Título: Lula vai negociar gás com Morales
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem ao presidente da Bolívia, Evo Morales, e marcou um encontro dos dois para o dia 12 de dezembro. Os dirigentes vão discutir a ampliação dos investimentos da Petrobras para extração do gás boliviano e Lula chegou a informar a Morales ter interesse em apoiar projetos de industrialização, na Bolívia, do gás produzido no país. Além do presidente, empresários brasileiros também serão convidados a integrar a comitiva, num claro sinal do interesse do governo em estimular investimentos no país vizinho.

Na conversa telefônica, de cerca de 15 minutos, Lula e Morales decidiram que, durante a Cúpula Ibero-Americana, no Chile, neste fim de semana, detalharão a pauta do encontro, que além do tema do gás deverá tratar dos investimentos brasileiros na Bolívia. Lula disse a Morales que quer firmar em dezembro "uma série de entendimentos", estimular investimentos na Bolívia, e estabelecer "um novo patamar na relação" entre os dois países, segundo relato de um assessor do presidente brasileiro.

"Todos nós sabemos que a Petrobras tem que fazer investimentos para que a gente possa ter mais garantias de que a Bolívia vai ter mais gás para exportar, não só para o Brasil, mas para o seu uso interno", disse ontem o presidente Lula. Hoje, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, estará em negociações em La Paz.

A parceria da Petrobras com o governo boliviano foi rompida após o decreto de nacionalização publicado pelo presidente Evo, em maio do ano passado. Esse cenário deve mudar, segundo Lula. "Eu penso que vai acontecer aquilo que nós queremos que aconteça, ou seja, que o Brasil viva tranqüilo na sua relação com a Bolívia", declarou o presidente.

Mais tarde, o porta-voz de Lula, Marcelo Baumbach, afirmou que a Petrobras está incluída no esforço do governo para estimular investidores na Bolívia. "No que diz respeito à Petrobras, especificamente, como nós sabemos, trata-se de uma empresa autônoma; o que existe é a determinação do governo brasileiro de fomentar esses investimentos", respondeu, ao lhe perguntarem se já estava tomada a decisão sobre a volta de grandes investimentos da estatal no país vizinho.

Lula manifestou-se confiante também com providencias para a construção do gasoduto em parceria com a Venezuela. Mas alertou que, por não dispor da matéria-prima (gás) suficiente para atender à demanda interna, o governo se vê obrigado a estabelecer algumas prioridades de abastecimento. "Vamos ter que, primeiro, garantir o funcionamento das termelétricas porque é para produzir energia para a sociedade brasileira. Depois, você tem as indústrias e, depois, os carros, porque ninguém colocou um tamborzinho de gás no seu carro porque quis, houve um incentivo para que ele fizesse aquilo", afirmou o presidente..

O governo descartou ontem, durante reunião da coordenação política, qualquer risco de desabastecimento de gás no Brasil. Segundo avaliação do núcleo dirigente do governo, a derrubada, no dia 1 de novembro, de uma liminar que obrigava a Petrobras a fornecer 1,2 milhão de metros cúbicos/dia de gás para a Usina Willian Arjona, de Mato Grosso e o retorno do regime normal das chuvas, garantirão o suprimento de gás.

Normalizado o cenário de curto prazo, os ministros confiam no planejamento de médio e longo prazo - a maior parte deles contidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - para manifestar a tranqüilidade de que não haverá qualquer risco de apagão no país. Dentre as ações, encontra-se o Plano de Antecipação da Produção Interna de Gás - PLANGÁS, a ser conduzido pela Petrobras, com o objetivo de elevar a oferta de gás nacional na Região Sudeste de 15,8 milhões de m3/dia em 2006 para 40 milhões de m3/dia no final de 2008 e para 55 milhões de m3/dia em fins de 2010.

Adicionalmente, o Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, por meio da Resolução nº 04/2006, caracterizou o fornecimento de gás natural liqüefeito - GNL - para o mercado brasileiro como prioritário e emergencial, criando, assim, condições para o início da operação do primeiro terminal de regaseificação de GNL no País em meados de 2008.