Título: Anchieta terá pólo para receber nova siderúrgica
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Empresas, p. B8

O anúncio, previsto para quarta-feira, da constituição da "joint-venture" entre a Companhia Vale do Rio Doce e a chinesa Baosteel para a construção de uma usina siderúrgica capaz de produzir 5 milhões de toneladas de placas por ano, vai desencadear investimentos iniciais no novo pólo industrial de Anchieta, sul do Espírito Santo, estimados pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Guilherme Dias, em pelo menos US$ 6 bilhões. O número, segundo Dias, é "conservador" e inclui apenas a primeira etapa do complexo que inclui um porto de águas profundas e um ramal ferroviário de 140 quilômetros.

"Vamos dar um salto naqueles segmentos nos quais o Estado é muito forte: infra-estrutura e logística", disse Dias. A iniciativa da Vale e da Baosteel começa a materializar o complexo, inicialmente batizado de Pólo de Cação (em oposição ao Pólo de Tubarão, no entorno da capital, Vitória), revelado pelo Valor em março do ano passado. O governo capixaba preferiu rebatizar o complexo de Pólo de Anchieta, homenageando a cidade, 80 quilômetros ao sul de Vitória, onde ele estará localizado.

Segundo Dias, a construção da siderúrgica exige e viabiliza a materialização de outro projeto da Vale para a região, a construção do chamado ramal ferroviário. Denominado Ferrovia Litorânea Sul, ele vai ligar a ferrovia Vitória-Minas a Anchieta, numa extensão de 80 quilômetros, transportando minério de ferro e outros produtos.

O projeto ferroviário, que segundo Dias está praticamente pronto, prevê a extensão do traçado por mais 60 quilômetros até a cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Os 140 quilômetros irão completar a modernização em território capixaba do traçado da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), controlada pela Vale.

A outra perna logística do projeto siderúrgico é a construção de um porto de águas profundas na área da Ponta de Ubu, também em Anchieta, onde existe atualmente o terminal portuário da mineradora Samarco. A empresa possui na região duas usinas de pelotização de minério para exportação, totalizando 14 milhões de toneladas por ano, e está construindo a terceira, o que elevará a produção em 2008 para 22 milhões de toneladas/ano.

De acordo com Dias, o terminal da Samarco não tem condições de atender a nova siderúrgica, sendo necessária a construção de um novo porto de águas profundas, com calado de no mínimo 22 metros, capaz de receber qualquer um dos maiores graneleiros do mundo. O Porto de Tubarão, que recebe navios de mais de 300 mil toneladas, tem calado de 18 metros.

Todo esse complexo, que inclui também uma termelétrica com potência de 400 a 500 megawatts alimentada pelos vapores da usina de placas, é o que o secretário Dias estima que irá consumir investimentos de pelo menos US$ 6 bilhões nos próximos quatro anos.

O cálculo inclui duas novas usinas de pelotização da Samarco que, segundo Dias, estão sendo planejadas. O valor da siderúrgica não foi anunciado, mas, tomando por base a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), de características e porte semelhantes à de Anchieta que será construída pela Vale e a ThyssenKrupp no Rio de Janeiro, o secretário avalia que ela exigirá de US$ 3,5 a US$ 4 bilhões.

Outro investimento em logística na área de Anchieta já dado como certo pelo governo é a construção pela Petrobras de sua nova base de apoio às plataformas que exploram e produzem petróleo no mar. A estatal já começou a construir, de acordo com o secretário, uma unidade de tratamento de gás natural, com capacidade para 2,5 milhões de metros cúbicos/dia.

Os cálculos do governo do Estado são de que em dois anos o Espírito Santo atingirá uma produção total de 20 milhões de metros cúbicos de gás natural/dia, tornando-se o maior produtor do país. A principal região produtora será o norte do Estado, em torno do município de Linhares.

A conjunção do novo pólo siderúrgico e de uma base da Petrobras em Anchieta geram em muitos setores o temor de que o município, hoje mais conhecido como um balneário com pequeno núcleo histórico, venha a repetir casos de desordem urbana e favelização como o de Macaé (RJ). Dias afirma que o Estado e a prefeitura de Anchieta estão tomando todos os cuidados ambientais, urbanísticos e de treinamento de mão-de-obra para que isso não ocorra.