Título: Lucro líquido do Bradesco cresce 73,6% com a expansão do crédito
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Finanças, p. C14

O Bradesco anunciou ontem ter obtido um lucro líquido de R$ 1,81 bilhão no terceiro trimestre, acumulando R$ 5,817 bilhões nos primeiros nove meses do ano. Puxado pelas operações de crédito, o resultado é 73,6% superior ao de igual período de 2006 e o maior já registrado por um banco brasileiro nos últimos 20 anos, segundo a consultoria Economatica.

Apesar disso, as ações preferenciais do Bradesco caíram 2,32% para R$ 56,20, ontem, superando a baixa de 1,7% do índice Bovespa, afetadas pela desconfiança dos investidores com os papéis de bancos, depois de o Citigroup ter anunciado mais perdas no mercado de hipotecas e crédito.

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou, porém, que não há nenhuma possibilidade de os bancos brasileiros passarem pelos mesmos problemas que os americanos. "O Brasil está imune a esse problema. As operações aqui são garantidas desde que foi aprovada a alienação fiduciária dos imóveis e não há refinanciamentos, como nos Estados Unidos. Financiamos até 80% do valor dos imóveis", disse Cypriano.

Mas, é grande a expectativa dos bancos de crescer com a expansão do crédito imobiliário. Como lembrou Cypriano, o crédito imobiliário representa cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). O Bradesco estima que chegará a 12% em 2014. Nos Estados Unidos, equivale a metade do PIB.

"Temos um espaço enorme para crescer. Há uma demanda de 7,2 milhões de unidades habitacionais", disse Cypriano. E isso já está acontecendo. O Bradesco esperava destinar R$ 3 bilhões ao crédito imobiliário neste ano e a meta já foi atingida em outubro. Agora, prevê R$ 4 bilhões em 2008.

O banco reclama a posição de líder entre os privados no crédito imobiliário, com uma fatia de mercado de 22,6%. Ao final de setembro, a carteira de financiamento imobiliário para pessoas jurídicas somava R$ 1,362 bilhão, com expansão de 87,1% em doze meses; e a destinada a pessoas físicas, de R$ 1,404 bilhão, com aumento de 40,1% no mesmo espaço de tempo. A produção totalizou R$ 1,205 bilhão no terceiro trimestre, envolvendo 10,8 mil imóveis.

A carteira de crédito imobiliário foi uma das que mais cresceu nos últimos doze meses, com 60%. Só foi superada pela linha de cartão de crédito, cujo aumento de 61,8% em doze meses, para R$ 7,230 bilhões, reflete a aquisição do American Express.

Outro destaque foi a expansão do crédito consignado e do financiamento de veículos. A linha de consignado aumentou 41,69% nos doze meses terminados em setembro, chegando a R$ 5,608 bilhões, engordado pela compra do BMC, cuja incorporação foi aprovada em agosto. Já o financiamento de veículos cresceu 24% no mesmo período para R$ 19,556 bilhões.

Na média, o Bradesco acompanhou o mercado de crédito em geral. A carteira total do banco atingiu R$ 140,093 bilhões em setembro, com crescimento de 27% em doze meses e 7,1% no terceiro trimestre, em comparação com 28,7% e 7,6% do mercado de crédito com recursos livres.

As operações de crédito para pequenas e médias empresas puxaram a média, com expansão de 33% nos doze meses terminados em setembro, quando a carteira atingiu R$ 37,379 bilhões. Em seguida veio o crédito para pessoas físicas, que cresceu 28,5% para R$ 54,383 bilhões.

Cypriano afirmou que o Bradesco está cumprindo a promessa de ampliar o crédito entre 21% e 27% neste ano. Para o próximo ano, a expectativa é que o crédito cresça menos, entre 20% e 25% por causa da previsão de uma expansão menor do PIB, de 4,37% em comparação com os 4,91% deste ano.

Mas não há preocupação com os resultados porque o ritmo de queda dos juros básicos vai diminuir. O Bradesco prevê que a Selic, atualmente em 11,25%, vai fechar o ano nesse mesmo patamar e recuará a 10,25% no final de 2008.

Segundo o vice-presidente Milton Vargas, o banco deixa de ganhar R$ 200 milhões a cada ponto que a taxa Selic cai. O ajuste foi pior nos dois últimos anos, depois que a Selic saiu de 18%. Agora, o ajuste é bem menor e pode ser compensado pelo aumento dos negócios, como ocorreu nos últimos anos.

Capital o Bradesco tem para isso. Ao final de setembro, o patrimônio líquido do banco atingiu R$ 29,2 bilhões, colocando o índice da Basiléia em 14,2%. Segundo Cypriano, isso é suficiente para a carteira crescer R$ 78 bilhões. "O clima de confiança nas famílias, com aumento de renda e nível de emprego nos dá conforto para isso", disse Cypriano, que espera que o país seja elevado a grau de investimento no próximo ano por pelo menos uma agência de rating.

A expansão do crédito levou o Brades co a ampliar as despesas com provisões embora a inadimplência esteja estabilizada e até com tendência a queda. As despesas com provisões acumularam R$ 3,942 bilhões nos nove primeiros meses deste ano, 22,3% a mais do que em igual período de 2006. Mas, o percentual de crédito com atraso acima de 90 dias era equivalente a 3,5% da carteira em setembro, praticamente estável em comparação com 3,4% um ano antes.