Título: CME usa país para expansão internacional
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2007, Finanças, p. C9

Bloomberg News Craig Donohue, excecutivo-chefe do CME: mercado financeiro desenvolvido O mais novo sócio da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) vê o Brasil como uma peça-chave para um ambicioso projeto de expansão internacional e acredita que o país oferece vantagens que ainda não são encontradas em outros mercados emergentes que crescem rapidamente, como a China e a Índia.

"O Brasil é importante para nós porque tem um mercado financeiro bem desenvolvido e vários mercados de derivativos estabelecidos e razoavelmente maduros", disse ao Valor o executivo-chefe do CME Group, Craig Donohue. "A economia da China é gigantesca, mas os mercados ainda estão num estágio incipiente de desenvolvimento."

O grupo foi criado em julho a partir da combinação da Bolsa Mercantil de Chicago com a Chicago Board of Trade (CBOT) e anunciou nesta semana a intenção de adquirir 10% das ações da BM&F, que em troca terá 2% do capital do CME. O valor da transação é calculado em R$ 1,3 bilhão, cerca de US$ 700 milhões.

Donohue disse que as negociações com a BM&F se iniciaram em maio, quando executivos da bolsa brasileira visitaram Chicago e outras cidades americanas com uma delegação de 19 deputados e senadores. Na época, a união das bolsas de Chicago ainda não fora sacramentada e a abertura do capital da BM&F era apenas uma idéia.

Para entrar na BM&F, o CME Group concordou em pagar o equivalente a mais de dez vezes o valor do patrimônio da instituição, mas Donohue acha que fez um bom negócio. "Consideramos o preço justo, ou não teríamos feito", disse. "Obviamente, a transação é um sinal positivo para o mercado, ao mostrar que vamos ter agora uma parceria global entre as duas bolsas."

A BM&F está em processo de abertura do seu capital. Se tudo correr bem, ela deve lançar suas ações no mercado até o fim do ano, aproveitando a onda de euforia gerada pela valorização das ações no Brasil e pelo sucesso de transações recentes como a abertura do capital da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

A sociedade entre a BM&F e a Bolsa de Chicago levará a uma interligação dos sistemas eletrônicos usados para fazer negócios nas duas bolsas, facilitando a vida de clientes que operam nas duas instituições. O acordo também prevê desenvolvimento de novos produtos financeiros. Donohue tem interesse especial em instrumentos ligados a mercados agrícolas.

"Temos uma linha muito significativa de produtos nessa área, com enorme liquidez, e o Brasil é uma grande economia agrícola", disse o executivo, que preferiu não detalhar as iniciativas em estudo devido às restrições legais que impedem a divulgação de informações sobre a BM&F no período que antecede o lançamento de ações.

No terceiro trimestre deste ano, cujos resultados foram anunciados na quarta-feira, o CME Group alcançou um lucro de US$ 202 milhões, o dobro do registrado no mesmo período no ano passado. É quase três vezes o lucro que a BM&F teve nos primeiros seis meses deste ano.

O volume de negócios em bolsas como a BM&F e as de Chicago deu um salto com a recente turbulência nos mercados financeiros. A crise aumentou o interesse de investidores e especuladores pela proteção oferecida nos mercados de derivativos e pelas recompensas que apostas mais arriscadas proporcionam.

"Os derivativos reduzem riscos sistêmicos para os mercados financeiros", disse Donohue. "Tente imaginar qual teria sido impacto econômico para os investidores se eles não tivessem a habilidade de se proteger com esses instrumentos ou transferir os riscos de uma queda nas bolsas, uma desvalorização da moeda ou uma subida dos juros."

Para Donohue, o processo de consolidação das bolsas de valores em empresas de capital aberto com negócios em vários países é uma tendência mundial, mas nem todos serão engolidos pela onda. "Haverá bolsas que provavelmente continuarão independentes e outras farão associações como a que fizemos com a BM&F", afirmou o executivo.