Título: Pousada do Rio Quente planeja investir R$ 132 milhões até 2012
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2007, Empresas, p. B2

O horizonte dos resorts brasileiros é nebuloso: o aumento da concorrência com navios e a expansão da oferta de quartos, ao longo dos próximos anos, devem levar a taxas de ocupação cada vez mais baixas. Há, no entanto, quem enxergue céu azul. Líder no Centro-Oeste do país, a Pousada do Rio Quente pretende investir R$ 132 milhões até 2012.

Os primeiros R$ 13 milhões do total programado já estão sendo aplicados na construção de uma praia artificial. Localizada na cidade de Caldas Novas (GO), onde o bioma característico é o Cerrado, a Pousada do Rio Quente vai recriar a paisagem típica da costa brasileira com coqueiros, areia branca fininha e água cristalina cheia de ondas, como se fosse o mar. A nova atração será inaugurada em março de 2008 com capacidade para 15 mil pessoas e vai integrar o Hot Park, parque aquático que faz parte do resort. Segundo Manoel Carlos Cardoso, diretor de marketing e vendas da Pousada, a expectativa é que a praia contribua para elevar o número de visitantes anuais do parque de 200 mil para 500 mil até 2012.

O plano de investimentos inclui, na seqüência, a construção de um centro para shows e outros eventos noturnos, um hotel com centro de convenções, com 580 quartos, e mais um hotel com campo de golfe, com 220 apartamentos. Atualmente, o resort tem seis hotéis com 893 quartos no total.

De todo o dinheiro necessário para a expansão, apenas uma pequena parte virá dos acionistas da Pousada, que são o grupo mineiro Algar e a Gebepar. A praia receberá investimentos provenientes do caixa do resort e ainda terá patrocínio da Nestlé e da Ambev. Já a construção dos hotéis e do centro de convenções será viabilizada por meio de fundos imobiliários - modelo em que investidores compram cotas e obtêm remuneração sobre a receita gerada com a operação dos empreendimentos. Também serão contemplados empréstimos com instituições financeiras, afirma Cardoso.

Boa parte dos incrementos na infra-estrutura do resort já estava prevista num plano de negócios elaborado em 2002 e deveria ter sido implementada até o ano passado, conforme o cronograma original. As obras foram adiadas, entretanto, porque os acionistas não sentiram segurança suficiente no cenário macroeconômico e na própria forma como o resort vinha sendo gerido. A retomada do projeto só aconteceu no ano passado, depois de mudanças na administração. A estrutura de gestão, que antes era formada por um conselho e um diretor geral, foi alterada para um modelo em que há cinco diretores executivos, além do conselho.

O desafio do Rio Quente será manter a previsão de investimentos diante de um cenário nebuloso para o segmento de resorts. O que mais preocupa não é o cenário econômico como um todo, mas sim o grande aumento da oferta de quartos na hotelaria de lazer que ocorrerá nos próximos anos. Segundo a Resorts Brasil, associação que representa 45 empreendimentos, o número de resorts vai passar dos atuais 60 para 138 até 2012. Mas a demanda não deve avançar no mesmo ritmo. Mesmo que ela cresça 10% ao ano, o que já é uma perspectiva otimista, haverá forte queda na taxa de ocupação dos empreendimentos. Hoje, a média da ocupação é de 53%, mas em 2012 deverá ser de apenas 37% - um índice que não sustenta operações lucrativas. "Além da oferta crescente, enfrentamos a concorrência dos cruzeiros e das viagens internacionais, que estão sendo estimuladas pelo dólar baixo", afirma Alexandre Zubaran, presidente da Resorts Brasil.

"Vai ser uma guerra, mas Rio Quente tem vantagens competitivas", prevê Cardoso. Segundo ele, a expansão do resort é também uma forma de atrair novos visitantes. "Temos a missão de ser o melhor destino de turismo da América Latina."

Entre as vantagens citadas pelo executivo está o fato de que a Pousada do Rio Quente não tem grandes concorrentes na região onde atua e está próxima de Brasília, um forte mercado consumidor. "O grande aumento da oferta vai acontecer no litoral." Em segundo, vem a maneira como o resort vende seus pacotes. Rio Quente tem uma operadora própria, a Valetur, que administra 32 lojas no país. "Todas essas lojas vendem apenas os produtos da Pousada e isso nos dá força comercial", diz Cardoso. Para Zubaran, a principal vantagem do resort são os fretamentos próprios de ônibus e aviões, que captam principalmente o público de São Paulo. O Estado emite perto de 60% dos turistas no Brasil.

O preço das diárias cobradas em Rio Quente também fica abaixo daquele aplicado pelos concorrentes de outras regiões do país. Enquanto a Pousada cobra R$ 350 a diária, a média de preços no setor, apurada pela Resorts Brasil, é de R$ 420.

O parque aquático também é uma vantagem, já que a maioria dos resorts não conta com esse tipo de atração. Os maiores concorrentes, nesse caso, são o Beach Park, em Fortaleza, e o Wet'n Wild, em São Paulo.

Por ano, Rio Quente fatura R$ 130 milhões e recebe cerca de 1 milhão de turistas: 800 mil hóspedes e mais 200 mil visitantes do parque. Segundo Cardoso, a taxa média de ocupação este ano ficará próxima a 65%. Era de 70% nos anos anteriores, quando não havia o impacto da crise aérea, mas ainda assim é superior à média do setor, que é de 53%.