Título: Onda de medo ajuda a ampliar a agonia na região
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2011, Brasil, p. 7

Diversos boatos tomam conta das cidades afetadas pelas chuvas. Em Teresópolis, um simples assalto acabou se transformando em histeria por um possível arrastão

Teresópolis (RJ) ¿ Em pânico, comerciantes do centro da cidade fecharam as portas no início da manhã, temendo saques. Os comentários sobre um grupo de ladrões à solta surgiram na Avenida Delfim Moreira, também conhecida como Calçada da Fama. Minutos depois, a polícia percorreu o local alertando que se tratava de um boato. Segundo o comandante do 30º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Júlio César Mafia, adolescentes roubaram aparelhos celulares numa loja e, na fuga, disseminaram a ameaça de uma onda de saques. ¿Isso é obra de quem quer atrapalhar mais ainda a cidade, em vez de ajudar¿, reclamou Mafia.

Visivelmente abalados, os comerciantes desconfiaram da tranqüilidade pedida pela polícia. Ailton Barros, dono de uma loja de materiais de construção, posicionou-se com um bastão na entrada do comércio, enquanto fechava as portas. ¿Meu Deus, isso é um desespero. Como as pessoas podem se aproveitar de um momento desse?¿, revolta-se o comerciante. Ele conta que nunca foi vítima de assalto nos três anos que mantém a loja no centro de Teresópolis.

Para a vendedora Viviane Carreiro, 27 anos, o recado da polícia não trouxe segurança. ¿Eles vão ficar aqui por acaso? Para verificar se alguém vai saquear a loja? A gente não pode ficar com medo a cada cliente que entra¿, reclama Viviane, funcionária de uma loja de artigos para casa. A boataria parece ter ultrapassado as fronteiras de Teresópolis. Em Nova Friburgo, também houve um comentário sobre saques em série. Mas nenhum registro concreto do problema foi feito às autoridades de segurança.

Pulseira, celular...

Enquanto nos centros das cidades atingidas, os boatos de saques parecem mais tentativas de se criar pânico, nos locais devastados pelas águas, a ameaça é real. Pedro Teixeira de Amorim, morador do Campo Grande, um dos bairros mais destruídos de Teresópolis, conseguiu resgatar uma bicicleta que um morador da área estava levando. ¿Cheguei bem na hora de evitar, senão ficaria sem a bicicleta. Pedi numa boa, não fiz confusão. Mas como é que eu deixo minha casa novamente?¿, questiona o homem de 42 anos. Na RJ-130, que liga Teresópolis a Nova Friburgo, município também muito atingido pelas águas, dois menores foram presos, na última quinta-feira. Com eles ¿ um de 17 e outro de 14, estava Rodrigo de Almeida Soares, de 27 anos.

O trio furtava uma casa vazia, no quilômetro 50, quando foi flagrado pela polícia no ato do crime. Eles iriam levar cinco relógios, um modem, R$ 1,5 mil, uma pulseira e um celular. Os vizinhos chamaram a polícia assim que perceberam o saque.

"Eles vão ficar aqui por acaso? Para verificar se alguém vai saquear a loja? A gente não pode ficar com medo a cada cliente que entra¿

Viviane Carreiro, vendedora