Título: Ganho com a diversidade
Autor: Luquet, Mara
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2007, Eu, p. D1

Um dos conceitos mais difundidos na área de finanças é o da diversificação dos investimentos para a redução do risco. Mas esse não é o único benefício da diversificação. Estudo com gestores de fundos de investimento americanos mostrou que a diversidade nos times de gestão melhora o desempenho da carteira.

O maior impacto está na diversidade de formação do time de gestores, segundo o trabalho assinado por Stefan Ruenzi, Alexandra Niessen e Michaela Bäer, todos professores do Centro de Pesquisas Financeiras da Universidade de Colônia na Alemanha. Fundos com alto grau de diversidade na formação dos gestores e com baixa diversidade social tendem a render 1,55% a mais do que as carteiras com uma composição inversa.

O estudo mostra que times formados com profissionais que vieram de diferes setores, por exemplo, apresentaram desempenho melhor na gestão de carteira dos fundos do que aqueles formados apenas com profissionais do mercado financeiro.

Esse é o primeiro estudo que investiga com profundidade a correlação entre diversidade e retorno dos fundos e os pesquisadores focaram em quatro campos específicos: formação profissional, sexo, classe social e idade. Dos quatro, o único que apresentou forte correlação com a rentabilidade foi a formação.

Um dos pesquisadores, Ruenzi, é um nome conhecido e respeitado neste campo de estudo e investiga há anos o comportamento do setor de fundos americano. Neste trabalho, ele e sua equipe mostram que a investigação desses aspectos é importante porque é um ingrediente que pode otimizar o trabalho dos gestores. "Os resultados ajudam para a composição ótima de grupos de trabalho", diz Ruenzi.

Eles analisaram 2.260 times de gestão nos EUA e acompanharam a performance dessas carteiras no período de 1996 a 2003. Os pesquisadores focaram fundos com gestão ativa, carteiras diversificadas e com 50% dos ativos em ações americanas.

Outro ponto da investigação foi se debruçar sobre o desempenho das carteiras de fundos de investimentos gerenciadas por times que apresentavam uma composição entre gestores homens e mulheres. A conclusão foi que o impacto é negativo quando se foca na diversidade sexual. Ou seja, times formados só por homens ou só por mulheres tendem a ter um resultado melhor.

Mas há uma boa explicação, segundo o estudo. Nos Estados Unidos (assim como no Brasil), são poucas as mulheres que estão no grupo de trabalho de gestores de fundos. No comando dessas equipes de gestão, os casos são ainda mais raros, No Brasil, por exemplo, apenas o ABN Amro e o Fator têm mulheres dirigindo as empresas de gestão de recursos.

A Securities and Exchange Commission (SEC), o orgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais americano, determinou desde 2004 que as empresas de gestão de fundos mencionasse cada um dos integrantes da equipe de gestão nos prospectos entregues aos clientes. Isso ajuda o investidor a ter uma idéia melhor de quem são as pessoas que estão definindo o destino de suas economias.

No Brasil, embora o setor de fundos tenha apresentado incríveis avanços nos últimos anos, são ainda poucos os investidores que conhecem ao menos o nome do fundo no qual estão aplicando. Mas este é um cenário que tende a mudar com a expansão do setor e, principalmente, com a queda nas taxas de juro. O investidor terá de pesquisar mais e diversificar mais se quiser melhores retornos. Os fundos de renda fixa ainda concentram a maior parcela do patrimônio do setor. Se somado o patrimônio de renda fixa e os fundos DI (renda fixa mais conservadora), o total chega a 49% do total de recursos.

Para buscar maiores retornos, o brasileiro precisará de informação. Não a informação privilegiada, de bastidores, mas a informação de qualidade, aquela que o ajudará a diferenciar o joio do trigo. Neste campo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais brasileiro, fez grandes avanços, inclusive com o lançamento do portal do investidor (www.portaldoinvestidor.gov.br) e com a maior transparência das carteiras dos fundos em sua página na internet (www.cvm.gov.br).

Ruenzi se dedica a investigar se conhecer os gestores na hora de escolher uma carteira faz diferença. Segundo ele, o último estudo deixa claro que saber qual o time por trás da gestão do seu dinheiro tem um impacto relevante. Ele explica que, se a diversidade de formação é alta, é natural que a informação disponível seja maior do que aqueles com uma diversidade menor, e isso pode explicar o melhor desempenho. "Com essa diversidade de formação maior são maiores, também as alternativas constantemente avaliadas pela equipe", diz.