Título: Governo argentino comemora vitória de Cristina no 1º turno
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Internacional, p. A14

AP Sem voto eletrônico: a primeira-dama Cristina Kirchner vota com a cédula de papel em Rio Gallegos, no sul do país O governo argentino comemorava na noite de ontem a vitória da senadora Cristina Fernández de Kirchner nas eleições para presidente, sem a necessidade de um segundo turno. Os primeiros resultados da apuração, divulgados às 21h30 (22h30 no horário brasileiro de verão) confirmavam a tendência apontada pelas pesquisas de boca-de-urna, que davam entre 42% e 46,3% dos votos para Cristina. Com isso, ela se torna a primeira mulher eleita para presidir a Argentina.

As pesquisas de boca-de-urna davam o segundo lugar a Elisa Carrió, com 23%, e o terceiro a Roberto Lavagna, com de 13,1% a 15%. Os dados preliminares da apuração, porém, colocavam Lavagna em segundo lugar.

Com estes resultados, a candidata do governo ganha a eleição em primeiro turno. Pela legislação argentina, ganha quem obtiver no mínimo 45% dos votos ou então 40%, desde que tenha 10 pontos a mais que o segundo colocado.

A divulgação das pesquisas antes do que horário determinado por lei coroou o clima de "já ganhou Cristina" que marcou toda a campanha presidencial este ano e provocou queixas dos outros candidatos, principalmente do comando de campanha de Roberto Lavagna, Alberto Rodriguez Saá e Ricardo Lopez Murphy. Saá e Murphy denunciavam também irregularidades como o sumiço de cédulas de votação com seus nomes. Ao longo do dia, outras pesquisas informais já davam a vitória à senadora.

A votação foi confusa. Por falta de gente para trabalhar nas mesas eleitorais, principalmente na capital Buenos Aires, a votação começou com atraso em diversos bairros, os eleitores fizeram longas filas e, quando chegavam nas áreas de votação, descobriam que faltavam cédulas. Muitos se irritaram e deixaram os locais sem dar seu voto. Por esse motivo a Justiça Eleitoral decidiu atrasar o encerramento da eleição das 18 para as 19 horas.

"Foi a votação mais desorganizada já feita desde 1983" disse o jornalista Joaquim Morales Solá, um dos mais respeitados analistas políticos da imprensa argentina e ácido crítico do governo Kirchner. Mas ele reconhecia que Cristina havia ganhado a eleição de forma "contundente".

O presidente Nestor Kirchner também teve outras sucessos nestas eleições, com a vitória de seu vice-presidente, Daniel Scioli, para governador da província de Buenos Aires, a maior e mais rica do país. Espera-se ainda que ele consiga eleger a maioria dos 154 candidatos que vão renovar 50% da Câmara e um terço do Senado, garantido assim uma base governista sólida para Cristina no Congresso argentino.

Essa é a primeira vez na história da Argentina em que uma mulher é eleita para ocupar o cargo de presidente do país. Foi também a primeira vez que duas mulheres disputaram a liderança da campanha. A única mulher que chegou à Presidência até hoje foi Maria Estela Martinez de Perón. Ela porém assumiu na condição de vice-presidente, devido à morte de seu marido, Juan Domingo Perón, em 1974.

Advogada formada pela Universidade de La Plata, Cristina tem 54 anos e está casada com o atual presidente Nestor Kirchner desde 1974, com quem tem dois filhos. Segundo a TV América, o presidente Lula e o uruguaio Tabaré Vazquez ligaram para Cristina para cumprimentar pela vitória.