Título: AL terá pouca atenção de novo presidente americano
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2007, Brasil, p. A5

Apenas um parágrafo vazio de conteúdo. Foi o que a América Latina mereceu no texto sobre política externa da pré-candidata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, publicado na revista "Foreign Affairs". Depois de falar sobre Oriente Médio, Europa, China e Índia, ela prometeu uma parceria estratégica com a América Latina. Vale ressaltar que a esposa do ex-presidente Bill Clinton foi a única a mencionar a região na série de artigos escritos por democratas e republicanos para a publicação.

Foi com essa história que Peter Hakin, presidente do Interamerican Dialogue, um importante centro de pesquisa sediado em Washington, resumiu o interesse dos postulantes à Casa Branca pela América Latina para um grupo de empresários reunidos ontem pela Federação de Comércio de São Paulo (Fecomercio).

Ele acredita que o atoleiro da guerra do Iraque absorverá as energias do próximo presidente americano, deixando pouco espaço para os vizinhos. A aposta de Hakin é que Hillary deve vencer as eleições, porque vai bem em quase todas as pesquisas, enquanto seu principal rival no Partido Democrata, Barack Obama, está estagnado. Depois de perder o controle do Congresso, os republicanos têm chances reduzidas de vitória.

Ao avaliar a abordagem dos pré-candidatos sobre imigração e comércio, as perspectivas também não são animadoras. Segundo Hakin, o sentimento antiimigração é forte nos EUA e nenhum presidente governará sendo condescendente nesse tema. Os Estados Unidos também se tornaram menos favoráveis à globalização. Pesquisas indicam que 60% dos americanos avaliam que o comércio é bom para os EUA, um percentual baixo para o país. Hillary anunciou que quer rever os acordos de livre comércio já fechados e propôs moratória para novas negociações.

Hakin avalia que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, continuará preocupando a Casa Branca, mas não é uma prioridade. A rivalidade com Chávez motivou recente visita de Bush à América Latina. O especialista avalia que deve mudar um pouco a abordagem. Enquanto os republicanos querem isolar o venezuelano, os democratas avaliam que a ascensão de Chávez é fruto dos problemas sociais.

Com o Partido Democrata no poder, Hakin acredita que os EUA se tornarão melhores "cidadãos globais" e "vizinhos mais simpáticos", com posições moderadas sobre aquecimento global e outros temas, mas isso não significa uma postura mais favorável à globalização. "Os americanos enxergam hoje o mundo como um lugar perigoso, do qual é preciso escapar", diz Hakin. "Dificilmente qualquer presidente poderia mudar isso."

Os biocombustíveis poderiam ser um tema atrativo para a relação dos EUA com a América Latina, particularmente com o Brasil. O assunto dominou a viagem de Bush pela região. Hakin afirma que os dois países teriam muito a ganhar, mas é necessário mais boa vontade, principalmente dos EUA, para reduzir as tarifas de importação do etanol brasileiro.

Ele avalia que Brasil e EUA têm uma relação positiva e pragmática. O Brasil expõe posições divergentes - pede o fim dos subsídios agrícolas, ataca as tarifas do etanol, não briga com a Venezuela -, mas é respeitado pelos americanos. "O Brasil deve seguir em frente, sem depender muito da cooperação dos EUA", aconselha o especialista americano.