Título: Exército e Fiat assinam contrato até novembro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Empresas, p. B6

O grupo Fiat foi o vencedor na escolha da empresa que deverá desenvolver a nova viatura blindada de transporte de pessoal, sucessora do Urutu, para o Exército brasileiro. A informação é do centro de comunicação do Exército, que revela que o contrato deve ser assinado em outubro ou novembro.

O projeto será feito pela Iveco, empresa do grupo Fiat com experiência no desenvolvimento de veículos militares na Itália e que no Brasil produz veículos comerciais em Sete Lagoas (MG).

Falta ainda definir papéis e responsabilidades no projeto, cronograma de desenvolvimento do protótipo e da produção, além de custos e prazos e engenharia financeira. Por meio do departamento de comunicação, a Iveco informa que dará inicio, agora, junto com o Exército, ao encaminhamento dessas etapas. Na Itália, a divisão de veículos de defesa da Iveco, projeta, desenvolve e produz veículos blindados e de suporte, usada pelo exército italiano e de outros países.

O professor Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade de Juiz de Fora (MG), calcula que todo esse processo não estará concluído em menos de cinco anos. É o tempo para produzir um protótipo e uma pré-série para, a partir daí, com a aprovação do Exército, iniciar a produção dos veículos.

Não há ainda nenhuma informação sobre o tamanho da nova frota. Bastos estima que os pedidos podem chegar a até 1,2 mil unidades. Na Europa, cada veículo desse tipo custa em torno de 2,5 milhões de euros. Também não foram divulgadas as especificações dos veículos que devem ter características diferentes dos usados hoje. "Os conceitos de guerra mudaram e se antes os combates eram de exército contra exército hoje os conflitos são urbanos", diz Bastos.

A renovação da frota dos veículos militares ganha complexidade à medida em que o Exército precisou buscar um novo fabricante local. Os veículos usados hoje foram produzidos pela Engesa (sigla de Engenheiros Especializados S.A), uma empresa paulista, de capital nacional, especializada no setor de defesa, que faliu em 1993.

A Engesa chegou a exportar para dezenas de países, muitos deles árabes. Além do Urutu, usado basicamente para o transporte das tropas, a mesma empresa produziu o Cascavel, um modelo que tem as características do Urutu, mas carrega também uma torre com canhão.

Bastos prevê que o projeto dos novos veículos criará uma família com várias versões voltadas ao transporte de pessoal, reconhecimento, porta morteiro, socorro, comando, comunicações, diretora de tiro, oficina e ambulância, além de um modelo com torre e canhão. Os veículos deverão ainda ser anfíbios, segundo o pesquisador.

A concepção do novo projeto deverá refletir boa parte da experiência com o uso dos blindados na missão de paz no Haiti. O desgaste que esses veículos vêm sofrendo é o que reforça, segundo Bastos, a necessidade de renovação da frota.

O desgaste começou muito antes do Haiti. Alguns dos veículos já foram usados em outras missões, como em Angola, na década de 90. O Haiti, onde a missão brasileira atua desde 2004, se transformou, no entender de Bastos, "num grande laboratório de utilização de blindados sobre rodas em zona urbana".

"No Haiti, o Exército brasileiro está fazendo o papel da polícia", afirma o pesquisador. Ele lembra que naquele país os veículos têm passado por situações de desgaste intensas, pois operam sistematicamente em áreas densamente povoadas. "E com toda a sorte de detritos espalhados pelas ruelas estreitas em áreas de grandes favelas". Numa rotina de circulação em terrenos abarrotados de entulho, pedras, buracos e até restos de automóveis, perdem-se pneus e arruinam-se suspensões, motores e caixas de transmissão.