Título: Logística atrapalha e eleva preço de insumos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Especial, p. A16

No discurso feito a empresários brasileiros e angolanos na curta visita feita a Luanda, nos dias 17 e 18 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou as empresas brasileiras a não se limitarem a exportar produtos e serviços para Angola, mas a construir fábricas no país. Este seria um diferencial da participação brasileira na reconstrução angolana, toda ela feita com bens importados.

Menos de uma semana após o discurso de Lula, o grupo Camargo Corrêa anunciou que pretende construir duas fábricas de cimento em Angola e outra em Moçambique, um investimento total de US$ 270 milhões. Por enquanto, as obras da Camargo em território angolano seguirão sendo abastecidas com cimento brasileiro.

Na semana em que a reportagem do Valor esteve em Luanda, houve um repique no preço do cimento justamente por atraso na chegada do produto importado. Angola sofre de um fenômeno batizado pelos especialistas de "inflação logística": por culpa do congestionamento permanente do porto de Luanda, a barra da capital angolana vive coalhada de navios esperando para atracar. Às vezes, a demora provoca escassez, com reflexo sobre os preços.

O cimento é um produto vital na Angola de hoje. Até os tijolos usados nas construções dos musseques (favelas) menos precários são de cimento. O produto é fundamental para as construtoras, não só brasileiras, que espalham canteiros de obras pelo território angolano. Entre as brasileiras, estão quase todas as grandes, como Camargo Corrêa, Queiróz Galvão, Andrade Gutierrez e a Odebrecht.

A construtora baiana é percebida pelo habitante comum de Luanda como uma espécie de ministério de obras públicas do país. "Aqui falta um hospital, mas a Odebrecht logo vai construir", diz com naturalidade Daniel, um dos motoristas que serviram à reportagem. Presente no país desde os primeiros anos da guerra civil, a Odebrecht participou das maiores obras feitas em Angola, incluindo a hidrelétrica de Capanda (520 megawatts) e os sistemas de abastecimento de água de Luanda e de Benguela, as duas maiores cidades do país, passando por casas populares e pelo Belas Shopping, o primeiro de Luanda, do qual é sócia.

Atualmente, a Odebrecht dedica-se também à construção de casas e de apartamentos de Luxo, que podem custar até US$ 2,2 milhões cada. Segundo seu diretor de Planejamento e Administração em Angola, Genesio Couto, tem 14,5 mil empregados no país africano, sendo 1,010 brasileiros. (CS)