Título: Mercado externo atrai fornecedores do setor de petróleo
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Empresas, p. B9

Atentos ao mercado aquecido de dutos de petróleo e gás no mundo, empresas brasileiras de equipamentos e serviços têm intensificado suas exportações com base em tecnologias próprias. A Pipeway, nascida em uma incubadora da PUC-Rio, começou a atuar fora do país em 2000, na Argentina, com um equipamento de inspeção de dutos desenvolvido em conjunto com a Petrobras. A empresa tem negócios em Cuba, Costa Rica e em quase toda a América do Sul, possui uma filial na Argentina desde 2005 e se prepara para abrir outra na Colômbia.

"Do total dos nossos contratos, 60% são internacionais", afirmou o presidente da Pipeway, José Augusto Pereira da Silva. A empresa, cujo faturamento cresce a um ritmo de 25% ao ano, pretende abrir ainda uma subsidiária nos Estados Unidos, onde já tem um grande contrato de aluguel do equipamento com a National Oil Well. "Queremos nos consolidar nos Estados Unidos, um mercado onde a demanda é muito forte", disse seu presidente.

A gaúcha Coester, uma ex-fabricante de controladores para navios nos anos 70, teve que se adaptar após a crise no setor e voltou-se para o mercado de dutos de petróleo e de gás. Depois de desenvolver tecnologias com a Petrobras, especializou-se na produção de automação de válvulas e passou a se interessar pelo mercado externo nos anos 90. As vendas para outros países correspondem a apenas 10% do faturamento da empresa, mas a perspectiva é chegar a 30%. "O mercado internacional surgiu como oportunidade para depender menos da Petrobras e para crescer", disse o presidente da empresa, Marcus Coester.

O principal mercado da Coester fora do Brasil é a Venezuela, país que recebe mais da metade das suas exportações. Marcus Coester diz que o foco é atuar na América Latina, mas estuda propostas no Canadá e Europa e tem uma distribuidor nos Estados Unidos em fase inicial de atividades. "Qualquer estratégia consistente de crescimento tem que passar pelo mercado internacional. Os próximos anos são promissores ao Brasil, mas não podemos deixar de pensar na internacionalização", disse o executivo. Para ele, o governo federal deveria promover mais o segmento no exterior, assim como faz o governo da Noruega, com 170 escritórios no mundo somente na área de petróleo.

Outra empresa nacional com olhos voltados ao exterior é a Esteio, especializada em aerolevantamento de projetos dutoviários. Grande parte de seus negócios (35%) está concentrada na Petrobras e 15% são contratos fechados fora do país, em países como Bolívia, Portugal, Venezuela, Chile e Argentina. Agora, a Esteio analisa entrar na Líbia e em Angola. "É uma questão de mercado. Quando não estiver aquecido aqui, teremos que fazer mais contratos fora do país", afirmou diretor técnico da Esteio, Valther Aguiar.

Para favorecer novos negócios no exterior, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) vai lançar um catálogo do segmento na semana que vem na Rio Pipeline, um encontro internacional organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). "É um segmento já amadurecido e que tem competência para concorrer no mercado internacional", diz o diretor-geral da Onip, Elói Fernandez.

O diretor da Transpetro (subsidiária de transportes da Petrobras), Marcelino Guedes, também vice-coordenador da comissão de dutos do IBP, avalia que o mercado internacional é a saída para a indústria sobreviver depois que a estatal brasileira terminar seus projetos de expansão de gasodutos e de construção de dutos de álcool. A estatal vai investir aproximadamente US$ 10 bilhões no segmento deste ano até 2011.

"O mercado global do segmento de serviços e equipamentos movimenta US$ 50 bilhões ao ano e vai viver um boom nos próximos anos. O Brasil não pode perder essa oportunidade", previu Guedes, ressaltando que além dos Estados Unidos, China, Rússia e Índia têm grandes projetos na área com investimentos que somam de US$ 32 bilhões nos próximos cinco anos. "A indústria investe em tecnologia, capacitação, tem visibilidade nas feiras e agora falta isso se desdobrar em negócios no exterior", afirmou Guedes.