Título: Cresce captação externa para financiar o campo
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2007, Agronegocio, p. B16

Em busca de reduzir o custo do dinheiro, e favorecido pela elevada liquidez nos mercados financeiros globais, o setor de agronegócios tem provocado um forte aumento na demanda por captação de recursos no exterior. Tradings, cooperativas e produtores rurais têm sofisticado suas operações para aproveitar o bom momento de de queda na percepção de risco de crédito do país, a estabilidade da moeda e a demanda internacional por alimentos aquecida nos principais mercados.

Dados do Banco Central consolidados pelo Banco do Brasil mostram a ampliação do fluxo das operações para R$ 177,82 bilhões entre janeiro e agosto deste ano. Este volume significa um aumento de 4,7% em relação aos R$ 169,85 bilhões registrados em todo o ano de 2006. Nesse cálculo estão incluídas transações comerciais e financeiras em modalidades como Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) e operações de pré-pagamento para investimentos, internalização de recursos (Resolução nº 4131 do BC) e a chamada "63 Caipira".

As operações de financiamento externo ajudam a fixar margens de lucro, financiar e comercializar a produção de forma antecipada. Com isso, induz à adoção de mecanismos de proteção (hedge) cambial, o que evita o descasamento entre os contratos em dólar ou euro e a cotação do produto em real. O hedge é feito por contratos futuros em bolsas ou a termo, como o "Non-Deliverable Forward" (NDF), que garante uma taxa de câmbio futura para a moeda base do contrato.

"Há um interesse cada vez maior do capital estrangeiro pelo Brasil por causa da redução do riscos e pelo agronegócio em razão de nossa competitividade natural", analisa o diretor de Agronegócios do BB, José Carlos Vaz. Mas o executivo alerta para a necessidade de "casar" as operações de captação externa com hedge de preços e de câmbio. "Não basta só um deles".

Embora encarada como uma operação complexa, que exige ainda mais organização e instrumentos de auditoria das atividades, a captação externa tem seduzido grandes produtores. Dono da Vanguarda do Brasil S.A, o mega-produtor Otaviano Pivetta, que planta 180 mil hectares de soja, algodão, milho e arroz em onze fazendas de Mato Grosso, afirma que o mecanismo "melhora a performance" da atividade, desde que bem gerenciado. "Há um deslocamento natural das operações com tradings para esses mecanismos", afirma Pivetta, cujo grupo estima faturar US$ 200 milhões neste ano.

O diretor financeiro da Vanguarda, Silas Lima, informa que o grupo já captou US$ 50 milhões para financiar a nova safra, que começa a ser plantada neste mês. Os recursos de pré-pagamento, por exemplo, são usados como capital de giro com juros bem mais baratos do que cobrado no Brasil. Com prazo de 12 a 42 meses, o dinheiro custa 8% ao ano. Nas tradings, os juros chegam a 15% e nos bancos, a 12%.

A garantia é uma Cédula de Produto Rural (CPR), cujo custo é reduzido em razão de um sistema de monitoramento feito por uma empresa externa desde o plantio até o embarque da produção. No total, as captações externas da Vanguarda significam dois terços dos recursos usados para movimentar as atividades.

Produtor de 30 mil hectares em Rondonópolis (MT), Bruno Goellner afirma que a captação externa responde por 60% da necessidade de financiamento, estimada em US$ 20 milhões por safra. Os juros ficam entre 8,5% e 9% ao ano. Segundo ele, 80% está "travada" em operações de NDF ou em bolsas. "Dá para evoluir ainda mais. Ficar na mão de tradings nunca mais", diz. Goellner avalia que será possível reduzir o custo do dinheiro com certificados socioambientais, auditoria de balanços, organização e gestão profissionalizada.

As tradings brasileiras confirmam a tendência de adoção dos mecanismos. Como os preços internacionais da commodities subiram, será preciso mais recursos. "As condições estão melhores e está aumentando a comercialização futura", diz o vice-presidente da Caramuru, Cesar Borges de Sousa.