Título: Walfrido contém rebelião de governistas contra nomeações petistas
Autor: Vitale Jayme;Thiag ; Tarso Lira , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2007, Política, p. A6

O Palácio do Planalto precisou gastar muita conversa ontem para conter uma pequena rebelião na base aliada na Câmara. Irritados com as indicações dos petistas Maria das Graças Foster (diretoria de Gás e Energia da Petrobras) e José Eduardo Dutra (presidência da BR Distribuidora), em prejuízo dos outros aliados que também esperavam nomeações na Petrobras, as lideranças de alguns dos principais partidos governistas ensaiaram um movimento que poderia colocar em risco a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em debate no plenário da Casa.

No início da tarde, o ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, que foi "atropelado" pelas indicações feitas pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou os pemedebistas ao Planalto. Explicou que houve um mal-entendido e afirmou que as indicações (as duas do PT) eram técnicas. "A página foi virada, agora vamos votar a CPMF", confirmou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

A Câmara iniciou na semana passada a votação do imposto. Foi aprovado o texto base mas ainda faltam as análises de 36 destaques e emendas (dispositivos que alteram o texto da proposta de emenda constitucional).

Passada essa fase, o texto ainda terá de passar por um segundo turno de votações. Como se trata de uma PEC, o governo necessita de 308 votos em cada votação para fazer valer seus interesses.

Com a base inquieta, seria muito difícil vencer qualquer votação no plenário, ontem. O pequeno motim foi suficiente para transferir de ontem para hoje o início das votações de destaques e emendas.

Embora procurasse diminuir os efeitos da rebelião, o líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), reconheceu a dificuldade. "Não votamos porque não dava para abrir a votação de 36 emendas com parte da base insatisfeita", afirmou.

Havia um acerto entre os partidos da base aliada de que as nomeações sairiam de uma vez só depois da votação da CPMF. "Mas esse acerto estava um pouco truncado. Fomos tranqüilizados pelo presidente Lula", contemporizou Michel Temer, presidente do PMDB.

No encontro, o ministro repassou recado do presidente Lula segundo o qual o PMDB é "muito importante para o governo". Walfrido reclamou de algumas faltas e traições por parte de pemedebistas na votação do texto base da CPMF. Temer e Alves garantiram que, a partir de agora, esses parlamentares estarão em plenário. O ministro garantiu aos deputados que as nomeações reivindicadas pelo partido deverão sair "em seguida". Tudo indica que seja na próxima semana. Além da diretoria internacional da Petrobras, o PMDB reivindica cargos de chefia na Eletrosul, na Eletronorte, na Eletrobrás, em algumas delegacias de agricultura nos Estados e na Funasa.

A rebelião não partiu apenas do PMDB. O líder do PR, deputado Luciano Castro (RR), também não escondia a insatisfação com as indicações na Petrobras, já que indicações feitas pelo partido para outros cargos não saíram. "O que estamos querendo é ocupar os cargos do Ministério dos Transportes. Não é nada novo. São cargos do ministério administrado pelo PR", disse.

À noite, em uma tentativa de mostrar a confiança da base em Walfrido, todos os líderes aliados foram ao Palácio do Planalto levar um "abraço" ao ministro, que enfrenta denúncias de envolvimento com o mensalão mineiro. "E também deixar implícito que não tinha sido ele a romper o acordo com a base e sim, a ministra Dilma", confidenciou um líder aliado que participou do encontro.