Título: Câmbio compensa petróleo e segura alta de combustíveis
Autor: Schüffner,Cláudia ; Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Brasil, p. A4

A valorização do real em relação ao dólar está compensando a alta do preço do barril do petróleo e, por isso, afastando o risco de uma elevação do preço dos combustíveis no mercado doméstico, apesar da forte alta do petróleo no mercado internacional.

O preço médio do barril de petróleo tipo brent no mercado internacional, nos últimos três meses, ficou em US$ 74,23. Este valor é 20% superior ao preço médio do mesmo produto nos três meses que antecederam ao último reajuste de combustíveis feito pela Petrobras, em setembro de 2005, segundo levantamento do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). Naquele período (trimestre julho-setembro de 2005), a taxa média de câmbio ficou em R$ 2,34. Esse patamar caiu para R$ 1,93 nos últimos três meses, um valor 17,5% menor.

Exercício semelhante feito pelo Valor, mostra resultado semelhante. Para o economista Adriano Pires, do CBIE, é o câmbio que faz com que a defasagem de preços da Petrobras em relação ao mercado internacional não seja tão grande.

"Em termos de petróleo, o patamar já mudou há muito tempo. A Petrobras está se aproveitando da valorização do real frente ao dólar para não reajustar derivados", explica Pires. " O câmbio, de certa forma, neutralizou os efeitos da elevação do petróleo sobre os preços. Assim, o câmbio ajuda e permite que a defasagem não seja tão grande", acrescenta.

Pelas contas da Rosenberg & Associados, na média dos últimos 30 dias, o preço da gasolina na refinaria no Brasil ficou 3,68% abaixo do registrado nos EUA, na costa do Golfo do México. Na terça-feira, a defasagem era ainda menor - de 1,02%. Para o economista Otávio Aidar, da Rosenberg, a valorização do câmbio é de fato o principal fator a explicar uma diferença tão reduzida, apesar de o petróleo estar em níveis bastante elevados.

O economista Adriano Lopes, do Unibanco, estima, com base em números do dia 21, que a gasolina estava 2,3% mais cara no exterior do que no Brasil. Como Aidar, ele não acredita em reajuste de preços dos combustíveis neste ano. "Pela política que tem sido adotada pela Petrobras, a defasagem teria que ser bem maior, e seria necessário que ela se mantivesse por um período bastante longo - não algumas semanas, mas meses", diz Lopes, que também atribui ao dólar barato a pequena diferença entre as cotações domésticas e externas.

Aidar lembra ainda que tem havido muita volatilidade no percentual de defasagem. Em 18 de janeiro, por exemplo, os preços no Brasil estavam 21,78% mais altos do que os observados na região da costa do Golfo do México, dia em que o barril de petróleo WTI estava em US$ 50,48 e o câmbio, em R$ 2,13. Naquele momento, as cotações do petróleo estavam tão mais baixas do que hoje que, mesmo com um dólar mais caro por aqui, os preços da gasolina nos EUA eram inferiores aos do Brasil.

A nova escalada do preço do petróleo, que ontem fechou a US$ 80,30 (tipo WTI em Nova York), ainda não levou a Petrobras a reavaliar o preço da gasolina A (produzida em suas refinarias) antes da mistura com álcool, e do diesel. Os dois combustíveis estão sem reajuste desde 12 de setembro de 2005, quando a gasolina subiu 10% e o diesel aumentou 12%. Já o gás de cozinha (GLP) não tem reajuste desde 2002, já no final do governo FHC, e hoje a defasagem de preço é de 50% em relação ao mercado internacional.

O diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirma que a companhia está "atenta" aos preços internacionais mas ainda se sente "confortável" com os preços cobrados no Brasil.

"Sempre dissemos que trabalhamos com uma perspectiva de longo prazo. Nesse ano o (barril de) petróleo já esteve a US$ 50 e, em determinados momentos, a US$ 70. De uns dias para cá chegou a US$ 80. Trabalhamos aqui com uma média. Quando ele cai, ganho mais; e quando sobe, ganho menos", explica Costa. "Claro que se subir para US$ 90 vamos ter que reavaliar. Mas posso garantir que hoje não existe nenhum estudo na Petrobras para reajuste de preço", garante o diretor.

Questionado sobre a possibilidade de aumento do preço e sobre a possibilidade de a Petrobras estar diante de um novo patamar de preço por causa dos recentes aumentos internacionais, o diretor financeiro, Almir Barbassa, deu explicação semelhante à do CBIE. "O real também bateu recorde, mas para baixo. Uma coisa compensa a outra", explicou Barbassa.

Costa, do Abastecimento, afirma que ainda não é possível garantir que o petróleo vai ficar próximo ao patamar de US$ 80 ou baixar para US$ 60. Acrescenta que a companhia trabalha com um patamar de preços - que ela não informa - e está "satisfeita" até o momento. "Obviamente que se o preço vai chegar a US$ 90, e alguns bancos já estão estimando isso, e se criar um novo patamar, teremos que fazer reavaliações", diz Costa.

No governo petista, a Petrobras acelerou uma política iniciada no último ano do governo FHC, e optou por definir preços para os combustíveis tomando como base um determinado preço do petróleo. Ela definiu uma faixa de preço que funciona como um "amortecedor", evitando a contaminação da economia pela volatilidade de preços do mercado internacional. Há um viés de controle inflacionário que ninguém no governo admite. A companhia determina um preço para o petróleo processado em suas refinarias e acrescenta uma tarifa de frete (paridade de importação).