsoft no Brasil. Na prática, isso significa que se o usuário recebia 50 mil respostas em uma determinada busca, com a nova ferramenta vai obter 200 mil na mesma pesquisa.

A Microsoft sabe, porém, que quantidade não é tudo. Ao contrário, um volume muito grande de respostas pode até irritar o internauta se ele não encontrar rapidamente o que está buscando. É por isso que a segunda inovação mais evidente no serviço é a melhoria da chamada relevância, ou seja, a probabilidade de entregar, logo nos primeiros resultados da lista, as referências mais importantes para o autor da pesquisa. "Isso foi obtido com um aperfeiçoamento na busca dos sites mais procurados", explica Oliveira. "O robô responsável pela busca passou a procurar mais páginas dos sites visitados com mais freqüência, o que significa que a probabilidade de encontrar páginas atualizadas desses sites é bem maior".

Outra diretriz seguida pela Microsoft é aprofundar a chamada pesquisa vertical - ou seja, oferecer mais mecanismos voltados para assuntos específicos. A companhia identificou que, mundialmente, 40% das buscas concentram-se em alguns temas, como produtos, mapas e vídeo. Nos Estados Unidos, entram no ar, hoje, três dessas categorias, por enquanto não disponíveis no Brasil: saúde, entretenimento e vídeo.

No primeiro caso, a idéia é aproveitar a tendência cada vez maior das pessoas de buscar na web informações complementares sobre sintomas de doenças e orientações médicas. Para oferecer o serviço, a Microsoft adquiriu a base de dados da Medstore, uma companhia especializada em informações médicas.

Já no caso dos vídeos, a idéia é acirrar a disputa com o YouTube, o popular site de compartilhamento comprado pelo Google, no qual os usuários podem colocar seus próprios vídeos na rede. No canal de busca de vídeos da Microsoft o usuário poderá procurar palavras-chave, como ocorre no YouTube, mas visualizar trechos do vídeo desejado na própria página de busca.

No Brasil, diz Oliveira, as inovações "verticais" têm sido incrementadas nas últimas semanas. Há cerca de 15 dias entrou no ar a nova versão do mecanismo de mapas. Com a ferramenta, é possível traçar rotas em 170 cidades brasileiras e encontrar informações sobre o trânsito em São Paulo e no Rio. Ao todo, porém, estão disponíveis mapas de cerca de mil cidades. Outro serviço renovado há duas semanas é o de produtos, que permite ao usuário fazer encontrar mercadorias em lojas e fazer comparações de preços.

Os serviços de busca tornaram-se uma parte essencial da publicidade on-line ao proporcionar o chamado link patrocinado. São conexões para sites de internet dos anunciantes, que aparecem junto com as respostas a uma determinada busca feita pelo usuário.

Os anunciantes pagam uma pequena taxa para aparecer nos primeiros lugares das listas de links patrocinados. O sistema funciona como um leilão: quem paga mais por uma palavra-chave sobe para as posições mais privilegiadas. Como tornou-se o principal mecanismo de busca da web, o Google também foi capaz de abocanhar a maior parte do bolo publicitário da internet.

A Microsoft quer mudar isso. A companhia de Bill Gates já virou a mesa em outras áreas de atuação, caso dos programas de navegação na internet ou browsers. Durante muito tempo, a dona desse mercado foi a Netscape. Ao integrar seu browser Internet Explorer ao sistema operacional Windows, no entanto, a Microsoft derrubou a concorrente e tornou-se a tecnologia padrão no segmento.

Mesmo para a Microsoft, porém, a guerra com o Google e o Yahoo pela supremacia dos serviços de busca - e da publicidade on-line - não tem sido fácil. Um dos problemas é o fato de que o Google ficou tão popular que virou até verbo: "googlar" tornou-se sinônimo de pesquisar na web. Para mudar o jogo, a Microsoft agora tem de provar ao usuário que vale a pena mudar de hábito e experimentar um serviço diferente.

As inovações que serão lançadas hoje são parte desse esforço, mas a empresa conta com outros trunfos: seus demais serviços de web, que já superaram os programas rivais. É o caso do Windows Live Mail - ex-Hotmail, de correio eletrônico gratuito - e o Windows Live Messenger - o antigo MSN Messenger -, de mensagens instantâneas. "Temos 310 milhões de contas de correio eletrônico no mundo e 30 milhões de usuários de messenger no Brasil, a maior base global do serviço", diz Oliveira. Ao todo, cerca de 82% dos usuários ativos de internet do país usam algum dos programas de internet da Microsoft, afirma o executivo.

A estratégia da companhia é usar essa força: a campanha publicitária do novo serviço de busca será feito por meio desses canais. Além disso, o correio eletrônico e o sistema de mensagens instantâneas também se converteram, há algum tempo, em fonte de receita publicitária para a Microsoft. O próprio acesso ao mecanismo de busca passa por esse cruzamento: o serviço pode ser acessado pelo portal MSN, mas também está disponível em um atalho do browser Internet Explorer.