Título: Após leilão, Triunfo altera planos e reduz sua aposta em rodovias
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2007, Empresas, p. B1

O resultado das licitações de rodovias federais no leilão deste mês levou a Triunfo Participações e Investimentos a alterar sua estratégia de longo prazo. A participação das concessões rodoviárias na geração de caixa da companhia - quarta maior operadora de rodovias pedagiadas do país - estava prevista para alcançar 60% em 2010. Portos e energia elétrica, outras duas áreas de atuação da empresa de infra-estrutura, participariam com 20% cada uma. "Agora, buscaremos uma participação equânime entre os três setores. Nossa meta é de que cada um responda por um terço da geração de caixa no longo prazo", afirma Luiz Garcia, diretor-adjunto de relações com investidores da Triunfo.

A Triunfo teve uma participação tímida no leilão das federais. Conseguiu um modesto segundo lugar para a BR-393, no trecho de 200 quilômetros entre divisa dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro até o entroncamento com a rodovia Presidente Dutra. Ofereceu um deságio de cerca de 4%. A vencedora, a espanhola Acciona, ofereceu um deságio médio de 27% e entrou no leilão por força de liminar porque havia sido desclassificada anteriormente por falta de documentação. Apesar de ter sido derrotada, a Triunfo ainda não desistiu do trecho. Espera que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) conclua a análise dos documentos das vencedoras para decidir se entra com recurso. A brasileira e a espanhola já foram sócias no passado na concessionária Econorte, do Paraná.

A decisão da Triunfo de reduzir a importância das concessões rodoviárias em sua estratégia de longo prazo tem menos a ver com sua derrota no leilão deste mês e mais com as mudanças sinalizadas pelo leilão. "Está claro que os investidores estão preparados para pagar preços nas concessões rodoviárias que nós não estamos dispostos a pagar", afirmou Garcia, ressaltando que, em operações alavancadas, há uma diretriz aprovada em conselho determinando que o retorno tem de ser superior a 12%. Mesmo no caso das concessões rodoviárias paulistas que deverão ser leiloadas pelo governo José Serra (PSDB), a expectativa da Triunfo é de que a forte concorrência leve à elevação dos valores de outorga (recursos pagos ao governo e que influenciam a tarifa de pedágio).

Desde que a Triunfo abriu seu capital, em 20 de julho, as ações da empresa acumulam uma forte queda na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O papel caiu 17,89%, enquanto o índice da bolsa subiu 9,02% no período. Garcia diz que todas as empresas de concessões e de infra-estrutura acumulam queda no período (ver gráfico), em parte por conta do resultado do leilão de rodovias. Mas ele também admite que o papel tem sido penalizado pelo atraso no início da operação do Portonave, terminal portuário privativo de uso misto instalado em Navegantes (SC). O porto começou a ser operado no último domingo, dois meses depois do previsto, e é alvo de questionamentos da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec). A entidade argumenta que a companhia não tem carga própria que justifique o porto.

A Triunfo Participações e Investimento (TPI) tem 50% do Portonave. Os outros 50% pertencem à Backmoon Investments, uma empresa offshore sediada no Panamá. Embora no prospecto de abertura de capital a TPI informe que "não sabe ao certo quem é ou será o acionista controlador" da Backmoon, há indícios, segundo analistas, de que quem está por trás do sócio da TPI é a armadora suíça Mediterranean Shipping Company (MSC). "O atual diretor de operações do Portonave, Renê Duarte, foi um dos primeiros funcionários da MSC no Brasil", informou um especialista do setor, que preferiu não se identificar. Garcia, da TPI, não confirmou as informações sobre a MSC. Apenas esclareceu que o Portonave tem acordo com a armadora para que ela possa movimentar seus contêineres no porto catarinense.

Até maio, a TPI tinha uma participação de 16,67% no Portonave. Com parte de um empréstimo de R$ 200 milhões do banco de investimentos Credit Suisse (que coordenou a abertura de capital), a companhia adquiriu outros 33,3% do capital do porto. Também ampliou sua participação de 50% para 100% na Econorte. Com isso, a empresa conseguiu "engordar" seu portfólio antes de ir à bolsa. Mas foi obrigada a usar quase três quartos do que captou com a oferta primária (aumento de capital) para liquidar a dívida com o CS.

Na área de energia elétrica, a companhia tem a concessão para explorar duas usinas hidrelétricas em Goiás. O início da operação comercial das duas unidades está previsto para o primeiro semestre de 2010. Segundo Ana Cristina Carvalho, gerente de relações com investidores da TPI, a estratégia da empresa é manter o foco em geração de energia com centrais hidrelétricas de médio porte.