Título: Falta de mão-de-obra qualificada afeta 65% das indústrias, aponta CNI
Autor: Costa ,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Brasil, p. A7

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez extenso inventário sobre a qualificação da mão-de-obra na indústria. Descobriu que a falta de capacitação do trabalhador é um fato com impactos negativos sobretudo na área de produção, o que restringe o aumento da competitividade. Das 1.714 indústrias consultadas, 56% vêem como um problema para a empresa a falta de mão-de-obra qualificada. Ele é maior para as pequenas empresas (60%), mas também é registrado, com ênfase, entre as de médio e grande porte - 55% e 45%, respectivamente.

A pesquisa, que contou com a participação de 949 pequenas empresas, 507 médias e 258 grandes, foi realizada entre 29 de junho e 18 de julho.

"Com a retomada do crescimento era previsível que isso ocorresse", diz Renato da Fonseca, gerente da unidade de pesquisa da CNI. Espontaneamente, os empresários destacaram que, "mesmo nos casos onde o grau de capacitação requerido não é muito elevado, as empresas enfrentam dificuldade devido à baixa qualidade da educação básica", o que dificulta o processo de aprendizagem na própria empresa por meio de cursos técnicos e profissionalizantes.

Os impactos ocorrem "em intensidade diferente dependendo da área organizacional da empresa". A área de produção é a mais afetada, segundo 68% dos entrevistados, com a área de pesquisa e desenvolvimento no segundo lugar com 11%, e a administrativa e gerencial em terceiro, com 7%. A produção é a área mais afetada, independentemente do porte da empresa.

No que se refere ao desempenho, 69% das empresas responderam que a falta de mão-de-obra qualificada "afeta, sobretudo, a busca de eficiência", o que, segundo a pesquisa, "é coerente com o fato do maior impacto do mesmo problema se dar na área de produção". Mas 36% das empresas também mencionaram que a falta de mão-de-obra qualificada prejudica a busca pela qualidade dos produtos. Problema afeta ainda a aquisição de novas tecnologias (25%) e o desenvolvimento de novos produtos (23%).

A busca pela eficiência é a ação mais afetada para todas as empresas, mas elas divergem em relação aos demais itens, quando separadas por porte. Para as grandes, a segunda ação mais prejudicada é a aquisição de novas tecnologias (29%), opção que entre as pequenas empresas (20%) ficou na última posição entre as quatro disponíveis. Para essas empresas, a segunda ação mais prejudicada é a busca pela qualidade do produto (41%).

Os setores com maiores problemas com a falta de mão-de-obra qualificada são álcool (76%), vestuário (75%), outros equipamentos de transporte (71%), indústrias extrativas (71%), máquinas e equipamentos (70%) e veículos automotores (67%). São também os setores mais impulsionados pelo crescimento econômico, muito embora os técnicos da CNI tenham estranhado a presença da área de vestuário, hoje sob forte concorrência dos produtos asiáticos.

Diante desse quadro, o que fazem as empresas para capacitar ou manter a mão-de-obra qualificada? Apenas 30% recorrem à contratação direta no mercado, as 70% restantes procuram resolver o problema capacitando os trabalhadores após a contratação. As empresas que investem em programas de capacitação chegam a 84% do universo pesquisado. Entre as grandes empresas, esse percentual chega a 96%. Regionalmente, as empresas do Sul são as que mais investem em capacitação de mão-de-obra (90%); em termos setoriais, o de álcool e outros equipamentos e transporte (100%), e o de máquinas e materiais elétricos (90%).

Entre as empresas que dizem ter necessidade de investir em qualificação (97%), a grande maioria (78%) apontou mais de uma dificuldade no processo: falta de oferta de cursos adequados (52%), custo elevado (39%), alta rotatividade dos trabalhadores (25%) e pouco interesse dos trabalhadores (24%). Para manter a mão-de-obra qualificada, a indústria prefere dar benefícios além do salário (64%) a pagar salários acima da média do mercado. A maioria (69%) diz adotar política de retenção do trabalhador qualificado.