Título: Com uso de 82,4% da capacidade instalada, indústria repete 2004
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Brasil, p. A4

O uso da capacidade instalada na indústria chegou a 82,4% no terceiro trimestre, igualando-se ao último recorde, registrado no mesmo período de 2004. Os cinco segmentos com maior utilização foram metalurgia básica (91,4%), refino e álcool (91,4%), couros e calçados (90%), veículos automotores (88,7%) e máquinas e equipamentos (84%). Os cinco setores com maior folga foram material eletrônico e de comunicação (75,1%), edição e impressão (77%), madeira (78,2%), produtos químicos (79,2%) e móveis (79,2%).

Apesar da coincidência de índices em 2007 e 2004, os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca e Paulo Mol, dizem que a situação atual é diferente daquela de três anos atrás. Em 2004, o Banco Central (BC) preocupou-se com a rapidez do aumento do uso da capacidade e, temendo impacto inflacionário, aumentou os juros. Este ano, segundo a CNI, há um crescimento mais lento. Se em 2004, o uso cresceu 1,2 ponto percentual no terceiro trimestre sobre o período anterior, 2007 mostrou estabilidade num cenário de forte expansão na produção e nas vendas.

Outro fator citado foi o da capacidade de as importações, estimuladas pelo câmbio valorizado, impedirem elevações significativas de preços. Além dessas diferenças, Fonseca e Mol argumentaram que, em 2007, as importações de bens de capital e a formação bruta de capital fixo indicaram o aumento geral do investimento e, consequentemente, da capacidade instalada. "Não é adequado comparar o uso da capacidade com a de 2004. O avanço da tecnologia também permite que as empresas, em muitos casos, trabalhem com menos ociosidade", explicou Fonseca.

A utilização de 82,4% no terceiro trimestre ficou praticamente estável, se comparada com a do segundo trimestre (82,3%). Considerando apenas setembro, a média de uso da capacidade instalada na indústria foi de 82,7%, maior que o de agosto (82,2%) e o de setembro do ano passado (80,9%), na série que já considera ajustes sazonais. Há, portanto, um aumento de 0,5 ponto percentual de agosto para setembro, encerrando um período de três meses de estabilidade.

De acordo com os dados da CNI, a indústria vendeu, em setembro, 0,2% mais que em agosto, na série que considera os ajustes sazonais e desconta a inflação. Na mesma comparação, o emprego industrial aumentou 0,5% e as horas trabalhadas

na produção, 0,6%.

Os indicadores de setembro também mostraram boas variações sobre igual mês de 2006. As vendas e as as horas trabalhadas cresceram 2,8%, o pessoal empregado foi 4,2% maior e as remunerações pagas saltaram 5,7%, já descontada a inflação. No acumulado do ano, as elevações foram maiores para vendas (4,2%) e horas trabalhadas (3,7%), e levemente menores para pessoal (3,6%) e remunerações (5,1%).

Os economistas da CNI reconheceram que o desempenho de vendas e horas trabalhadas na produção permitem prever que, neste ano, o crescimento da atividade industrial será próximo do verificado em 2004. Há três anos, as vendas do setor cresceram 5,4% sobre 2003. No quadro otimista traçado para 2007, a maior atividade está sendo acompanhada pelos aumentos do emprego e da massa salarial, o que fortalece a demanda interna e realimenta a atividade. Apesar disso, alertam que a demanda interna não poderá sustentar por período longo o crescimento do país. Os gastos do governo, que estimulam o consumo, têm como limite a alta carga tributária.

Mol procurou destacar que o crescimento das vendas (janeiro a setembro) foi mais amplo que no ano passado, com apenas três setores mostrando redução: madeira, refino e álcool e material eletrônico e de comunicação. Os segmentos de máquinas/equipamentos e alimentos/bebidas representaram metade desse crescimento.