Título: Produtores de biodiesel pedem matéria-prima
Autor: Lyra, Tarso ; Paulo de
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Agronegócios, p. B13

Os empresários da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio) cobraram ontem, durante audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esforços para ampliar as matérias-primas utilizadas na produção de biocombustíveis no país. Apesar de uma capacidade de produção instalada de 2 bilhões de litros por ano, o país produz apenas 840 milhões de litros anuais - 80% deste montante proveniente da soja.

"Nós temos uma alta dependência da soja. Seria interessante criarmos espaço para outras alternativas", afirmou o presidente do Conselho de Administração da Ubrabio, Juan Diego Ferrés.

Para Ferrés, além da soja, poderiam ser estendidas as pesquisas para outras oleaginosas, como amendoin, girassol, canola ou palmáceas, como o dendê. No caso da mamona, que virou um dos símbolos do programa, o empresário reconhece que o preço do combustível, em certos momentos, fica acima da média pelas dificuldades de produção.

O presidente da Ubrabio levou a Lula o entusiasmo dos empresários com o programa. A partir de janeiro do ano que vem, a legislação torna obrigatória a adição de 2% de biodiesel no diesel produzido em todo país. Até 2013, essa mistura chegará a 5%.

Tanto Ferrés quanto o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, confirmaram que a obrigatoriedade da mistura de 5% pode ser antecipada para 2010. Um dos mecanismos estudados seria acrescentar, gradualmente, 1% de mistura a cada ano. "Nós queremos ter um passo seguro, uma marcha segura na direção dos 5%. Portanto, essa possibilidade de um incremento gradual de 1% é uma das possibilidades que está sendo considerada", reconheceu o porta-voz.

A previsão, no entanto, é que a mudança só seja avaliada a partir do primeiro trimestre de 2008.

Ferrés admitiu também que a produção ainda é maior do que a demanda. Ele atribui essa peculiaridade ao "entusiasmo dos empreendedores e ao esforço pessoal do presidente Lula, que atrelou sua imagem ao novo combustível alternativo", disse.

Mas também criticou os distribuidores de combustíveis petrolíferos, que não se empenharam como deveriam na mistura do biodiesel ao óleo diesel, limitando os pontos de venda em todo país.

Ferrés aproveitou ainda para analisar a queda-de-braço entre os governos brasileiro e americano. Lula tem reclamado que os empresários americanos querem sobretaxar o etanol brasileiro ao invés de estimular a produção de uma nova matriz energética. Para o empreendedor, em sociedades mais avançadas, como a Europa, os consumidores concordam em pagar mais por um combustível que seja "amigável" ao meio ambiente.

Mas quando a questão é analisada sobre o prisma brasileiro, as coisas mudam de figura. "Nessa situação, querem adotar as leis de mercado. Mas isso não funciona com produtos tão diferentes [como o petróleo e o biodiesel]", justificou Férres.