Título: Estiagem prolongada gera forte alta do preço de energia para as empresas
Autor: Rittner ,Daniel
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Brasil, p. A8

Antônio Carlos Fraga Machado, presidente da CCEE: "Oferta ficará encostada na demanda pelos próximos 5 anos" Além das queimadas que têm atingido fortemente os parques nacionais e do aumento na poluição atmosférica das grandes cidades, o prolongamento e a intensidade da estiagem neste ano fizeram disparar o preço da energia elétrica negociada no mercado "spot". O volume de chuvas neste mês ficou abaixo da média histórica em todas as regiões do país. No Distrito Federal, onde as primeiras chuvas da primavera costumam chegar em meados de setembro, não chove há mais de 120 dias. Isso não foi suficiente para esvaziar os reservatórios, que continuam em níveis bastante confortáveis. Mas levou às alturas a cotação da energia no mercado de curto prazo.

O preço médio para esta semana é de R$ 168,46 por megawatt-hora (MWh), segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Trata-se de uma cotação que supera em mais de 50% aquela verificada na primeira semana de outubro de 2006, ano em que não houve atraso significativo na entrada do período chuvoso. Com as previsões dos institutos de meteorologia de que as precipitações só devem começar na segunda quinzena de outubro, especialistas do setor elétrico calculam que o preço no mercado "spot" pode atingir R$ 250/MWh neste mês - o maior valor desde o fim do racionamento de energia, em 2002.

De acordo com o último boletim informativo do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec), a perspectiva para o quarto trimestre é de chuvas abaixo do normal nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste. A situação só não é vista com preocupação, do ponto de vista do abastecimento de energia, porque os reservatórios estão em níveis elevados para tempos de fim da seca - entre 47% e 63%.

Para Felipe Barroso, diretor-comercial da União Energia, uma das principais comercializadoras do país, a tendência é que os preços da energia no mercado de curto prazo despenquem quando começarem as chuvas mais fortes. Já a cotação no período de estiagem de 2008 vai depender do volume de recomposição dos reservatórios nos próximos meses, acredita.

Nesse mercado, a variação dos preços da energia é grande e obedece ao regime de chuvas, mas um pano de fundo tem sido preponderante para elevar a volatilidade. Trata-se do equilíbrio cada vez maior entre oferta e demanda, sem folga para quem precisa comprar energia. "A volatilidade tende a ser cada vez maior", avalia Barroso.

Em 2007, segundo ele, têm sido negociados entre 500 e 1.000 MW médios. Quem se prejudica com esse vaivém de preços - com picos cada vez mais altos - é o grande consumidor sem energia contratada. "A oferta ficará encostada na demanda pelos próximos cinco anos", diz o presidente da CCEE, Antônio Carlos Fraga Machado. "O modelo é sensível a isso."

O presidente da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Paulo Pedrosa, explica que os preços no mercado de curto prazo, no período de estiagem, aumentaram muito este ano por influência da participação maior das termelétricas na matriz brasileira, o que deixou mais cara a energia. Pedrosa diz que é natural os preços desabarem com o início das chuvas e avalia que o fato de a cotação neste ano ter sido bem maior do que a verificada em 2006 não significa necessariamente que há mais risco de apagão no futuro próximo. Os reservatórios podem se recompor rapidamente, mas o fato relevante, diz, é que o mercado reage com volatilidade cada vez maior diante de um cenário com oferta e demanda quase empatados.

As vítimas potenciais da alta recente dos preços, que deve perdurar em outubro, são empresas que precisam de energia adicional para atender, por exemplo, ao aumento inesperado da produção. Pedrosa lembra, porém, que os preços elevados podem significar uma oportunidade de caixa para indústrias que têm sobra de energia. Elas podem aproveitar a alta momentânea para vender o que não estão usando.