Título: ACM Júnior foge à herança política do pai
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Política, p. A9

Depois de desenvolver carreira na iniciativa privada para fugir da "sombra" do pai -o ex-governador e senador Antonio Carlos Magalhães, morto em julho - o empresário, professor de Finanças Empresariais e agora senador Antonio Carlos Magalhães Júnior cava, devagar, espaço próprio na política.

Busca firmar-se como senador de perfil técnico num Senado politicamente conflagrado. E, sem pretensões de ser considerado herdeiro político do pai - "que respirava política 24 horas por dia e é insubstituível" -, ele preocupa-se com a crise do "carlismo".

Pretende trabalhar para ajudar a fortalecer o grupo e admite até mesmo disputar eleições futuras e continuar na política, se for importante para o DEM da Bahia. "É cedo para pensar na continuidade ou não. Mas não fecho a porta. Mais próximo da eleição a gente vai ver se realmente é importante para o partido", disse.

Se o pai era seu conselheiro de todas as horas, hoje o interlocutor mais freqüente é seu filho, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), que cogita disputar a eleição para a Prefeitura de Salvador em 2008, por pressão do grupo.

"O carlismo é uma bandeira que o senador deixou, de luta pela Bahia, de valorização da Bahia. Vamos trabalhar para reverter esse quadro que nos é hoje desfavorável", disse, comentando a debandada de aliados no Estado.

A maior perda é o senador César Borges, que está indo para o PR, passando de oposicionista a governista, nos planos estadual e federal. "Nós podemos recuperar várias das nossas posições perdidas nessa última eleição. Isso é uma coisa que irá acontecer. Não tenha dúvida", afirma ACM Jr.

Presidente da holding da Rede Bahia, grupo que tem participação em várias empresas da área de comunicação (seis emissoras de televisão no estado, um jornal e três rádios, um portal de internet), Júnior era suplente do pai. Com a morte de ACM, em julho, tornou-se titular do mandato que termina em 2011. Continua dando aulas de Finanças Empresariais na Universidade Federal da Bahia, toda segunda-feira.

A nova circunstância está lhe abrindo o apetite político. Em 2001 e 2002, quando substituiu ACM durante 1 ano e sete meses, Júnior se sentia "acanhado" e "inseguro" para se posicionar. Agora, "mais ambientado com a política", não espera ser chamado para se posicionar. "Me sinto muito mais à vontade, muito mais senhor de mim mesmo para poder desempenhar meu mandato sem ficar preocupado com cada passo que dou", afirmou.

Na quarta-feira, deixou o gabinete às pressas ao saber que os líderes articulavam no plenário as votações do dia e a realização da reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar para tratar do segundo processo contra Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.

"Me mandei para o plenário, encostei nos caras e comecei a dar palpite também", contou. "Me esconder por achar que não tenho experiência? Eu não. Acho que hoje sou muito mais experiente do que fui da primeira vez. Você tem que explorar suas melhores qualidades. No meu caso, é a questão econômica: me dá segurança e me deixa capacitado de fato a discutir", afirmou.

Em audiência pública com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na terça-feira passada, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o senador elogiou a condução da política monetária, e ressaltou que o Brasil conseguiu ficar blindado das turbulências e instabilidades do mercado econômico internacional. Mas cobrou medidas mais efetivas do governo para atingir o equilíbrio fiscal. Ele defende redução dos gastos de custeio para tentar, no médio prazo, chegar ao déficit nominal zero.

"Não se pode zerar o déficit nominal num ano só. Tem que haver uma gradativa redução até zerar no médio prazo, digamos até 2010, que é a proposta do ex-ministro e ex-deputado federal, Delfim Netto. Eu sou partidário dessa proposta", disse o senador ao Valor. Para cortar gastos correntes, propõe enxugar a máquina e reforma da previdência. "A parte monetária tem uma boa condução. A taxa de juros não cai mais rapidamente porque a situação fiscal não permite", continuou.

O senador dedica-se, atualmente, a estudar medidas que facilitem a entrada do setor privado no investimento da infra-estrutura do país. Analisa apresentar um projeto de lei sobre o assunto. Segundo ele, se o governo não corta gastos correntes, gastos de custeio, não gera capacidade de investimento. Para facilitar a entrada do setor privado, é preciso haver marcos regulatórios estáveis e redução de carga tributária e de taxa de juros. "São os três pilares para investimento em infra-estrutura, que vai gerar, por consequência, o investimento nas diversas áreas da atividade econômica. E aí o Brasil vai crescer a taxas mais elevadas", disse o senador baiano.

Beatlemaníaco "ao extremo" - diz possuir "tudo, absolutamente tudo", da banda inglesa -, Antonio Carlos Júnior tem na música seu maior hobby. Gosta principalmente de jazz e bossa nova. Preocupado com o histórico familiar de vários casos de problemas cardíacos, corre 8 quilômetros diariamente.

Começou a praticar exercício físico em 1989, quando ACM foi submetido a cirurgia cardíaca. Seu irmão Luís Eduardo morreu em 1998 após infarto . Os quatro irmãos do seu pai tiveram problemas de coração. Quando fala do pai, Antonio Carlos Júnior se emociona. Os olhos ficam úmidos. "O senador Antonio Carlos foi meu conselheiro a vida inteira, em todas as minhas ações, sejam empresariais, acadêmicas, políticas ou familiares", disse.