Título: Presidente pede ousadia em investimentos que evitem o retorno da inflação
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem aos 96 empresários reunidos no Palácio do Planalto que a ausência de investimentos no país pode provocar o retorno da inflação. O alerta, feito quase no fim do encontro de três horas, mostra a preocupação do presidente com uma questão já demonstrada pelo Banco Central nas atas do Copom - um aumento da demanda maior do que a oferta embute um risco inflacionário e justificaria a redução e até mesmo interrupção na trajetória de queda de juros.

O presidente afirmou que fica assustado quando ouve dizer que a capacidade produtiva do país, a capacidade instalada, chegou a 87%. "E nós sabemos que não pode chegar a mais do que isso se não houver concomitantemente os investimentos que o Estado precisa para que a gente não tenha a volta da chamada demanda maior do que a oferta". Para o presidente, se isso acontecer, todo o trabalho feito até o momento pode se perder. "O resultado disso é o surgimento de mercado paralelo, o resultado disso é a volta da inflação, ou seja, é o desajuste da economia brasileira".

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, fez a mesma observação, acrescentando que os empresários brasileiros devem pensar nas regiões mais carentes e preocupar-se com o meio ambiente. O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, pediu investimentos para assegurar o crescimento de sua empresa, responsável pela maior parte dos recursos destinados ao PAC. "Precisamos de insumos e produtos nacionais para cumprir nosso cronograma de crescimento até 2012", pediu Gabrielli.

Lula disse aos empresários que o bom momento nacional e internacional permite que o "Brasil seja discutido sem nervosismo". Lula buscou rebater alguns temores empresariais, como a possibilidade de racionamento de energia a partir de 2011. Lembrou que o governo acabou de contratar, no dia 16 de outubro, leilões de cinco mil megawatts, entre hidrelétricas e termelétricas, para 2012. "Ou seja, para 2012, nós já contratamos 110% das necessidades energéticas do nosso país. Mas vira e mexe a gente ouve pessoas do próprio Brasil dizendo: vai faltar energia", reclamou.

O presidente pediu ousadia dos empresários. Recordou os tempos em que se falava que a China era uma boa parceira, citou o caso de Angola, onde a Petrobras participou de leilões e ganhou negócios de US$ 600 milhões. "A Índia botou lá US$ 700 milhões e a China colocou US$ 1,3 bilhão". Ainda sobre o país africano, que visitou na semana passada, Lula acrescentou que Angola importa material de construção de Portugal. E perguntou por que esse material não vai do Brasil.

Sobre uma das principais cobranças feitas pelos empresários - a reforma tributária - o presidente disse que o governo não tem nenhum "senão" a essa proposta. "Nós a mandaremos para o Congresso Nacional no momento em que entendermos que o Congresso Nacional está preparado para votar e que os governadores vão aceitar, porque o problema hoje não está mais no governo federal". O presidente, mais uma vez, jogou a responsabilidade para os administradores estaduais e municipais. "É preciso convencer os entes federativos de que isso está resolvido para que eles possam aprovar. Se a gente deixar pelo discurso de cada um, cada um tem uma reforma tributária na cabeça".

Depois de destacar os investimentos em infra-estrutura, como ferrovias, além de educação e saúde, o presidente pediu aos empresários um pacto de lealdade. "Não lealdade política, não lealdade ideológica, não lealdade religiosa. Mas lealdade no compromisso com esse país. A verdade é essa: todos nós somos passageiros e o país é infinito".