Título: Queda do dólar barateia investimentos
Autor: Moreira,Talita ; Valenti , Graziella
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2007, Empresas, p. B3

A queda persistente do dólar neste ano barateou os investimentos programados pela Brasil Telecom (BrT). A operadora deverá implementar os mesmos projetos gastando 20% menos do que o R$ 1,7 bilhão previsto no orçamento.

"Continuamos renegociando nossos contratos com fornecedores. Além disso, a redução na taxa de câmbio ajudou", afirmou o vice-presidente de finanças, Paulo Narcélio, numa teleconferência com analistas e investidores.

A BrT não foi a única a se beneficiar desse efeito. A redução de 14% que a moeda americana teve neste ano até o fim do terceiro trimestre, m setembro, quando estava em R$ 1,84, tornou mais eficientes os investimentos das empresas que compram equipamentos importados ou cujo preço tem referência no dólar. É o caso dos setores de telecomunicações, tecnologia da informação e de algumas commodities.

Nem todas as companhias optam por reduzir o valor do investimento num cenário como esse. Algumas acabam fazendo mais com o mesmo volume de recursos que haviam projetado.

A Net, prestadora de serviços de TV paga, banda larga e telefonia, economizou até setembro R$ 10 milhões com o dólar mais barato - pouco, diante dos desembolsos de R$ 720 milhões. Porém, a conta ficou mais folgada para bancar o crescimento das vendas, que tem acontecido num ritmo acima do previsto. Parte dos investimentos refere-se à compra dos decodificadores instalados na casa do cliente.

"Os investimentos ficaram mais eficientes. Além disso, estamos ganhando escala, o que também ajuda nas negociações com fornecedores", observou o diretor financeiro da Net, João Elek.

Para o chefe de análise do Unibanco, Carlos Constantini, no caso dos setores de telecomunicações e TI, soma-se o fato de que o preço dos equipamentos está em declínio. No entanto, ele observou que as empresas que possuem investimentos em moeda estrangeira e receita em reais, em geral, puderam se beneficiar do desempenho do câmbio.

Para a operadora de telecomunicações GVT, a retração do dólar compensou o aumento nas cotações internacionais do cobre e da fibra óptica, usados an construção da rede. Puxada pela demanda chinesa, a tonelada do cobre passou de US$ 5 mil para US$ 8 mil desde o ano passado. "Se a variação cambial ajudou de um lado, por outro os custos em moeda estrangeira subiram bastante", ponderou vice-presidente de administração e finanças, Karlis Kruklis.

Pouco menos da metade dos investimentos feitos pela GVT refere-se a importações ou a insumos com influência cambial. Numa grande operadora com rede mais antiga, esse percentual costuma ser maior.

Na BrT, os desembolsos nos nove primeiros meses do ano somaram R$ 790 milhões, 19% abaixo do mesmo período de 2006. A GVT investiu R$ 278 milhões.

No caso de companhias exportadoras, há um impacto negativo nas demonstrações financeiras - a Aracruz, por exemplo, atribuiu a queda de 6% no lucro líquido do terceiro trimestre, de R$ 261 milhões, à valorização dor real. Mas essas empresas também podem tirar proveito da situação se tiverem projetos contratados em moeda estrangeira. "O dólar também perdeu valor frente às commodities. Assim, cada real faturado faz mais investimento", ressaltou Constantini, do Unibanco.

O analista econômico do Santander, Constantin Jancso, afirmou que as empresas com receitas em dólar podem se sentir impelidas a elevar seus investimentos para compensar a perda de competitividade reduzindo custos. Também ficam mais fáceis investimentos no exterior, como os que foram programados pela fabricante de motores WEG.

Segundo Reginaldo Alexandre, analista da Ad Valorem Investments, esse movimento do dólar afetou o fluxo de caixa de empresas que investem em moeda estrangeira. "Havendo sobra de orçamento, o dinheiro pode ser usado para abater dívida e para ampliar o caixa."

Conseqüentemente, a empresa reduz o endividamento líquido, seja pela redução da alavancagem, seja pelo aumento das aplicações financeiras. A Votorantim Celulose e Papel (VCP), por exemplo, estampou esse reflexo no balanço do terceiro trimestre. As responsabilidades líquidas de R$ 1,8 bilhão em junho para R$ 1,5 bilhão em setembro.

Alexandre apontou também os casos de companhias que arrecadam essencialmente em reais e usam linhas de crédito externas de longo prazo, como Sabesp e Cesp. Nenhuma delas divulgou ainda os resultados trimestrais, mas os números deverão ilustrar a situação.