Título: Lula colhe elogios em platéia de 96 empresários
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que queria: 96 empresários e principais executivos das maiores empresas nacionais atenderam à convocação para ouvir o governo falar de investimentos e defender o crescimento; e saíram da reunião repetindo elogios à economia e ao próprio presidente Lula. Ele se queixava de que só via reclamações do setor privado no Brasil e, nas viagens ao exterior, ouvia dos empresários estrangeiros elogios à condução da política econômica e às perspectivas do Brasil.

À saída, só provocados pelos repórteres, alguns empresários , como Jorge Gerdau Johannpeter, criticaram publicamente o Custo Brasil, os juros, o real valorizado e, principalmente, a alta carga de impostos. Durante a reunião, Lula chegou a ouvir queixas de empresários, que cobraram a realização de reformas trabalhista, tributária e previdenciária, e a reclamação, da diretor do varejista Magazine Luiza, Luiza Trajano, de que o BNDES não financia adequadamente os investimentos das empresas de varejo. Mas houve, na saída, até quem defendesse, também provocado por repórteres, a manutenção da CPMF, que não foi tema do debate na reunião fechada, senão de forma velada.

A palestra de Lula sobre a economia e suas promessas de apoio à reforma tributária e aos investimentos em infra-estrutura agradaram muito os participantes da reunião. Ao sair, os empresários repetiam o argumento de Lula, de que o Executivo enviará sem demora a proposta de reforma tributária, cabendo aos parlamentares e aos governos estaduais avançar com o tema.

"Nós nos propusemos a ajudar para que a reforma tributária saia; as reformas precisam sair, o Brasil precisa delas para crescer", comentou Luiza Trajano. Não houve críticas ao argumento de Lula de que precisa da atual carga de impostos para garantir a sustentação dos programas sociais.

"Um ponto muito importante foi a garantia do presidente, que ele frisou bastante, de que não haverá problema de infra-estrutura, nem falta de energia", lembrou o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado. O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, também elogiou a "excelente" reunião com o presidente que, avaliou, é uma "motivação" para a continuidade dos investimentos, embora, segundo argumenta, ainda seja necessário fazer as reformas previdenciária, trabalhista e tributária para "desonerar" os investimentos.

"Ele está alimentando o clima, reforça o interesse em investir", endossou o presidente da PIN Petroquímica e presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Carlos Mariani.

Os empresários evitaram ligar a iniciativa de Lula e sua demonstração de prestígio com as grandes empresas à campanha que a Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp) promove para a extinção da CPMF. Gerdau e o vice-presidente sênior do Itaú, Alfredo Setúbal, chegaram a defender, ao entrar no Planalto, a redução gradual do imposto. Mas houve empresários, como José Carlos Grubisch, que defenderam a manutenção da CPMF, desde que compensada com a redução de outros tributos. Luiza Trajano, das Magazine Luiza, classificou o imposto de "justo", e José Carlos Pinheiro Neto, da General Motors, de "mal necessário".

Foi bem recebida pelos empresários a argumentação de Lula e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, de que o governo está empenhado em manter o crescimento e, por isso, os empresários precisam aumentar os investimentos, para garantir o atendimento da demanda sem provocar inflação. "Foi uma convocação aos empresários e mostrou estar disposto a discutir os problemas, como os tributos, num processo de convencimento", relatou o presidente da Camargo Corrêa, Vítor Hallack.

Ao contrário de outras reuniões com o setor privado, os executivos não insistiram nas críticas aos problemas na economia e seguiram o roteiro esperado pelo presidente, com declarações otimistas. Na reunião, vários anunciaram seus planos de investimento. Mesmo em conversas reservadas, executivos preferiam afirmar que ficaram satisfeitos com o teor das manifestações de Lula, de Coutinho e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O discurso oficial mostra avanço na compreensão dos problemas econômicos, e está longe das teses do PT, comentou, aparentando satisfação, um dos executivos.

O apelo do presidente Lula para que os empresários invistam mais na produção e busquem oportunidades no exterior dirigiu-se a uma platéia formada, em grande parte por empresários com boas relações com o Planalto, que participaram de viagens com o presidente a países da África e América Latina, e já anunciaram investimentos no país em outros mercados. Ainda assim, os executivos rejeitavam a idéia de que a pregação de Lula seria redundante para aquela platéia.

"Essa iniciativa muda muito, muda o clima, mostra um governo comprometido com o crescimento" comentou o presidente da Andrade Gutierrez, Sérgio Andrade, amigo de Lula. "O país atravessa sem problemas a crise externa provocada pelo mercado imobiliário dos EUA, aumentou a empregabilidade, a situação está indiscutivelmente melhor, como o ministro Mantega falou", elogiou José Antônio Martins, da Marcopolo. "Há um ciclo positivo, e o governo garantiu estar comprometido com a redução do gasto público", comentou Grubisch, da Braskem. A argumentação de Mantega recebeu alguns reparos, porém: embora, como mostrou o ministro, as despesas de pessoal tenham caído como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o que importa nas contas do setor privado são os números absolutos, e a relação entre despesa e receita, criticou Luiza Trajano, da Magazine Luiza.