Título: Música no telefone cria nova cadeia de fornecimento
Autor: Rosa, João Luiz ; Moreira ,Talita
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Empresas, p. B3

Marco Quatorze, diretor da Claro: cuidado para adaptar cardápio musical do serviço ao gosto do público de cada país Estimular o consumidor a ouvir música pelo celular está se tornando um negócio importante não só para as empresas ligadas diretamente à telefonia, como as operadoras móveis e os fabricantes de aparelhos. Pelo menos duas outras categorias de empresas estão trabalhando ativamente para organizar a recente cadeia de fornecimento da música on-line. São as companhias de mídia e entretenimento, como gravadoras e canais de TV, e uma versão atualizada daquilo que se tornou conhecido como "syndicate" - as agências que vendiam notícias para vários jornais ao mesmo tempo. Só que no lugar das reportagens, entram as músicas.

"Se faltasse uma dessas partes, eu teria dúvidas sobre o sucesso do negócio", diz Felippe Llerena, diretor-executivo da iMusica. A empresa, criada no ano 2000, é um dos melhores exemplos do formato renovado adotado pelo "syndicate" na era da internet. Parceira da Claro em sua investida na música on-line, a iMusica negocia as faixas com as gravadoras e as licencia para uso por outras empresas, além de vender as músicas diretamente ao consumidor, via internet. "Temos contrato com 350 gravadoras independentes brasileiras, além das quatro grandes multinacionais do setor: EMI e Warner, para celular e internet, e Universal e Sony BMG, para a web", diz Llerena.

Com sete anos de atividade, a iMusica não é uma novata na área, mas teve de esperar bastante tempo até convencer as grandes gravadoras - as chamadas "majors" - a licenciar seu conteúdo. "Só conseguimos concretizar (os acordos) no ano passado", afirma Llerena.

As multinacionais do disco demoraram a aderir ao download - a transferência do arquivo para o computador ou celular - por temerem que a novidade devorasse seu negócio central, já em dificuldades: a venda de CDs. "A base de telefones celulares no Brasil é de 105 milhões de unidades e a existência de uma loja de música aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, é uma oportunidade de ouro - para nós e para as gravadoras", diz Llerena.

Na iMusica, o acordo com a Claro abre as portas da internacionalização, já que o contrato é válido para 15 países nos quais a América Móvil, que controla a operadora, tem negócios. "Sem dúvida, teremos de fazer um trabalho de expansão para o exterior, com a abertura de filiais em alguns países", diz Rodin Spielmann, diretor financeiro da IdeiasNet, que controla a iMusica.

Concentrada no investimento em empresas de tecnologia, a IdeiasNet elevou há dois meses sua presença no capital da iMusica: a participação saltou de 75% para 93%. Agora, além do impacto direto na empresa de distribuição digital, o acordo fechado com a Claro pode proporcionar vantagens a outras empresas do grupo, diz Spielmann.

É o caso da Padtec. A companhia, na qual a IdeiasNet detém 34,2% de participação, produz equipamentos comprados pelas operadoras para aumentar o tráfego de dados. "É uma atividade que cresce exatamente porque companhias como a iMusica estão oferecendo serviços capazes de aproveitar a capacidade de banda das telefônicas", diz o executivo.

O acordo com a Claro prevê uma oferta de música adaptada ao gosto do consumidor de cada país dentro da geografia da América Móvil. O cuidado é para evitar erros na abordagem ao público local: uma artista como Madonna, por exemplo, tem seus discos consumidos em qualquer lugar, mas um grupo de rock argentino pode ser ignorado no Chile ou vice-versa. "O catálogo não é o mesmo", diz Marco Quatorze, diretor de serviços de valor agregado e roaming da Claro. "Cada país escolhe (sua oferta) no iMusica." Enquanto no Brasil há uma categoria específica para MPB, que não existe nos demais mercados, no México há outra só para os fãs de salsa, exemplifica o executivo.

Acertar na preferência do público remete a conceitos como audiência, uma preocupação diária das companhias de entretenimento de várias áreas, além da música propriamente dita.

A Fox Latin America Channels, que representa na região canais de TV paga como Fox, FX e National Geographic, está relançando no Brasil sua divisão My Fox. O objetivo da unidade? Levar para o celular produtos relacionados a seus programas de televisão, especialmente séries de grande audiência, como "24 Horas" e "Prison Break".

"Renovamos nosso contrato com a Oi e estamos negociando com todas as demais operadoras móveis", diz Patrícia Brito, gerente da divisão My Fox. Na nova fase, a estratégia é ultrapassar a fronteira das séries de TV e fornecer produtos relacionados a seus próprios canais, como o FX, direcionado ao público masculino e adulto. A lista inclui papéis de parede, toques de celular e vídeos curtos, de 30 segundos. Cada download varia de R$ 2,30 a R$ 5,99, chegando a R$ 10 no caso dos vídeos.

A principal aposta da Fox, com estréia prevista para novembro, é numa relação de produtos atrelados à série de animação "Os Simpsons", que recentemente ganhou seu primeiro filme no cinema. "Projetamos um crescimento de 60% nos downloads por causa dos Simpsons", diz Patrícia.

No futuro, o download de vídeos completos para celular pode se tornar um negócio importante, como começa a acontecer com a música, mas isso depende de uma série de definições de padrões tecnológicos por parte das operadoras, afirma a executiva.

A julgar por algumas experiências atuais, no entanto, é provável que personagens mundialmente famosos, como "Os Simpsons", tenham de disputar espaço com produtos de origem quase anônima.

A TIM criou o TIM Studio, em que os usuários oferecem itens para download, como fotos, vídeos ou sons. Ao todo, 30% das transferências nessa área já são de músicas ou sons criados pelo próprio público. Os autores recebem R$ 0,15 por download. O resultado é que já surgiram as primeiras estrelas da nova onda: alguns clientes acumulam mais de R$ 2 mil em crédito com a operadora.