Título: BNDES vai medir capital intangível das companhias
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Empresas, p. B3

Silvia Costanti / Valor Eduardo Rath Fingerl e Helena Tenorio, do BNDES: avaliação dos capitais intangíveis no Brasil ainda é embrionária O BNDES começará a medir a presença do capital intangível nas empresas para as quais empresta. O que se pretende é criar uma nota de classificação de risco baseada no peso do fator "inteligência" dentro das corporações. Este rating poderá beneficiar o cliente na análise de crédito feita pelo banco, reduzindo o custo de capital. Nesta classificação entram práticas de governança, treinamento de mão-de-obra, práticas de gestão, processos de relacionamento com clientes, design, software, tecnologia da informação, tratamento dos minoritários, P&D, marca e patentes, entre outros.

Para implementar a novidade nas políticas operacionais, o banco desenvolveu junto com a Coppe/UFRJ uma metodologia para medir o capital intelectual no universo de seus tomadores de crédito. O resultado do trabalho BNDES/Coppe, inédito no país, vai ser apresentado no seminário "Avaliando os capitais intangíveis no Brasil", hoje e amanhã na sede do banco.

A iniciativa do BNDES foi bem recebida por empresas de pequeno porte como a Genoa, da área de biotecnologia, estruturada em ativos intangíveis com destaque para P&D. "O que temos de tangível é muito pouco", disse Ana Paula Wirthmann, diretora financeira da empresa. A expectativa de Ana é que com a nota de risco do BNDES a Genoa possa ser mais valorizada no mercado financeiro e consiga abrir espaço para se capitalizar via fundos de venture capital.

José Rogério Luiz, vice-presidente de gestão e relações com investidores da Totvs, que produz software de gestão e tem faturamento de quase R$ 500 milhões, prevê que a introdução dos intangíveis na análise de crédito do banco reforce a idéia de que não há risco de emprestar às companhias que tenham em sua composição mais capital intangível. "Muitas instituições financeiras não sabem reconhecer isto", disse Luiz. Ele enfatizou que os resultados financeiros da Totvs, que dobrou seu faturamento nos últimos três anos, demonstram que o conhecimento usado de maneira intensiva tem se convertido em números palpáveis e sólidos e revertido em crescimento para a empresa.

A Genoa e a Totvs, junto com Embraer e Suzano, foram selecionadas para terem seus ativos intangíveis medidos pelo estudo do BNDES/Coppe. Elas são referências nacionais e até mesmo internacionais nessa área, como é o caso da Embraer, além de pertencerem a diferentes setores e terem portes diversos, o que as credenciou para um projeto-piloto. Cada uma foi visitada pelos pesquisadores e respondeu a um amplo questionário em 53 indicadores de qualidade que geraram relatórios e um Plano de Ação para o futuro. O resultado da pesquisa foi o rating de capital intangível (CI), ao qual ainda não tiveram acesso.

Para lidar com os novos conceitos, o BNDES acabou de criar um Departamento de Programas e Políticas, na área de Planejamento, chefiado por Helena Tenorio Veiga de Almeida. Ela participou do grupo de trabalho para criar a metodologia de avaliação do capital intangível. Sua função será a de incorporar o conceito intangível à rotina de análise de projetos de financiamento do banco.

Eduardo Rath Fingerl, diretor da área de Mercado de Capitais do BNDES e organizador do seminário, disse ao Valor que a idéia do banco, ao promover um debate sobre o capital intangível, é buscar acompanhar a tendência mundial das empresas. "Estamos diante de uma mudança de paradigma, em que os principais fatores competitivos das corporações não são mais os tradicionais, como mão-de-obra, equipamentos e imóveis. O conhecimento tem sido cada vez mais determinante no desempenho das companhias", alertou.

A avaliação dos capitais intangíveis no Brasil é ainda uma questão embrionária, reconhece. E muito complexa. Rath Fingerl diz que o interesse do banco pelo assunto é resultado de visão estratégica sobre os fatores que criam hoje um diferencial no valor das companhias. "Isto é uma mudança estrutural fundamental para quem trabalha no longo prazo".

Para ele, o bem intangível é algo difícil de ser transformado em ativo e por isso não entra no balanço das empresas, pois não é considerado investimento. Quando entra, no geral, entra como despesa. "O que o banco quer é tornar este capital intelectual ativável, pelo menos em parte, dando-lhe um referencial de valor. Esta é uma discussão grande no mundo atual, envolvendo a SEC, a OCDE, o Banco Mundial, o METI do Japão", analisou. "A divulgação das atividades de capital intelectual dentro das empresas vai afetar diretamente as contas nacionais dos países. Tem um PIB gerencial gigante não contabilizado no mundo. Mas esta é ainda uma tarefa muito complexa", concluiu Rath Fingerl.