Título: Segmento de jatos vai ultrapassar os US$ 200 bi em vendas até 2017
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Empresas, p. B8

O congestionamento dos grandes aeroportos, o processo de internacionalização das companhias e o acelerado crescimento econômico levaram a Embraer a aumentar em 20% suas projeções de crescimento do mercado mundial de aviação executiva. As estimativas, preliminares, indicam que entre 2008 e 2017 as vendas da categoria devem movimentar US$ 201 bilhões, elevando a frota atual de pouco menos de 3 mil unidades para 13,1 mil jatos. Para o período 2007-2016, a Embraer estimava faturamento mundial de US$ 170 bilhões e cerca de 11 mil jatos. Apesar do salto, as estimativas são modestas se comparadas à da Bombardier, líder do segmento executivo. As projeções atuais da canadense prevêem vendas médias de US$ 23 bilhões por ano entre 2007 e 2016. No período, serão entregues anualmente cerca de mil aeronaves. Em 2006, as vendas de jatos somaram US$ 16,5 bilhões em todo o mundo.

"O jato se tornou uma ferramenta de trabalho; ele otimiza tempo", afirmou o vice-presidente de aviação executiva da Embraer, Luís Carlos Affonso. Prestes a alcançar a casa das 600 unidades vendidas do projeto Phenom (nas versões 100, para 8 ocupantes, e a 300, para 9), a companhia prepara para o fim do ano que vem a entrada em operação do jato Phenom 100. As economias emergentes deverão puxar o crescimento do setor, como China, Leste Europeu e a América Latina. A queda de um Learjet 35 em São Paulo, no último domingo, também não deve arrefecer os negócios, segundo um especialista ouvido pelo Valor. "O aumento das vendas deverá exigir a ampliação dos serviços de manutenção e tornar mais rigoroso os critérios de segurança dos fabricantes", disse. O Learjet 35 pertence à Bombardier, e deixou de ser produzido em meados da década de 90, sendo substituído por modelos mais modernos.

Apesar desse gigantesco potencial, a batalha não deve ser fácil nos próximos anos. Pelo menos 20 novos projetos estão sendo avaliados pelos fabricantes. Embraer, Dassault e Bombardier vão colocar em operação diversos modelos até 2009. Hoje o mercado possui cerca de 40 modelos de jatos, divididos em nove categorias. Os preços partem de US$ 3 milhões e podem ultrapassar, facilmente, a casa dos US$ 50 milhões, dependendo do grau de sofisticação exigido para o interior da cabine.

Novata no mercado (com apenas um jato em linha, o Legacy 600, e desenvolvendo os Phenom 100 e 300 e o Lineage 1000), a Embraer vai concorrer com medalhões do mercado (como a própria Bombardier, Gulfstream, Cessna, Dassault e Raytheon). Enfrentará também a concorrência de outras estreantes, principalmente no nicho "de entrada" , o very light jet - VLJ (a mesma do modelo Phenom 100), como o Adam 700, Honda Jet e Piper Jet. Segundo as estimativas da companhia brasileira, o VLJ deverá responder por 26% da frota até 2017, cerca de 4% das vendas.

A Embraer não esconde que quer estar entre os principais nomes da aviação executiva. Mas a luta será árdua. Apesar de já ser considerada a sexta maior da categoria, seu faturamento (R$ 1,3 bilhão com as vendas de jatos em 2006) ainda está bem longe das líderes Bombardier (US$ 4,7 bilhões), Gulfstream (US$ 3,63 bilhões) e Cessna (US$ 2,97 bilhões). Todas elas possuem uma linha extensa de produtos. "Estamos trabalhando para criar um portfólio completo, abrangente", afirmou o executivo. Tanto que a companhia levou para a 60ª exposição da National Business Aviation Association (NBAA), maior feira do gênero do mundo, um mockup (maquete em tamanho real) de um jato entre as categorias mid light e midsize (10 a 12 ocupantes).

Colhidas as observações do público, especialistas e fabricantes de equipamentos, a Embraer voltou à prancheta para fazer o cálculo dos custos do projeto de duas novas aeronaves, que podem ser incluídas na linha Legacy ou na família Phenom.

"Se saírem do papel, os jatos vão exigir o desenvolvimento de novas turbinas", disse Affonso, que admite que os principais fornecedores de peças também já foram consultados. Segundo o vice-presidente, entre as exigências para o desenvolvimento do projeto estão o peso da aeronave, os níveis de ruído e de emissão de poluentes. Affonso não quis estimar o valor do projeto. Só para se ter uma idéia, o desenvolvimento do projeto Phenom exigiu US$ 240 milhões. "Poderemos nos utilizar do know-how conseguido com o desenvolvimento do Phenom", afirmou.

A Bombardier disse na semana passada que possui 65 cartas de intenção de compra de uma nova familia de jatos posicionada entre os segmento midsize e supermidsize, chamada Learjet NXT. A apresentação do modelo está marcada para outubro de 2008, comemorando os 45 anos do primeiro vôo de um Learjet. Já a européia Dassault Falcon deve colocar em operação no ano que vem o 2000DX, jato da categoria superlarge que substitui um modelo ultrapassado.

As estimativas da Embraer mostram que os light jets (categoria do Phenom 300) corresponderão, em 2017, a 22% da frota mundial e 9% do faturamento. Estados Unidos, Canadá e Caribe vão responder por 53% das vendas; Europa, África e Oriente Médio, 30%. A região latino-americana concentrará 3,2% da frota; a Asia, 10,5% e China sozinha 3%. Hoje, a China possui apenas 0,3% da frota mundial. A companhia também projeta crescimento mundial do PIB em 3,4%.