Título: PT pressiona governo pela coordenação política
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2007, Poítica, p. A10

O PT rompeu a cautela de líderes e ministros do governo que buscam, no episódio do mensalão mineiro, o menor atrito possível com o PSDB, preservando, dessa forma, o ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia. A executiva nacional petista decidiu ontem partir para o enfrentamento com os tucanos, cobrando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, uma resposta rápida às denúncias de caixa 2 na campanha do senador Eduardo Azeredo ao governo de Minas, em 1998. E a denúncia formal de todos os envolvidos, caso as acusações sejam de fato comprovadas.

Essa pressão não exclui Walfrido, até porque o PT pressiona para ficar com o cargo. "Walfrido não é problema do PT. É problema do governo e do PTB", afirmou, secamente, um dos vice-presidentes do PT, Jilmar Tatto (SP). Os petistas ironizam ao questionar porque o escândalo político de 2005 foi batizado de "mensalão do PT" e, agora, o episódio Azeredo é chamado, "laconicamente", de mensalão mineiro. "É mensalão do PSDB. Toda a cúpula do PSDB mineiro está lá, porque poupar um presidenciável tucano"? questionou o secretário de comunicação do PT, Gleber Naime, numa alusão ao atual governador de Minas, Aécio Neves.

Esse aprofundamento significa que o PT não faz questão de poupar Walfrido. Não vão pedir explicitamente a "cabeça" do ministro petebista, caso Antonio Fernando de Souza venha de fato a denunciá-lo como participante do mensalão mineiro. "O presidente escolheu o Walfrido para o cargo sem consultar a opinião do PT. Não podemos agora querer nos intrometer nisso. Cabe ao presidente Lula avaliar se demite ou não o ministro", declarou um dos vice-presidentes da legenda.

O PT é um dos principais interessados na saída de Walfrido, pois cobiça o cargo de coordenador político do governo. "Nós entendemos que esse é um cargo nevrálgico, que deve ser ocupado por alguém que tenha trânsito na base, articulação junto ao PT e uma interlocução forte e confiável com o presidente Lula", enumerou Tatto. "Por isso, o PT é o partido mais indicado para ocupar essa vaga".

Tatto busca, em outros momentos, ser um pouco mais diplomático. Reconhece que todos os ataques a integrantes da coalizão governista acabam por enfraquecer o governo. Mas volta à carga ao declarar que Walfrido já está fragilizado ao ver seu nome mencionado no inquérito da Polícia Federal. Ele exime o PT de responsabilidade na defesa do ministro petebista. "Outro dia o Roberto Jefferson (PTB-RJ) fez um horário eleitoral atacando o governo de ponta a ponta. Quem deve defender os correligionários é o Jefferson, não nós. O PT já tem problemas demais para defender seus filiados, para que vamos arrumar mais trabalho para apoiar os demais"?

Um dos principais fiadores da permanência de Walfrido no governo, o ministro das Comunicações, Franklin Martins, não gostou nada da postura do PT. Depois de ouvir novamente as palavras de Tatto, ele afirmou ao Valor. "O Walfrido não é um problema do governo. Ele é um ministro do governo, alguém que vem exercendo um papel fundamental na coalizão e que tem total apoio do presidente Lula", resumiu o ministro, que integra a coordenação política de governo.

Enquanto busca centrar fogo no PSDB - se atingir Walfrido, paciência - o PT abriu de vez a disputa interna pela presidência da legenda. Apesar das resistências internas fortes, vindas de diversos setores do partido, a tendência "Construindo um novo Brasil", antigo campo majoritário, tende a confirmar o nome de Marco Aurélio Garcia como candidato a presidente da legenda. Durante a reunião da Executiva Nacional de ontem, Berzoini repetiu seus argumentos anteriores de que "o cargo de presidente do PT exige dedicação total", algo que ele não pode oferecer no momento.

Segundo pessoas que acompanham a disputa de perto, Berzoini desistiu de disputar a reeleição por sentir-se 'desprestigiado' junto ao presidente Lula. Berzoini perdeu interlocução com o presidente desde o escândalo dos aloprados, durante a campanha presidencial do ano passado. Berzoini foi obrigado a afastar-se do comando de campanha, cedendo lugar para Marco Aurélio Garcia.

Outro candidato praticamente confirmado é Jilmar Tatto, que integra a corrente "PT de Luta e de Massas", ligado à ministra do Turismo, Marta Suplicy. Tatto aposta no apoio do Movimento PT e do Novos Rumos, para forçar um segundo turno. "Vai ser o Marco Aurélio tentando mostrar independência de Lula e eu, tentando provar que não sou tão oposição ao Planalto". Concorrem ainda Valter Pomar, pela articulação de esquerda. Não há definição ainda se o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) vai apresentar seu nome para a disputa interna.