Título: Câmara e Assembléias lideram fidelidade do eleitor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Politica, p. A8

Apesar do grande número de partidos no cenário político, o eleitor tem votado cada vez mais nas mesmas legendas nas disputas para a Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa. A taxa de mudança da preferência por uma legenda ainda é alta em todo o país, mas está caindo nas eleições presidenciais e para o Legislativo.

Nas disputas para a Presidência, a tendência de manter o voto nos mesmos partidos já é observada há quatro eleições, com a polarização entre PT e PSDB. A média, desde a redemocratização, é de 43,87%. Nas eleições para deputados federal e estadual a queda está se acentuando e a média de trocas do voto em uma legenda, feita pelos eleitores, é menor do que a da eleição nacional: 38,37% para a Câmara e 32,67 % para as Assembléias.

Os dados fazem parte do estudo sobre sistema partidário brasileiro e a volatilidade eleitoral entre 1982 e 2006, das pesquisadoras Denise Paiva Ferreira, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Simone Bohn, na York University, apresentado no 31º encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Quanto mais os eleitores mudam de preferência por partido de uma eleição para outra, maior é a taxa de volatilidade eleitoral.

Nas eleições para a Câmara e para a Assembléia, observam as pesquisadoras no estudo, mesmo com um grande número de partidos e de candidatos e de uma alta carga de informações, os eleitores mostraram-se mais fiéis às escolhas que fizeram em outros pleitos.

A queda da volatilidade eleitoral tanto na escolha para a presidência quanto para a Câmara dos Deputados, depois de 2002, coloca o Brasil como um dos países sul-americanos com menores níveis de volatilidade eleitoral.

A estabilidade do voto no país, entretanto, é diferente nas eleições para o Senado e para o governo estadual. As taxas de volatilidade são bem mais altas e a do Senado chega a ser o dobro da encontrada nas Assembléias Legislativas: 64,5% de mudança nas escolhas dos partidos dos senadores ante 32,67 das votações para deputados estaduais. Para governador, mais da metade mudou a preferência partidária: 54,36 na média feita entre as eleições desde 1982. Segundo Denise, ainda não há estudos que expliquem o motivo dessa diferença, mas ela aponta uma hipótese: "Nas eleições para senador e governador, o eleitor centra sua escolha na figura do candidato." As qualidades pessoais são enfatizadas em detrimento ao vínculo partidário do candidato.

Há também diferenças entre as regiões. Nas eleições presidenciais, a maior volatilidade foi registrada no Sul e menor, no Sudeste. Já os eleitores sulistas foram os mais que mais mantiveram o voto no partido dos candidatos à Câmara, Senado e governador.

Nas disputas pelas vagas de deputado estadual, os eleitores do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Goiás são os que foram mais fiéis aos partidos dos candidatos nas diferentes eleições. No Senado, a Bahia, por exemplo, mostra-se como um caso à parte. Em três dos quatro pares de eleição analisados para o Senado, (1990-94; 1994-98; 1998-2002; 2002-2006), o Estado mostrou uma baixa volatilidade eleitoral, marcada sobretudo pelo controle do grupo político ligado a Antonio Carlos Magalhães. Somente em 2006 os partidos alternativos a ACM ganharam força eleitoral suficiente para mudar o cenário político.

A tendência de queda ou de manutenção da volatilidade eleitoral, concluem as pesquisadoras, é positiva e pode indicar um maior enraizamento do sistema partidário em eleições como para a Câmara dos Deputados. "O eleitorado brasileiro tem mantido a preferência pelos mesmos partidos nesses disputas eleitorais", observou Denise. "Isso mostra que o sistema partidário está mais estável e que os partidos fazem sentido para os eleitores".