Título: Cargos de direção dividem tucanos
Autor: Ulhôa, Raquel; Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Politica, p. A10

Ruy Baron / Valor - 3/8/2000 Eduardo Jorge: cotado para a Secretaria Geral, com o apoio de FHC, pode enfrentar a resistência da bancada na Câmara e dos mineiros que reivindicam o cargo A menos de um mês do congresso no qual vai renovar a direção e aprovar um novo programa partidário, o PSDB já definiu quem será seu futuro presidente, mas há disputa pelos demais postos-chave, tendo como pano de fundo as candidaturas dos governadores Aécio Neves e José Serra a presidente. Nesse contexto é que surgiu a proposta de "testar" o sistema de prévias em alguns municípios, nas eleições de 2008, vista com entusiasmo por correligionários do governador de Minas Gerais, mas nem tanto assim pelos de São Paulo.

A idéia foi lançada numa reunião da Executiva Nacional, semana passada, pelo atual presidente tucano, o senador Tasso Jereissati. Ele fez uma auto-crítica do "cupulismo" tucano, ao dizer que participara de todas as reuniões de "cardeais" para a escolha dos candidatos a presidente do PSDB, mas que era forçoso reconhecer que nas últimas duas vezes o processo não se concluiu "da melhor forma". Referia-se às candidaturas de Serra, em 2002, e do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, em 2006.

Na primeira, Tasso perdeu a disputa no sacro-colégio para Serra, se indispôs com os outros cardeais e por fim apoiou abertamente a candidatura de Ciro Gomes. O senador e o governador mais tarde recompuseram as relações, mas não há um serrista que não veja na iniciativa das prévias uma manobra para atrapalhar seu candidato, muito embora, na reunião da Executiva, a proposta das prévias tenha sido aprovada por dois aliados de José Serra: o vice-governador Alberto Goldman e o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES).

Já está acertada a realização de primárias em João Pessoa, para a escolha do candidato a prefeito. Há três pré-candidatos na disputa. A idéia é que seja apenas um teste para que o mesmo critério seja usado no caso dos governadores (nos Estados em que houver disputa) e em 2010, para presidente. Os aliados de Serra preferem o critério das pesquisas, pelo qual - acreditam - o governador de São Paulo não correria risco algum de ser preterido.

O fato é que o PSDB pretende testar o sistema no maior número de municípios possível, nas próximas eleições. Há até quem pense em testar duas fórmulas: só com os votos dos filiados e outra aberta para todos os eleitores, o que é difícil, devido às limitações impostas pela legislação eleitoral. Vellozo Lucas tem dúvidas sobre a novidade "num país onde o político que não consegue legenda simplesmente troca de partido". Para dar certo, diz, seriam necessárias algumas pré-condições, desde o recadastramento dos filiados - 1,1 milhão - até o estabelecimento de "direitos e deveres" dos associados.

É um embate a ser travado no novo comando partidário, a ser eleito no 3º Congresso do PSDB, nos dias 22 e 23 de novembro. No melhor estilo tucano, o presidente já foi abençoado pelos cardeais: será o senador pernambucano Sérgio Guerra, um nome ligado a José Serra, mas aceito pelo governador mineiro Aécio Neves. O segundo cargo em importância é a Secretaria Geral. Há uma articulação para se eleger Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso. Ele retomou as atividades partidárias depois de ser inocentado, na Justiça, das acusações feitas pelo Ministério Público e hoje responde pelo cargo, vago desde que o ex-deputado Eduardo Paes trocou de partido.

É de FHC a idéia de colocar no comando tucano uma espécie de executivo, pois em geral os parlamentares encontram dificuldades com a dupla jornada. Mas a bancada da Câmara reivindica o posto, assim como a bancada de Minas Gerais - leia-se Aécio Neves. A solução pode ser a indicação de um deputado mineiro. O mais cotado, no caso, é Rodrigo Castro. Corre por fora também o paranaense Gustavo Fruet, um deputado que se distinguiu por sua atuação na CPI dos Correios. Aquela que investigou o esquema do mensalão. Mas a articulação para eleger Eduardo Jorge é forte e não é desprezada pelos tucanos mais experientes.

A disputa maior, intensa mas civilizada no estilo tucano, é pela presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV). De São Paulo, dois deputados querem a vaga. Um, José Aníbal, é ligado a Geraldo Alckmin e deve apoiar sua indicação para disputar a prefeitura de São Paulo, apesar do interesse de José Serra em honrar o compromisso que tem com a reeleição do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM). O outro é Paulo Renato, ligado a FHC - que sempre pendeu para Serra nas disputas internas -, mas que vê com bons olhos a eventual candidatura do governador Minas. Mas quem se fortaleceu nos últimos dias foi Vellozo Lucas. Mas se um paulista for para o ITV, será aberto caminho para que Gustavo Fruet ocupe a liderança na Câmara, hoje ocupada pelo paulista e serrista Antonio Carlos Pannunzio.

O 3º Congresso do PSDB deve aprovar também um novo programa partidário. Hoje os tucanos encerram, no Recife, o ciclo de dez seminários convocados para assentar as bases do documento. O tema do dia será "Defesa Nacional, política internacional e comércio exterior: os desafios do Brasil no mundo globalizado". Num hotel de Boa Viagem, devem reunir-se nomes como os dos ex-ministros do governo tucano Celso Lafer e Alberto Cardoso, o embaixador Rubens Barbosa e o doutor em ciência política da Unicamp Eliézer Rizzo.

Após a maratona de debates, os tucanos têm diagnóstico para todas as áreas, mas se ressentem - no dizer de um cardeal - ainda de bandeiras, palavras de ordem fortes o suficiente para atacar a fortaleza petista. A situação é bem diferente de 1994, quando FHC se elegeu pela primeira vez com o discurso do combate à inflação, inserção internacional e ajuste das contas públicas. Basta observar a atuação recente do senador Sérgio Guerra. Os tucanos estão conversando com o governo sobre a prorrogação da CPMF. Como futuro presidente, ele não pode errar na negociação. E há pressão de todos os lados: a maior parte dos senadores e da bancada de deputados é contrária a prorrogação do imposto do cheque. Daí o fato de Guerra ter sido até agora o tucano mais reticente em relação a um eventual acordo com o Planalto.