Título: Barclays lança índice da dívida interna
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Finanças, p. C7

O Brasil larga com 66% de peso no índice de papéis da dívida interna indexados à inflação dos governos de países emergentes que o Barclays Capital, o banco de investimento do Barclays, lança hoje. É o primeiro índice do gênero da história. Na semana passada, a IFC (Internacional Finance Corporation), braço financeiro do Banco Mundial, anunciou que pretende fazer um índice de títulos de renda fixa em moeda local dos emergentes, o Global Emerging Markets Bond Index (Gemx), mas que vai incluir todos os papéis, não apenas os vinculados à inflação.

"Cada vez mais investidores procuram os papéis de dívida interna dos emergentes indexados à inflação em busca de maior rendimento, diversificação e de gerenciamento de passivos", disse ao Valor Ralph Segreti, gerente global de produtos vinculados à inflação do Barclays Capital. A criação de um índice que vai servir como referência confiável do rendimento desses papéis deve atrair ainda mais investidores aos mercados internos, acredita o executivo. "Os gestores de fundos passarão a fazer uma alocação mais dedicada de recursos, visto que poderão julgar sua performance em relação a esse índice que vai servir como benchmark do mercado", argumenta.

O índice terá um valor de mercado total de US$ 200 bilhões e vai incluir inicialmente 43 bônus, dos quais dez do Brasil, explica Waqas Samad, chefe de produtos de indexação da Barclays Capital. Vão compor o Emerging Market Government Inflation-Linked Bond Benchmark Index três índice regionais: um para América Latina, outro para Leste Europeu, Oriente Médio e Ásia e outro para a Ásia. Na América Latina, que tem 90% de participação, estão incluídos o Brasil, com 66%, a Argentina, com 10%, o Chile, a Colômbia e o México. O índice do Leste Europeu, Oriente Médio e África reúne Turquia, Polônia e o já existente índice da África do Sul. O Ásia inclui de início somente a Coréia do Sul.

O índice brasileiro é composto pelas Notas do Tesouro Nacional da Série B (NTN-B), papéis vinculados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), com prazo de vencimento de um ano ou mais e de valor de mercado total de R$ 128 bilhões. Como critério de inclusão dos papéis foi considerado o valor total da emissão nas mãos do mercado, que tem de ser no mínimo de R$ 400 milhões. "É necessário também que os papéis tenham no mínimo três formadores de mercado além do Barclays", explica Samad. Não estão incluídos títulos de empresas ou bancos.

O Barclays tem sido um dos principais participantes na venda de papéis da dívida interna brasileira para investidores internacionais, que foi fortemente impulsionada pela isenção de Imposto de Renda, concedida em fevereiro de 2006. Os estrangeiros tendem a negociar mais papéis no mercado secundário, visto que não têm estímulos tributários para não mexer nos títulos em suas carteiras, como os investidores brasileiros, que pagam mais IR e Imposto sobre Operações Financeiras se girarem com mais freqüência seus papéis.

Os ganhos dos estrangeiros no Brasil têm sido impulsionados pelas taxas de juros elevadas em reais em relação às praticadas no mercado internacional e também pela valorização da moeda brasileira contra o dólar. "Hoje, o Brasil é o país que possui mais liquidez nos seus papéis entre os países emergentes e atrai interesse crescente do investidor estratégico internacional", diz Diego Gradowczyk, diretor-administrativo do Barclays e chefe de prêmios de risco de crédito da América Latina. Para ele, os índices vão ajudar a desenvolver mais os mercados locais dos países emergentes, ao criar uma referência para gestores em todo o mundo.

Segundo Paulo Vaz, diretor de tesouraria do Unibanco, os estrangeiros detém de 4,5% da dívida interna brasileira, sendo que a participação é maior nos papéis prefixados (8%) e títulos vinculados a índice de preços (5%). Segundo o Tesouro Nacional, o investidor externo que compra papéis da dívida interna é na sua maioria (65%) de perfil "estável", principalmente fundos de pensão e fundos mútuos.

Os índices do Barclays poderão ser usados na moeda local de cada um dos países pelos investidores locais, com destaque para os fundos de pensão e previdência no Brasil. O banco também vai fornecer os mesmos índices em dólar com duas opções para os investidores externos: com hedge de câmbio ou sem hedge. A idéia é dar uma referência para os estrangeiros que compram dívida em moeda local dos emergentes para ficar com o risco cambial contra o dólar e também para aqueles que fazem o investimento, mas se protegem contra oscilações no câmbio por meio de operações no mercado futuro.

O Barclays Capital também vai oferecer índices personalizados aos investidores e proverá suporte e dados analíticos para esses índices através de protocolos baseados na Web e outros protocolos de comércio eletrônico. Vai oferecer também derivativos vinculados aos índices.

Os índices do Barclays são calculados diariamente e usam ajustes-padrão e calendários de mercado que são mais apropriados para os investidores internacionais. Todo o mês serão feitos ajustes do peso dos títulos e dos países no índice geral.

Ralph Segreti conta que o índice de títulos indexados à inflação dos países desenvolvidos feito pelo Barclays é hoje grande referência internacional para os investidores e possui valor de mercado de US$ 1,2 trilhão.

O Barclays Capital é líder entre os bancos de investimento no setor de produtos vinculados à inflação, inclusive derivativos, e fica entre os principais formadores de mercado para esses papéis. Na Europa, o Barclays Capital foi a principal administradora das primeiras emissões de títulos do governo francês vinculados à inflação francesa e à inflação da zona do euro. O Barclays tem ativos de US$ 2,3 trilhões.