Título: Brasil deve se manter opção atraente, prevê Lara Resende
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Brasil, p. A4

O economista André Lara Resende está otimista em relação às perspectivas para o Brasil, mesmo acreditando que a situação da economia global daqui para frente será menos favorável do que nos últimos anos. "As circunstâncias são favoráveis para que o Brasil tenha um período de expansão e de crescimento", disse Resende. Para o ex-presidente do BNDES, com inflação sob controle, juros ainda altos e contas externas superavitárias, o país deve permanecer opção atraente de investimento ainda que haja desaceleração da economia americana.

Resende, que divide o seu tempo hoje entre Portugal, onde mora, e a Inglaterra, onde trabalha como consultor de investimentos, acredita que o Brasil pode se tornar "relativamente ainda mais atraente se os EUA se desaquecerem sem uma crise grave". "O Brasil só seria afetado por uma crise externa muito grave", afirmou, ressaltando que isso parece improvável mesmo para ele, que tem uma visão sobre a economia global mais pessimista que a da média de mercado.

Para Resende, a situação no mercado imobiliário americano é complexa e está longe de ter sido resolvida, podendo ter impactos mais fortes e prolongados sobre a economia dos EUA -- e, por tabela, do mundo - do que sugere o otimismo atual dos investidores.

Para o Brasil, porém, o quadro é bem diferente. "Raramente eu vi uma percepção tão unânime de que o Brasil é uma extraordinária oportunidade de investimento", disse ele, em palestra para convidados do Banco Modal, realizada ontem em São Paulo. Resende enumerou conquistas recentes do país, que ajudam a explicar o otimismo. Ressaltou que o Brasil "venceu o grande problema da inflação, mantendo políticas monetária e fiscal capazes de manter uma relativa estabilidade de preços". Além disso, houve avanços na condução da política monetária, obtida por meio da política de metas inflacionárias. "E isso foi feito em mais de um governo, o que dá uma percepção de mais sustentabilidade. Mudam-se os governos, mas as políticas são mantidas."

Outra vantagem do Brasil, diz, é que é "o único país grande do mundo onde não houve uma explosão imobiliária". O mercado de crédito habitacional melhorou nos últimos dois anos, mas nada próximo do que se passou em outras partes do mundo. Resende destacou ainda que o Brasil tem juros excepcionalmente altos, conta corrente muito superavitária e está deixando de ser um país devedor para se tornar um país credor. "O Brasil tem todos os atrativos para o investimento de curto prazo e de renda fixa."

Nesse cenário, apenas uma crise externa muito forte poderia afetar significativamente o Brasil. Essa turbulência mais grave, porém, não está em seu radar. Resende acredita que ainda há espaço para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) baixar os juros mais um pouco, embora diga que uma desvalorização mais forte e abrupta do dólar poderia dificultar a vida da autoridade monetária dos EUA.