Título: Do centro ao interior
Autor: Martins, Victor ; Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2011, Economia, p. 18

Em busca de maiores chances de crescer, trabalhadores estão partindo das grandes cidades e levando, com eles, prosperidade

Trânsito congestionado, alto custo de vida, poluição e filas fazem parte do dia a dia dos habitantes das grandes metrópoles brasileiras. Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte estão abarrotadas de gente e são cada vez mais dispendiosas tanto para empresas quanto para quem sonha com uma terra de oportunidades. Nos anos 2000, a dinâmica interna dos fluxos migratórios acompanhou as transformações da nova ordem global. Ao mesmo tempo em que brasileiros retornam de países como Estados Unidos e Japão, por enxergarem melhores condições de vida aqui, a velha aglomeração de trabalhadores nos grandes centros do Sul e do Sudeste lentamente voltou a se dispersar.

No lugar do nordestino em fuga da seca, os novos migrantes têm alta renda e qualificação profissional. Eles demandam serviços, lazer e comércio de forma a puxar o desenvolvimento da cidade onde se instalam e a criar um ciclo de atração para novos trabalhadores. O Nordeste de hoje não só retém a mão de obra local, mas atrai profissionais de todas as regiões. A previsão é que, só para a Refinaria Abreu e Lima, que será instalada no complexo industrial de Suape, perto de Recife (PE), 20 mil trabalhadores serão contratados durante o pico das obras, em um investimento de US$ 13 bilhões. Mais 4 mil vagas serão preenchidas pela montadora da Fiat, que abrirá uma fábrica no mesmo polo até 2014.

Situação semelhante à de Pernambuco pode ser observada na Região Norte, mais precisamente em Rondônia, onde a construção das hidrelédricas de Santo Antônio e Jirau funciona como foco de atração de mão de obra qualificada. No Centro-Oeste, o polo de desenvolvimento gira em torno das atividades do agronegócio, que usa como bases de apoio cidades como Anápolis (GO) e Sinop (MT). ¿Na era tecnológica e científica, um simples trabalhador da colheita da soja tem de ter noções de inglês e informática para conseguir operar as máquinas¿, comenta Aldo Paviani, professor do departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB).

A mudança no fluxo migratório ocorre também no movimento das capitais para o interior. No estado de São Paulo, a riqueza de cidades como Ribeirão Preto, Araraquara e Rio Claro atrai empresas e profissionais. Com a saturação da capital paulista, as companhias consideram mais lucrativo em termos de mobilidade e custos de instalação e de mão de obra, ir para as cidades médias. No Rio de Janeiro, a situação é semelhante.

Localidades como Cabo Frio e Angra dos Reis despontam como focos para atração de investimentos e trabalhadores, devido à exploração de petróleo. ¿Com a expectativa de dobrar o PIB em 10 anos, a velocidade do mercado de trabalho vai demandar cada vez mais profissionais qualificados. O ambiente é positivo no Brasil todo, mas esse movimento é maior na periferia do que no centro-sul¿, avalia Valdeci Monteiro, diretor da Ceplan Consultoria.

Desconcentração

A participação da indústria da capital fluminense no Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) caiu 9% entre 1999 e 2008. Em São Paulo, a queda foi de 7,4%. O Brasil ingressou de vez em uma nova fase de desenvolvimento econômico, focada na desconcentração populacional e da prosperidade. Em 1970, 15% dos brasileiros viviam em 80 cidades com população entre 100 mil a 500 mil habitantes. Hoje, a proporção subiu para 24% em 233 municípios.