Título: Para Lula, discutir terceiro mandato é uma insensatez
Autor: Jayme, Thiago Vitale; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Politica, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, após cerimônia no Palácio do Planalto, que é "insensato qualquer pessoa ficar discutindo a possibilidade de um terceiro mandato". O presidente repetiu que o Brasil não pode brincar com a democracia, pois muita gente sofreu para que ela se consolidasse. "Ela está se fortalecendo. Eu era contra a reeleição de um mandato, por que seria favorável à reeleição de um outro mandato?", questionou.

Lula criticou a oposição - o PSDB ameaça não votar a prorrogação da CPMF enquanto ele, Lula, não negar peremptoriamente que esteja interessado em mais um mandato após dezembro de 2010. "Só interessa à oposição discutir agora as eleições. O governo está com menos de um ano do segundo mandato, nós aprovamos todas as coisas que deveriam ser aprovadas, a economia está funcionando bem. Por que nós deveríamos arrumar sarna para nos coçar?", indagou.

Para o presidente, é fundamental acabar o mandato com tranqüilidade, impedindo que "coisas atravessadas" venham a atrapalhar o bom momento vivido pelo país. "Neste momento, o Brasil não está precisando discutir 2010, 2014, 2020. É insensatez pura, falta de sensibilidade política". Lula afirmou que cabe ao PT e não a ele, tomar uma posição em relação à proposta levantada dentro do Congresso Nacional pelo petista Devanir Ribeiro (SP) e pelo deputado Carlos Willian (PTC-MG). Devanir é um parlamentar muito ligado ao presidente e ambos estão propondo medidas que levarão ao terceiro mandato consecutivo para Lula. "Ainda hoje (ontem) pretendo conversar com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, já conversei com o presidente Arlindo Chinaglia (da Câmara), porque não tem sentido".

Lula evitou comparar o debate brasileiro com as mudanças constitucionais promovidas pelo venezuelano Hugo Chávez, mas foi dúbio na defesa de quem procura perpetuar-se no poder. O petista disse que Chávez está fazendo o que acha que deve fazer. E criticou aqueles que atacam o venezuelano por buscar sucessivos mandatos. "É engraçado porque eu já vi a Margareth Thatcher ser tantas vezes reeleita primeira-ministra (britânica), já vi o Helmut Kohl ficar tanto tempo (como chanceler alemão) e eu nunca vi ninguém perguntar se sucessivos mandatos eram ruins", declarou o presidente.

Um ministro ouvido pelo Valor enumerou as diversas expressões ditas por Lula, como "depois de dezembro de 2010 vou assar meu coelho na panela de ferro em São Bernardo" ou "tudo o que eu quero é passar a minha faixa em 31 de dezembro de 2010 para meu sucessor e voltar para minha casa" para mostrar que Lula não quer e não vai tentar um terceiro mandato. "Ninguém de importância do PT defende isso. Mas os dirigentes petistas deveriam falar com Devanir para ele acabar com essa bobagem", afirmou o ministro.

Sobre a oposição, mais críticas. "O problema é que tem gente que tem dificuldades em aceitar que mudaram as regras do jogo com a partida em movimento para defender a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. E acham que todos são iguais a eles", provocou o ministro. No Senado, as declarações não ajudaram em nada a apaziguar os ânimos. "Eu já defendi a democracia ao lado do Lula, não tem nenhum problema em defendê-la sem ele. Quanto a essa fascinação por FHC, sugiro a Lula e aos petistas que façam terapia de grupo para se curar", devolveu o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

O líder do DEM, José Agripino Maia (RN), disse que Lula só agora começa a se colocar contrário ao terceiro mandato. Não por convicção, mas por conveniência. "Foi só os votantes favoráveis à CPMF começarem a reclamar da tese do terceiro mandato (numa alusão implícita ao PSDB) que Lula se diz contrário à proposta de seus companheiros. Por que não reagiu de bate-pronto? As palavras dele agora não são nada críveis", afirmou Agripino. "Esse debate não vem de agora, ele se arrasta desde o Congresso do PT, no final de agosto", lembrou o parlamentar.