Título: Câmbio já derruba grande exportador
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Brasil, p. A3

As maiores exportadoras de bens manufaturados do país estão reduzindo seus embarques. Como operam com contratos de longo prazo, que duram dois a três anos, e têm maior acesso a instrumentos financeiros, como o hedge, as grandes empresas são as últimas a sentir o efeito negativo do câmbio. Mas a valorização do real já se prolongou tempo suficiente para prejudicar a receita obtida por essas companhias no exterior.

Com base no ranking das 40 maiores empresas exportadoras do Ministério do Desenvolvimento, o Valor identificou 12 fabricantes de manufaturados, como automóveis, autopeças, celulares e máquinas. Metade dessas companhias diminuiu as exportações este ano e uma se esforça para manter as vendas. As cinco restantes ainda conseguem aumentar as vendas externas por motivos específicos (ver matéria abaixo). Estão fora dessa lista as empresas que vendem commodities, caso do aço e da celulose.

A Volkswagen, maior exportadora de carros do Brasil, diminuiu as vendas ao exterior em 1,3% de janeiro a setembro em relação a igual período de 2006, para US$ 1,7 bilhão, conforme a lista do Mdic. Essa queda ocorre após a montadora elevar as vendas ao exterior em 6% de janeiro a setembro de 2006 comparado com o mesmo intervalo de 2005 e em 37% de janeiro a setembro de 2005 em relação aos primeiros nove meses de 2004.

Na mesma comparação (janeiro a setembro/ janeiro a setembro), as exportações da fabricante de celulares Motorola caíram 6,5% em 2007, após alta de 36% em 2006 e 172% em 2005. Na Caterpillar, fabricante de máquinas, as vendas ao exterior cresceram 28,5% em 2005, 20% em 2004, mas caíram 3% este ano. O intervalo analisado também é janeiro a setembro em relação a igual período do ano anterior.

"A maioria dessas transações é entre matriz e filial. As multinacionais não perdem, já que atendem os mercados através de outras fábricas ao redor do mundo. É o Brasil que perde", avalia José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele explica que as filiais brasileiras não estão conseguindo renovar os contratos e o custo do hedge se tornou muito alto com o atual patamar do dólar.

As grandes empresas apontam a valorização do real como o principal motivo para a queda das exportações. Desde o fim de 2002, quando o dólar estava a R$ 3,5, a moeda brasileira acumula alta de 102,6%. Ontem, o dólar fechou a R$ 1,75. Outro fator que também reduz as vendas ao exterior é a atratividade do mercado brasileiro, que é amplo e está aquecido. Por conta disso, as multinacionais vendem seus produtos internamente e utilizam menos o país como plataforma de exportação.

No setor automotivo, a receita obtida por Ford, General Motors e Daimlerchrysler no exterior caiu, respectivamente, em 4,4%, 3,4% e 4% de janeiro a setembro em relação a igual período de 2006, segundo dados do Mdic. "A tendência é de queda, porque temos dificuldade para competir", diz Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford para a América do Sul.

O executivo diz que "o câmbio atual chegou para ficar", porque é resultado do fortalecimento dos fundamentos macroeconômicos. Enquanto as exportações da Ford, em volumes, devem recuar entre 15% e 20% esse ano, as vendas da empresa no mercado interno aumentarão 22%. Golfarb diz que é preciso agregar valor para seguir exportando. Ele informa que as vendas de caminhões no exterior, em unidades, devem recuar apenas 3% a 5% este ano, porque é um produto de valor agregado maior.

Na General Motors, a previsão também é de queda nas exportações este ano. Segundo a assessoria de imprensa, a empresa deve embarcar 150 mil veículos para o exterior em 2007, 30 mil a menos que em 2006. A fatia da exportação na produção da montadora deve ficar em 27% em 2007 e a perspectiva é recuar para 20% em 2008. No mercado interno, a GM deve vender 485 mil veículos em 2007, 20% a mais que 2006.

De janeiro a setembro de 2005 em relação a igual período de 2004, a fabricante de autopeças Robert Bosch elevou as exportações em 11%. "Foi o nosso melhor ano nas exportações. Embarcamos os contratos que ganhamos em 2003 e 2004", diz Edgar Garbade, presidente da empresa no país. Desde então, a Bosch diversificou mercados para manter suas exportações. "Perdemos nos Estados Unidos, mas começamos a exportar para a América do Sul", diz.

Nos primeiros nove meses do ano, a Bosch manteve estável as vendas ao exterior em US$ 519 milhões. A participação das exportações nas vendas totais, no entanto, estão em queda. Em 2005, a Bosch exportava 48% da produção. Esse percentual caiu para 43% em 2006, 41% este ano e deve atingir 37% em 2008. Já as vendas da companhia no Brasil devem crescer 25% em 2007, graças à expansão do setor automotivo. Garbade projeta investimentos de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões em 2008 para atender o mercado interno. "Se a exportação também estivesse crescendo, teríamos investido antes", garante.

O "boom" de exportação de celulares "made in Brasil" também pode estar no fim. De janeiro a setembro de 2005 em relação a igual período de 2004, a Nokia aumentou as exportações em 360%. Em 2006, a companhia decidiu abastecer o mercado dos Estados Unidos via México ao invés do Brasil. As exportações da filial brasileira caíram 48% naquele ano. Em 2007, a Nokia não figura entre as 40 maiores exportadoras do país, segundo a lista do Mdic.

Apesar da queda de 6,5% das vendas ao exterior de janeiro a setembro, a Motorola informa, via assessoria de imprensa, que espera manter o patamar de exportações em 2007 próximo ao de 2006. No mercado brasileiro, a empresa revisou para cima as projeções de vendas, que devem subir entre 20% e 25% este ano. "Como o mercado de celulares na América Latina também está em expansão, buscamos equilíbrio entre as vendas locais e exportação, priorizando o mercado brasileiro, mas sem deixar de atender os demais países", informou a empresa por meio de nota.