Título: Governador da Bahia rejeita mudança de regras
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Politica, p. A11

O governador baiano Jaques Wagner (PT) disse hoje que irá pessoalmente se empenhar para impedir a aprovação de uma emenda constitucional que crie um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta é defendida por alguns deputados, entre os quais o petista Devanir Ribeiro, de São Paulo. "Acho um absoluto desserviço qualquer iniciativa neste sentido e eu me insurgiria contra ela. Este movimento não corresponde à história do PT, que sempre trabalhou com o conceito de instituições partidárias fortes e não de indivíduos insubstituíveis", afirmou.

De acordo com Wagner, até mesmo a discussão da ampliação dos mandatos para cinco anos, com validade já na próxima eleição, em troca do fim do instituto da reeleição, é uma alternativa melhor. "Isto é muito mais lógico e eu pessoalmente acho que não há qualquer problema, ainda que isto me afetasse, já que tenho direito à reeleição", afirmou.

O governador baiano indicou, entretanto, que é contra qualquer mudança constitucional, inclusive a prorrogação dos mandatos em troca do fim da reeleição. "O maior valor que temos no Brasil é a perenidade das instituições, as regras claras tanto no plano econômico como no plano político", disse. Segundo Wagner, o presidente tratou do tema consigo em várias ocasiões. "Ele várias vezes deixou claro que não aceita sequer discutir a hipótese".

Presente em São Paulo para uma exposição na Fiesp sobre as oportunidades de investimento na Bahia, Wagner lembrou que seu nome eventualmente é citado como opção petista para a presidência em 2010 e disse que a existência de dois candidatos à sucessão de Lula dentro da base governista é possível.

"A candidatura única na base governista é um interesse muito mais dos pretendentes do que do presidente. A existência de dois candidatos poderia levar a uma eqüidistância, o que não seria bom para nenhum dos candidatos da base", disse o governador, ressalvando que o partido deixou aberta no Congresso nacional da sigla, no início de setembro, a possibilidade de apoiar um candidato da base aliada não-petista. "O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é uma possibilidade, mas não a única. O PMDB também procura um nome e o PT da mesma forma", disse.

Ex-ministro do Trabalho e da Coordenação Política no governo Lula, Wagner é um oponente dentro do PT à atual direção da sigla. O governador declarou apoio público à candidatura do deputado José Eduardo Cardozo (SP) à presidência do PT, na eleição interna que irá ocorrer no dia 2 de dezembro.

Cardozo é o representante do grupo "Mensagem ao Partido", que reúne a tendência Democracia Socialista, de origem trotskista e ministros como Tarso Genro (Justiça) e Fernando Haddad (Educação).

"Não se pode eternizar certas situações, senão inevitavelmente se ficar com preguiça de renovar. Oxigenar é muito positivo e sou muito simpático à alternância", afirmou. Apesar da manifestação pública, contudo, Wagner, assim como outros governadores petistas, recusou-se a assinar o manifesto de lançamento do novo grupo partidário. Apenas os integrantes da Democracia Socialista, como a governadora paraense Ana Júlia Carepa e a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, o fizeram.

Ao lado do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, um opositor da aprovação da emenda constitucional que prorroga a vigência da CPMF, Wagner defendeu a aprovação da emenda da maneira como propôs ao governo e sinalizou que o Planalto não precisa discutir uma partilha de recursos da contribuição com os Estados. " Meu Estado recebe por ano R$ 3 bilhões em programas como o Bolsa Família e em benefícios continuados. Consegui negociar dentro do governo a ampliação das verbas para a Saúde. Quando se fala em partilha, é importante lembrar que a melhor distribuição dos recursos pode vir dentro dos próprios programas do governo", afirmou Wagner.